Uaréview – Ato 5


1964 foi um dos piores momentos da história recente do país. Foi nesse ano que ocorreu um Golpe de Estado realizado pelos próprios militares e que mergulhou o Brasil em uma ditadura.


A partir daí, lentamente os militares baixaram uma série de decretos, chamados “Atos institucionais”, que visavam remover toda a liberdade de escolha do povo brasileiro. Mas o pior momento da história recente do Brasil foi, sem dúvida o Ato Institucional nº 5 (popularmente conhecido como AI-5), que escancarou a verdadeira face dos militares e impôs uma censura rígida à tudo o que era dito, escrito, filmado, desenhado ou encenado.

Os artistas e a imprensa foram os que mais sofreram com esse período. Sendo “porta-vozes” do povo e tendo como objetivo levar a verdade à população, foram privados de fazer isso, sob pena de violência física, tortura, prisão e principalmente, morte. O Ato 5 calou os artistas brasileiros por muito tempo.

No teatro, a estrutura de uma peça é dividida em 3 Atos. Podemos dizer que são o início, meio e fim, apesar dessa qualificação não ser exatamente correta. Independente do conceito, numa peça de 3 atos, Ato 1 é o começo, o Ato 3, o fim.

André Diniz (texto) e José Aguiar (Arte) trazem uma história curta mas significativa que mostra, de forma direta e sem ser didática, como os artistas sobreviveram aos 3 atos da peça da vida real que foi a ditadura militar, e como seguiram adiante com suas vidas para encenar novos atos.

A HQ segue um grupo teatral que sempre contou com peças de sucesso. Até que a ditadura militar entrou em cena, a censura passou a ser a lei e os artistas, jornalistas e formadores de opinião passaram a ser os vilões da história. Neste cenário, o grupo lida como pode com a situação, tentando sobreviver à ditadura e pagar as contas vivendo de sua arte – desde que as peças pudessem passar pelo crivo da censura. A história abrange 3 personagens: Juan, um dos fundadores do grupo de teatro, Gabriel, o diretor e Lorena, a estrela, focando as relações entre estes personagens. Em meio a isso, os três vão sobrevivendo aos espancamentos, ameaças e pressões dos militares. Uma HQ simples, mas que cumpre sua função de mostrar uma história cativante e que ecoa em nosso passado, mesmo que não o tenhamos vivido.

Claro, a HQ não é perfeita: É uma história curta, de apenas 30 páginas, o que faz com que muitos detalhes do pano de fundo, principalmente sobre a ditadura, se percam. Para a garotada de hoje, talvez a história não tenha a mesma ressonância emocional que para leitores mais maduros. Mesmo assim, o que precisa ser dito está lá e passa muito bem o recado.

Mas o tamanho da história e o texto sucinto não diminuem a obra, em absoluto; aliás, é bastante compreensível. Num país como o Brasil, onde não existe um verdadeiro mercado de quadrinhos, cada lançamento é uma aposta: com um texto mais simples e direto, a história não afasta o público comum e as poucas páginas ajudam a deixar o preço da revista mais acessível para o leitor ocasional. É um pequeno preço a se pagar (trocadilho não intencional) para se poder publicar HQs no Brasil.

É uma HQ muito bonita, com uma história simples, mas eficaz. Pode não ser a melhor história em quadrinhos já feita, mas creio que nem era preciso tanto. Nem era essa a pretensão, provavelmente. É simplesmente uma boa história. Daquelas que a gente lê até o fim, e quando termina, quer contar para alguém que leu. Não é uma história que vai mudar ou mundo ou a vida de alguém, mas é uma história honesta, sincera. E que vale a pena ser lida

Nota: 8,5

P.S.: Para quem tiver interesse em adquirir a HQ, passem na Itiban Comic Shop, onde vocês podem comprar Ato 5, não importa que canto do país vocês estejam, pois eles mandam pelo correio (inclusive, foi como recebi o meu – autografado pelo artista). A revista custa 5 Cruzeiros, ops, quero dizer, 5 Reais.

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