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Sala de Star

Olá uareviaanos perdidos por aqui, essa semana trago uma entrevista com um desenhista muito bom do Projeto F.a.r.r.a., o qual já comentei aqui antes, sendo chamado pelos integrantes do Projeto de Alex Ross Brasileiro: Diangello.

Começando pelo mais simples: quando você se interessou pela arte do desenho?

Cara, eu desenho desde que me entendo por gente, me lembro de ainda muito pequeno, 5 anos, meu pai me ralhando pq eu estava gastando papel “rabiscando porcarias”, mas ele mesmo piorou as coisas qdo em 1979, senão me engano, porque eu acabara de aprender a ler comprou uma revista em quadrinhos pra mim chamada Heróis da TV, tinha o Thor na capa amarela em formatinho, nunca me esqueço. Nesta época eu também era vidrado nuns desenhos animados que passavam na TV: o Homem-Aranha, Os Quatro Fantásticos e, depois que eu descobri que podia “rabiscar” aqueles heróis, tomei muito cascudo por gastar papel a toa, hehehe!

E como é seu método de trabalho? Demora muito para terminar um projeto?

Putz, ai você me pegou. O método depende muito de que tipo de ilustração eu tenho que fazer. Mas basicamente ele vai se resumir a fazer um rascunho, bem tosco da idéia, ai eu vou a procura de referencias fotográficas que me possam dar idéias, então pego livros de anatomia, referências de pinturas, se for o caso, e muitas, mas, muitas revistas pra me aclimatar. Se for pintura vou pro computador, muitas vezes sem saber até onde a coisa vai e, no geral, não acaba como eu queria, mas melhor do que eu achei que poderia fazer. É um jogo de paciência, as vezes fico oito, dez, doze horas pra terminar uma pintura, principalmente depois que meu tablet quebrou, eu tenho lutado feio com mouses e afins. Não me atenho a um só programa, uso o Photoshop, passo para o Opencanvas, de vez enquando uso o Alias Sketchbook… e vàrias vezes, pinto a mão algumas texturas e vou adicionando, até que eu ache que cheguei no ponto, ou quando meu prazo acabar.

Agora estou trabalhando basicamente na Graphic Novel “Urubu Ataca á Noite” do Leo Vidal, e procuro fazer de 4 a 5 paginas arte finalizadas por semana, trabalhando de segunda a sexta-feira. Ele me passa o roteiro com alguns rascunhos feitos por ele, eu faço meu trabalho em cima disto, costumo levar de 2 a 3 dias rascunhando estas 5 páginas, procuro referências fotográficas, faço os cálculos de perspectiva, ai então eu descobri um método que tem me dado condições de organizar-me no prazo. Eu trabalho esta página o máximo até que ela fique, além de todas as questões técnicas envolvidas, com um “belo aspecto gráfico” então a escaneio, e amplio no tamanho padrão A3, e desta base eu passo a tinta e detalho o desenho. Ufa, pra terminar a tinta em cada página eu levo mais ou menos 7 horas. Agora imaginem o “Urubu…” tem 68 páginas, várias pinups, vai ser dividido em capítulos que terão capas, ufa coisa pra caramba…

Mas um adendo, isto seria impossível se não existisse Freddie Mercury e o Queen, Guns ‘n’ Roses, e os velhos guitarristas dos anos sessenta e setenta, eu ligo o som e fico zen até o fim da página.

Alguns no F.A.R.R.A. brincam que você é o Alex Ross brasileiro. De alguma forma ele lhe inspira?

Além de me fazer trabalhar mais o visual, pra não decepcionar o pessoal, sei lá…
Cara, vou te contar que isto virou uma piada em casa, porque minha mulher não sabia quem era Alex Ross, e eu fui explicar, mostrei alguns comics que eu tenho dele, Kingdom Come, Marvels, e o Batman War Crime e pior, disse a ela que havia visto na internet uma ilustração dele sendo vendida por 7 mil dólares… Alguns dias depois eu estava fazendo uma ilustração pra capa de um quadrinho do paranaense Celso Dias, junto a duas ilustrações que eram para o Farrazine 3, e pra o que eu queria fazer, eu precisaria de um tablet, e o meu estava quebrado, a caneta parou de funcionar, e eu estava brigando com o mouse, que durante o processo acabou parando, até hoje não entendi o porque, então precisei sair as pressas para comprar outro, quando voltei para casa, trazia um mouse muito inferior ao que eu tinha em casa, minha mulher logo perguntou o por que e, eu envergonhado disse que o mesmo tipo de mouse que tínhamos antes estava muito caro, além de ser vendido em conjunto com o teclado… Ela virou de lado, saindo da sala e falou: “Alex Ross Brasileiro, hum!”, hahaha!! Desde então sempre que ela pergunta quanto eu estou ganhando ela repete a frase e sai rindo, hehehe!

Falando tecnicamente, quando descobri que pintava, melhor que desenhava, minha maior preocupação sempre foi fazer algo bem distante do que ele faz, sempre tomo por parâmetro o que ele faz, e procuro me afastar o mais possível, pq tentar imitar, ou trabalhar no mesmo patamar do cara é suicídio criativo. No entanto saber que a galera usa ele como referência quando se referem ao meu trabalho me faz muito feliz e me faz ver o tamanho da responsabilidade minha com relação a qualidade do que eu faço.

Para um desenhista o que é, em sua opinião, mais importante?

