Molecada criada a leite com pera e ovomaltino, esse texto não era pra vocês. Mas se tornou, porquê reflete um tempo que pra vocês é só história, mas que pra muito nerd saudoso que frequenta esse querido blog é uma página brilhante de um passado feliz. Hoje tudo é moleza, mas já se imaginou crescendo sem internet? Sem o seu canal só com desenhos animados e que, na verdade só tinham 5 canais na TV? Isso que se mudavam os canais num seletor que parecia uma matraca. Pra saber quais as músicas que estavam bombando, não se baixava de algum site, se ouvia no rádio. E, acredite (palavra de profissional da área) a música tocava conforme o pedido dos ouvintes. Música de sucesso era MESMO a mais pedida.
Enquanto isso, a TV de antigamente não era nada parecida com a sua MTV. Música? Só uns caras fazendo playback num programa aqui, outro acolá. Fora isso era no Globo de Ouro, um programa também de playbacks, mas com a apresentação da Isabela Garcia e no famigerado “Musical do Fantástico”, onde os artistas de sucesso, que coincidentemente estavam tocando na novela da globo daquela época, pagavam o mico de uma tentativa escrota de juntar sua música com uma historinha bisonha, que quase sempre não tinha nada a ver com a letra.
Ai vocêm me pergunta: “Ta, e dai?” E dai, incauto infante, que nessa época ocorreu a mudança. E foi com estardalhaço, como qualquer boa revolução tem de fazer. O que você conhece hoje como videoclip, campanha de marketing, essas coisas tão comuns vieram dai. Fora o impacto cultural gigantesco que permeou cada traço dos anos 80 e reverbera até agora na música pop . E foi apenas um cara de muito talento. E nada mais justo que hoje, dia 29/08/2008, no dia que ele completa 50 anos, explicar:
Se você sabe a diferença entre uma guitarra e um cabo de enxada, sabe que ele surgiu para o mundo no mega-sucesso Jacksons 5, grupo iniciado pelo seu pai Joseph, onde Michael cantava com seus irmãos Jackie, Tito, Jermaine e Marlon. Mesmo com 8 anos, o talento de Michael ja extrapolava não apenas o nível dos irmãos, mas tb o da maioria dos seus colegas de gravadora, a lendária Motown.
Duvida? Veja ai:
O molequinho cresceu, sua voz mudou e o cara continuou cantando muuuuuuuuuuito. Na verdade, cantava ainda melhor, e escrevia ainda melhor. E dançava ainda mais. Óbvio que o molequinho que havia conquistado a América a frente dos seus irmãos ia seguir carreira solo. Mas só isso seria pouco. Não basta apenas fazer um bom disco, sair na TV e tals. Tinha de juntar tudo e fazer algo grandioso. Ele tinha de dançar como… ele mesmo. E ele tinha de ter o melhor. Ele tinha de ter, na produção, o mago Quincy Jones. Foi então que a revolução começou com “Off the Wall”:
http://br.youtube.com/watch?v=4_hz2am90Hk
Reconheceu? Sim, a música do eterno Video Show. E não faça cara feia p/ os efeitos especiais que parecem coisa de Chaves e Chapolim. É assim hoje, mas na época era “massa véio”. A estratégia deu tão certo que esse disco foi o mais vendido album de black music até então, vendendo apenas em 80 (ano de lançamento) 25 milhões de cópias. Mais do que tudo q os Jacksons 5 haviam vendido. Mas tinha uma mãe no meio do caminho. Quando Michael estava ainda em turne de divulgação do “Off the Wall”, sua mãe pediu p/ ele voltar a gravar com seus irmãos, nem que fosse apenas mais um disco. Ele precisava de carregar um bando de aspones nas costas, num momento desses? Não. Mas ele fez disso uma oportunidade. Como a recepção a sua idéia de um video musical bem trabalhado tinha dado certo, ele resolveu investir um pouco mais. Junto dos irmãos ele podia arriscar e então chamou quem mais produzia efeitos especiais em 1981, a tão conhecida de nós todos Industrial Light and Magic. O resultado é embasbacante. O ápice dos efeitos especiais daquela época. Nunca, ninguém tinha feito algo parecido. Os efeitos transformaram os Jacksons em deuses que cuidavam do mundo. É muito p/sua cabeça? Então veja ai:
If you look around
The whole world is coming together now
Can you feel it,
Can you feel it,
Can you feel it?
