Além de números malditos e monstros de fumaça – Parte II
Buenas amigos do Uarévaa. Como vocês sabem, estou fazendo uma série de posts sobre Lost. Semana passada eu fiz um resumão da vida do trio de protagonistas, Jack, Kate e Sawyer.
Essa semana selecionei outros três personagens e vou tentar dar uma analisada na vida de cada um deles… O que eles tem a oferecer, de onde vieram e quais as conseqüências que A Ilha teve na vida dos mesmos.
Quem são e quem virão a ser.
Herói ou monstro? A base da personalidade do iraquiano é exatamente o quão dúbio ele pode ser. A priori, um torturador. Um homem capaz de fazer coisas que nenhum outro teria coragem. Porém possui um caráter nobre, e sempre luta pelo que é justo. O conflito entre quem é Sayid e o que ele faz é o grande trunfo do personagem. Capaz de matar ou morrer para defender os que ama, para se defender, para defender os seus ideais ou a verdade. Ou simplesmente para sobreviver. Sayid é ao mesmo tempo calmo e paranóico.
Ainda como oficial da guarda Republicana, no Iraque, Sayid, capturado por oficiais americanos, foi obrigado a torturar seu superior para coletar informações. Mesmo prometendo que jamais torturaria alguém novamente, acaba ficando preso a esta vida e as memórias de suas atrocidades. Sayid se apaixona por Nadia, uma prisioneira da guarda, a qual ele acaba por ajudar a escapar. Fez um serviço para a CIA, em troca da localização de Nadia. Ele convenceu seu amigo de infância Essam a aceitar a tarefa de homem-bomba para que assim pudesse descobrir muitos explosivos que haviam sido roubados. Quando Essam descobre a verdade, ele se suicida na frente de Sayid. Sayid adiou sua volta para a América, para cuidar do funeral do amigo, e por isso, entrou no vôo 815.
E é assim que ele chega a Ilha. Um conflito humano, responsável por inúmeras desgraças, mas preso a elas, com sua inocência maculada. Sayid se tornou um monstro, mesmo que seu caráter seja de um santo. Tornou-se vital para a sobrevivência de todos ali, nunca assumindo uma posição de liderança, mas sempre como a voz da razão em vários momentos. Sayid era o McGyver do grupo, além de ter uma percepção incrível sobre verdades e mentiras. A Ilha serviu como um catalisador para a redenção de todos os demônios do passado do iraquiano, e dali ele saiu um homem melhor.
De volta ao mundo real, Sayid reencontrou Nadia e por meses viveu com sua amada com muita felicidade. Mas, como diria Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas e Nadia foi morta alguns meses depois de se casar com Sayid. Cego de raiva e com sangue nos zóio, ele acaba se aliando ao próprio demônio, como ele mesmo se refere para poder proteger seus amigos fora da ilha, voltando a ser o monstro que ele se recusava a ser. A vida dele tem grandes loopings, mas acaba sendo levando-o de volta ao lado mais obscuro.
Sem mais pelo que lutar, quando todos os seus desejos de ser um homem digno e correto parecem se esvair entre seus dedos, ele vê no retorno a Ilha a sua tentativa final de tornar o mundo um lugar melhor e fazer sua vida fazer algum sentido. É se tornando o demônio que ele tanto renega que finalmente talvez eles se torne o salvador que ele gostaria de ser.
Todo programa precisa do seu alivio cômico. Mas, obviamente, em Lost até mesmo o alivio cômico é mais profundo do que costuma se ver por aí. Hurley é o ícone do bom humor, um personagem leve, mas nem por isso raso. Alias, leve metaforicamente, porque o gordatcho de leve só tem o humor. Hurley é responsável pelas cenas mais divertidas, sempre levando a vida numa nice.
Entretanto ele guarda em seu passado momentos extremamente trágicos – e mesmo estes são mostrados de forma divertida. Hugo foi abandonado pelo pai quando criança, e criado pela mãe. Ficou internado alguns anos em um hospital psiquiátrico por problemas de trauma. No hospital ele conheceu um homem que repetia continuamente os números 4 8 15 16 23 42. Depois de sair da clinica ele usa os números para apostar na loteria, e ganha, sozinho centenas de milhões de dólares. O que deveria ser a maior alegria para o dude acaba sendo na verdade o prenuncio de desgraças. Quando vai mostrar para a mãe a casa nova que comprou, a velha quebra o pé e a casa pega fogo. Seu avo morre numa conferencia de imprensa. A lanchonete que ele trabalhava, e que compra depois de ficar rico, é atingida por um meteoro. Ele é preso, confundido com um traficante de drogas.
Acreditando que é vitima de uma maldição, Hurley investiga a origem dos números que o paciente repetia, chegando até a Austrália, descobrindo que o homem que originalmente escutou os números, em uma transmissão de radio, também acreditava que os números eram malditos e se suicidou.
