Olá meus caros, como vocês estão? Essa semana trago um pouco mais sobre cultura literária para vocês. Nesta edição da coluna entrevisto o escritor, educador, designer e ilustrator
Octavio Aragão sobre literatura, história em quadrinhos e ficção científica [vulgos sci-fi e FC] e um dos textos mais interessantes do Brasil, em minha humilde opinião.
Para começar, quais autores de sci-fi mais lhe inspiraram?
Essa é fácil.
Ray Bradbury foi meu “pai espiritual” na ficção científica, mas houve outros. Passei anos escrevendo redações de colégio baseadas em contos de
Poe, como Ligéia, Os Dentes de Berenice e Descendo no Maëlstrom. Tudo lixo, claro. Antes ainda, havia
Monteiro Lobato e A Chave do Tamanho. Sim, li toda a obra infanto-juvenil do mestre, mas meu preferido sempre foi aquele romance onde Emília reformata a humanidade.
Foi a partir deles que lhe veio à vontade de escrever esse gênero de literatura?
Poe e Lobato não são considerados *FC*, mas foram minhas primeiras grandes influências estritamente literárias e, se escrevo dentro do gênero, devo isso a eles. Hoje as coisas mudaram bastante e tenho apreciado escritores como
Dan Simmons, China Miéville e Harry Turtledove.
Em sua opinião como está o mercado editorial de ficção cientifica no Brasil atualmente?
Creio que está melhorando. Mal posso esperar pelo surgimento do TaikoDom, jogo multimídia construído sobre os textos de
Gérson Lodi-Ribeiro. Mas, além disso, ocorre um fenômeno que eu e
Fábio Fernandes esperávamos desde 1998: aqueles que estão chegando aos cargos de comando das editoras brasileiras são, finalmente, de nossa geração ou mais novos. Foram garotos criados com os conceitos de FC na cabeça.
Para você quais os autores que mais se destacam nacionalmente no gênero?
Há um grupo de qualidade incontestável dentro da FC nacional – destaco Bráulio Tavares, André Carneiro, Gérson Lodi-Ribeiro, Carlos Orsi, Max Mallmann e Fábio Fernandes – que vem trabalhando há décadas (no caso de André Caneiro, quase meio século) e maturando o estilo a um ponto de altíssima qualidade. Mas há uma nova geração despontando com trabalhos dignos de nota. Autores como Flávio Medeiros, Jorge Moreira Nunes, Osíris Reis, Gabriel Boz, Ana Cristina Rodrigues e Osmarco Valladão darão muito o que falar.
Essa geração – que nem é tão nova assim – tem um saudável descompromisso com os que vieram antes, não se sentem na obrigação de provar nada a ninguém. Eles apenas produzem e pronto. Com força, peso e distorção.
Uma das suas últimas obras, o livro A Mão que Cria, tem muita inspiração nos quadrinhos. Como você vê esse diálogo entre quadrinhos, literatura e até o cinema? Até onde o público de uma mídia pode ir para a outra por influência dessas junções?
Na verdade, sou um quadrinista que publica textos sem imagem, apesar de desenhar profissionalmente desde 1984. Não consigo separar as mídias, acredita? Para mim, cinema é um tipo de literatura, assim como as HQs e até certos games.
Estou apostando todas as minhas fichas no futuro de uma sociedade de consumo multimidiática, onde livros, álbuns, sites, games, filmes e remixes de todas essas formas de comunicação interajam. Espero que até a gramática se adapte a isso, criando verbos novos como “vler” ou “ouvler”. E a internet é a ferramenta indispensável para essa transformação.
Em 2007, você criou o Intemblog para escrever histórias novas no mundo virtual sobre o Universo Intempol, pretende continuar esse ano postando novas aventuras?
Rapaz, tenho tantas coisas penduradas para terminar até 2009, que acredito numas férias para a Intempol. Ou não… Talvez apareçam novidades mais cedo do que os críticos esperam. Na verdade, essa é a alma da Intempol: todas as vezes em que parecia que já tinha se esgotado, pumba!, algo novo despontava no cronômetro.
Neste momento já disse tudo que queria a respeito da série. Escrevi quatro histórias, duas publicadas em 1998 e as outras em 2007/08. Dez anos para fechar um ciclo. É hora de tentar outras paragens, mas sabe como é, velhos hábitos…
Em quais projetos você está envolvido atualmente?
Escrevo a continuação de A Mão Que Cria, que, como todo mundo que leu o primeiro livro sabe, chama-se A Mão Que Pune. Pesquiso para o próximo romance, cujo título provisório é O Piscar. Envolve física quântica e muito material que entorta mentes. Tem uns continhos voando por aí, prestes a ganhar publicação em antologias no Brasil ou em Portugal.
Mas a grande surpresa deve aparecer em 2009, e creio que o povo vai gostar quando botar os olhos no produto final. É um projeto no qual venho trabalhando há um ano em total segredo – nem os amigos mais chegados sabem – e que vai revelar um mega-talento ao mercado.
Pode deixar algum recado pros nossos leitores?
Olha, o que posso dizer é: não gaste munição a toa. Mire antes de atirar. Tenho certeza que a maioria dos grandes talentos do Brasil desistem antes da maturidade por pura impaciência de amadurecer. Quando sentir que está pronto, não perca tempo reclamando. Vá em frente e mate o monstro. Se você der azar e morrer no processo, ressuscite e ataque outra vez. Abçs.
Por Jack Starman
PS: Um livro que não foi comentado na entrevista, mas que indico do Octavio é uma publicação virtual da Mojo Books:
Quadrophenia
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