Feel it in the air, the wind is taking it everywhere
Can you feel it,
Can you feel it,
Can you feel it?
Sucesso absoluto. Lembro de ver esse clip, quando eu era pequeno, até no TV Mulher. O disco vendeu horrores. Mas… cade o Michael? Esse disco dos Jacksosns saiu pela Epic, enquanto o Michael era contratado da CBS, mais tarde Sony. Então, apesar dele cantar ( e muito) no disco Triumph, ele não é creditado, nem apareceu no clip. O sucesso esvasiou um pouco sem o carisma de Michael. Mas a bomba ja havia sido depositada, armada, e a explosão viria a seguir.
Novembro de 1982. Para o lançamento oficial do seu novo album, Thriller, Michael chama o diretor Steve Baron para dirigir o clip do 1º single, “Billie Jean”. Mais um sucesso, mas era pouco para o que Michael queria. Ele pressionou a CBS até receber o diretor q ele queria, a verba que ele queria para fazer o que ele idealizou como o vídeo que ele queria. Ele pediu um milhão de dólares. A CBS deu 600 mil. Você acha pouco? Saiba que, se o disco fosse um fracasso, toda a verba investida na gravação, prensagem, distribuição e mais esses 600 mil seriam o suficiente para falir uma das maiores gravadoras do mundo. Era uma aposta e tanto. Michael pediu o diretor John Landis e seu parceiro de filmes como “Um lobisomem Americano em Londres” , Rick Baker. Foi então feito um curta-metragem com 14 minutos. Um suicídio comercial na época. Quem iria transmitir um vídeo musical tão grande? Isso era dito até o momento que se assistia o vídeo. Não era só um vídeo, era história. Confira:
http://br.youtube.com/watch?v=AtyJbIOZjS8
Ai o mundo era dele. Como se diz no tenis, Game – Set and Match. A aposta deu certo e Michael Jackson era o rei do pop. Agora deixo os dados históricos e falo como espectador. A Globo anunciou o vídeo por uma semana. Foi o ápice do Fantástico daquele dia e ainda hoje uma das maiores audiências do programa. Não havia a internet, o mercado de VHS engatinhava no Brasil e a única forma de ver um clip era pela TV, e se passasse. E todo mundo viu. No outro dia, não se falava em outra coisa. No ônibus, na escola, no mercado, no trabalho, todo mundo só falava no Michael. Todos os programas queriam capitalizar esse sucesso. Por meses a fio o Gugu colocava o clip de Thriler no seu Viva a Noite. Trapalhões fizeram sua paródia. As rádios tocavam Thriler sem parar. Foi um fenômeno que, até hoje, não se viu maior. E isso só no meu microcosmos de Curitiba. Todo esse frenesi aconteceu em escala global.
O que veio depois, todo mundo sabe. Megaturnês, megacontratos, megaescândalos e tals. Mas isso não importa aqui nem agora. Nesse singelo texto, só importa a música e a consequência. Por conta desse vídeo, Thriler é o album mais vendido do mundo até hoje. Pelo poder que os clips demostraram ter, a indústria abraçou esse formato. Por conta disso, a tentativa de um canal segmentado se tornou a potência MTV q conhecemos hoje. Todos, eu disse TODOS que fizeram e fazem música pop citam Michael como referência. Enfim, ele mudou o mundo. Isso, decididamente, não é pra qualquer um. Feliz 50 anos. Pra encerrar, as palavras de Vincent Price.
The midnight hour is close at hand
Creatures crawl in search of blood
To terrorize y’all’s neighborhood
And whosoever shall be found
Without the soul for getting down
Must stand and face the hounds of hell
And rot inside a corpse’s shell
The foulest stench is in the air
The funk of forty thousand years
And grizzly ghouls from every tomb
Are closing in to seal your doom
And though you fight to stay alive
Your body starts to shiver
for no mere mortal can resist
the evil of the thriller
P.S. by Freud: Bom, pela data citada no texto está obóvio que o “departamento de postagem da coluna dos leitores”, que estava dessa vez sob minha responsabilidade, perdeu o prazo. Espero que nem Michael, nem Modesti, nos processem por isso. Homenagem atrasada ainda é melhor que homenagem esquecida, hehehe…..