Em seu retorno para a América, acabou indo parar na Ilha. Ali ele se tornou o mais amigável dos sobreviventes. Amigo de todos, ele passou a questionar sua razão ao ver ali Dave, um paciente que estava no hospício com ele. Isso apenas para descobrirmos que este era apenas um amigo imaginário de Hurley, mesmo quando ainda não estava na ilha. Hurley mantém-se como a voz da sanidade em vários momentos, mesmo sendo o que mais se considera maluco entre eles. A maldição também o persegue quando ele descobre que os números malditos estão por todas as partes na ilha. Ele consegue superar o medo da maldição quando consertar uma Kombi antiga da Dharma, ligando-a segundos antes de bater contra pedras, em um momento de confiança, e fé em si mesmo.
Depois de sair da Ilha o gordinho viveu tranquilamente, até o dia que viu Charlie, aquele que veio a se tornar seu melhor amigo na ilha, e morreu nela, aparecendo para ele com uma mensagem.
Hurley voltou a questionar sua sanidade, retornando ao sanatório. Desde então tem visto regularmente os que morreram na ilha, e por fim, depois de muita insistência de Jack, e de quase ser morto, e salvo por Sayid, ele recebe o conselho de um personagem bastante influente (e que eu não vou entregar o spoiler) para finalmente se convencer a voltar para a Ilha.
Miserável pode ser a palavra perfeita para descrever a vida dele fora da Ilha de Lost. Locke, como ficou conhecido entre os sobreviventes do 815, foi colocado para adoção assim que nasceu renegado pela avó. Ele foi considerado um milagre, pois resistiu e sobreviveu a um nascimento prematuro e diversas doenças ainda bebê. Ainda criança ele parecia despertar a atenção de Richard Alpert, o “cara do delineador”, que o observou nascer, visitou-o ainda criança e ofereceu um estagio na fictícia Mittelos quando Locke era adolescente. Sua mãe verdadeira reapareceu quando Locke já era adulto, e disse que o careca era na verdade fruto de uma gestação imaculada. Obviamente ele não é bobo e colocou um detetive atrás da mãe, acabando por descobrir que ela possuía problemas mentais, e a existência de seu pai. Essa parte quase todo mundo conhece, mas quando reencontra o pai, John cria um vinculo com ele, até descobrir que o velho tem que fazer constantes sessões de hemodiálise. Locke não tem duvidas e trata de doar o seu rim para acabar com a aflição do pai. Santa ingenuidade.
Logo que acorda o nosso herói descobre que tudo havia sido planejado e Anthony, um verdadeiro Pai-no-Cu, havia deixado o filhote pra trás. E assim descobrimos que o aparecimento da mãe, assim como a aproximação do pai foi tudo parte de um plano para compadecer Locke e faze-lo doar seu rim. Mas a vida segue e o calvo conhece Helen, se apaixona, começa um namoro, se desliga da imagem do pai graças ao namoro e está lá, feliz da vida. Mas Anthony Cooper volta. Depois de fingir sua morte, ele conta que aplicou um golpe e precisa da ajuda do filhote para tirar a grana que roubou de uma conta. E como todo bom trouxa, lá vai Locke ajudar de novo. Acontece que Helen descobre a mutreta e manda o coitado passear, no dia em que ele ia pedi-la em casamento. Quando um rapaz aparece pedindo para que Locke o ajude a desmascarar seu pai, que está aplicando um golpe em sua mãe, Locke entra em conflito com Anthony e acaba sendo atirado de um edifício, sobrevive à queda, mas fica paralítico.
Depressivo depois de todas essas mazelas, ele vai para a Austrália a fim de encarar um desafio, mas acaba sendo negado a ele em sua chegada ao pais. Seu retorno a América foi no vôo 815.
Na ilha Locke recuperou os movimentos das pernas, numa das cenas mais surpreendentes da primeira temporada. Nesse novo ambiente o careca parece ter encontrado uma razão de viver, compreendendo o local como nenhum outro. Se a primeira impressão que temos dele é que um possível vilão devido a seus mistérios, com o tempo percebemos que ele é na verdade o maior “Obi-Wan” entre os sobreviventes. A sua cura devolveu a ele a Fé perdida – fé que vemos em todos os flashbacks nos quais o personagem sempre se vale da boa fé, e acaba se dando mal todas às vezes – e se agarra a essa fé, seja ela no crer que a ilha lhe pede coisas, na busca por uma misteriosa escotilha, no apertar de um botão ou em explodir um submarino.
As atitudes de Locke parecem sem sentido para os demais, principalmente para Jack. Mas John tem fá que ele está destinado a um futuro melhor. Porém sua fé é abalada mais de uma vez. E quanto mais longe ele fica de sua fé, mais perto fica de um destino infeliz.
O pobre homem que teve uma vida miserável e não tem mais razão para crer em nada precisa se apegar a sua fé para sobreviver.
Isso aí Uarevers… Semana que vem tem mais!
Até o próximo episódio.