A perseverança. Claro que poderia citar muitos outros quesitos, mas a perseverança, com certeza é o que te vai levar à frente. Durante alguns anos de minha vida, tive que me afastar dos comics. Não existia mercado para se trabalhar se vc não morasse nos centros corretos, existia uma grande gama de editores pilantras que te faziam trabalhar como louco e não te pagavam. Quando tinha dezesseis ou dezessete anos, eu trabalhava e estudava, e fiquei desempregado, com a prestação do colégio para pagar resolvi usar o talento que eu tinha e fui até uma confecção grande que havia em minha cidade, com uma pasta de desenhos nas mãos. O dono me encomendou varias ilustrações e pinturas que ele iria usar em suas camisetas. Peguei grana emprestada, comprei material, trabalhei durante um mês, mais ou menos, feito um louco, e até hoje não vi um centavo. Parei depois disto por anos.

Mas não é por isto que falo também da perseverança. Sou músico também, toco violino, e sou um guitarrista por hobbie. Quando você quer aprender a tocar um instrumento musical, vc passa horas, repetindo um mesmo movimento, lendo e relendo uma mesma linha musical até que ela fique perfeita, com o desenho tem que ser da mesma forma. Morro de inveja daqueles artistas que nascem com um dom puro, que não precisa de retoques. Mas pra te falar a verdade acho que pra trabalhar na indústria do entretenimento, quadrinhos, ilustrações, games, filmes, animações, porque o desenho não se trata apenas de comics, todas as partes da industria do entretenimento necessitam dos artistas do lápis, estes “dotados” se não tiverem a disciplina e um “treinamento musical” não se criam. O desenhista tem que ser cabeça dura e não desistir nunca, porque o mercado é difícil a profissão é difícil. Mas água mole em pedra dura…

Qual o seu trabalho no mundo não virtual?

Funcionário púbico estadual.

Como você lida com a coisa de conciliar vida real e vida virtual, principalmente fazendo trabalhos artísticos nesse segundo mundo?

Na verdade o que ocorre hoje em dia é que o Edson praticamente não existe mais. Eu sou mais o DiAngello do que outra coisa( pareço o Pelé falando, né). Eu almoço e janto ou em frente ao computador ou à prancheta. Um tempo atrás assisti aos extras do DVD do Demolidor, e um dos desenhistas, não me lembro quem agora, dizia que ele praticamente não tinha visto os filhos crescerem apesar de seu estúdio ficar em casa. Que pra ser uma artista deveria estar preparado para negligenciar até família, é mais ou menos isto que acontece.

Quais futuros projetos você tem atualmente em mente? Pretende seguir como desenhista?

Bem, nós estamos trabalhando na Graphic do Urubu, que deve terminar em março, depois disso, tenho uma animação que vai fazer parte de um curta-metragem, tem uma série que vai estrear no farrazine mensalmente, enquanto isto vou soltar as amarras do meu agente pra ele arrumar algo legal pra eu fazer, pra levantar uma grana. Estamos montando um estúdio pra trabalhar principalmente com quadrinhos autorais para o mercado europeu, alias, o pessoal que souber pintar, por favor estamos precisando de pintores talentosos. Pretendo tb, juntos a uns amigos queridos, que a internet me deu, finalizar um roteiro o qual venho trabalhando a 4 anos, sobre os heróis brasileiros da segunda guerra, este sim, eu pretendo que seja o projeto da minha vida. Quanto a parar tudo e viver só do desenho, ainda não sei, tenho mais de trinta e você uma garotada trabalhando com quadrinhos muito cedo, eu acho que já passei desta fase, e não tenho mais disposição e vontade pra desenhar qualquer coisa. Antes eu era louco pra trabalhar numa Marvel, nunca gostei da DC, mas agora só leio algo que venha com o selo Vertigo, então não sei, odiaria ficar meses desenhando meu herói preferido numa história insonsa, preciso adicionar algo ao personagem, ou o contrário, só pelo dinheiro, não rolaria, (pelo amor de Deus não deixem minha mulher ler uma coisa desta) é o caso do “Urubu” ele tem uma historia muito adulta, as vezes cômica e as vezes muito dura, e a história de um vizinho ou de alguém que vc possa assistir na sua TV no telejornal, acho um grande personagem de um grande autor.

A pergunta de praxe: o que você diria para aqueles que querem iniciar-se nos desenhos?

Que sejam perseverantes e ousados. E leiam muuuuuito, principalmente livros técnicos. Livros sobre anatomia, sobre arquitetura, sobre quadrinhos, leiam quadrinhos, muitos quadrinhos, não só aquela bela coleção de um personagem ou um grupo só, leiam as linhas adultas, quadrinhos europeu, você tem que conhecer bem a sua área de atuação, seja ela qual for. Procurem tb as biografias de seus desenhistas favoritos, dos que vc tb não gosta, isto vai te ensinar muita coisa. E, se querem ficar ricos, vão estudar outra coisa, mas se fariam um trabalho exaustivo durante horas por dia, mesmo que não fossem pagos para isto, só pelo prazer da criação, perseverem, tenham disciplina e estudem como se fosse uma aula de música. Repetição sempre. Faça e refaça aquela bendita unha do pé 100, 200 vezes até que ela fique perfeita, e depois comece outra vez, pq com certeza ela ainda pode ficar melhor. E outra coisa, não tenha pressa em fazer a sua arte, tenha sempre em mente que a Mona Lisa demorou 3 anos e meio pra ficar pronta. É o que eu penso quando estou quase ficando louco.

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