“A mais forte e antiga emoção da humanidade é o medo, e o medo mais forte e antigo é o medo do desconhecido”
H.P. Lovecraft
Uma das coisas mais fascinantes do ser humano é sua dubiedade, algo que já comentei mais de uma vez por aqui. Ao mesmo tempo que o ser humano tem um medo natural do desconhecido, é fascinado por ele e vai, eventualmente, buscá-lo. Mas o que acontece quando aquilo que descobrimos contradiz tudo aquilo no qual acreditamos durante toda a vida? Quando descobrimos que a verdade é algo que vai muito além do que poderíamos imaginar, é possível voltar a viver uma vida normal? Essas são questões que vem com o ser humano há muito tempo, e ganham cada vez mais relevância à medida que certos mitos e superstições vão sendo derrubados por novas descobertas, mas também à medida que a ciência vai descobrindo cada vez mais que sabe cada vez menos sobre a vida e o universo.
O Geólogo e professor da Universidade de Miskatonic, Willian Dryer, encontra-se nesta posição ao fazer uma expedição à Antártida. Lá, ele encontra antigas ruínas e formas de vida completamente desconhecidas da ciência e que não podem ser classificados como plantas ou animais. E o que se segue a partir daí pode mudar toda a nossa compreensão da realidade.
Esta é a premissa básica de Nas Montanhas da Loucura, escrita por um dos pais do medo, H.P. Lovecraft (e que, claro, preferi discorrer o mínimo possível para não estragar a futura leitura) e publicada originalmente de forma seriada na revista pulp Astounding Stories. Nas Montanhas da Loucura é um dos livros de Lovecraft que lida/menciona a mitologia relacionada aos mitos do Cthulhu que, para quem não sabe, se relaciona aos chamados “Grandes Antigos”, criaturas cósmicas que existem/existiram desde antes da humanidade.
Apesar de não ser a primeira história onde os Mitos do Chtulhu são citados, Nas Montanhas da Loucura presta grande contribuição a essa mitologia por ser a obra que apresenta, pela primeira vez, uma explicação científica e “natural” para a origem destes seres e dos elementos e aspectos a eles atribuídos, inclusive se inspirando em descobertas recentes (à época) para justificar a história, valendo-se de termos e descobertas científicas reais.
Nas Montanhas da Loucura é narrado em primeira pessoa e, como é bastante comum nas obras do autor, tem como ponto forte as descrições e a atmosfera criada para a história. Atualmente, pode ser encontrada no Brasil em um volume recente pela editora Iluminuras, que traz ainda mais três contos do autor: A Casa Temida, Sonhos na Casa Assombrada (que foi adaptado em um episódio da série Masters of Horror) e O Depoimento de Randolph Carter. Um clássico altamente recomendável para quem quer conhecer a obra do autor e para fãs de terror.
– The Nameless City é considerado a primeira história a abordar os mitos do Cthulhu;
– Nas Montanhas da Loucura foi originalmente rejeitada pela revista Weird Tales (revista que já tinha publicado contos de Lovecraft antes);
– A revista Astounding Stories, que trouxe pela primeira vez Nas Montanhas da Loucura é a revista do gênero de maior duração, existindo até hoje, mas agora com o nome de Analog Science Fiction and Fact;
– Muita gente não sabe, mas Nas Montanhas da Loucura tem duas “sequências” não escritas por Lovecraft e produzidas após sua morte: A Colder War, de 1997 e escrito por Charles Stross que mistura a Guerra Fria com os Mitos do Cthulhu e mostra as conseqüências das descobertas feitas em Nas Montanhas da Loucura e Hive, publicado em 2005 e escrito por Tim Curran que, além de trazer muitas liberdades criativas em relação ao trabalho de Lovecraft, mostra uma nova expedição à Antártida agora que o local da primeira expedição está em degelo;
– Os mitos relacionados aos grandes antigos foram cunhados de “Mitos de Cthulhu” após a morte de Lovecraft, por um amigo. Apesar do Cthulhu não ser a criatura principal do panteão de “Deuses” de Lovecraft, é na história “The Call of Cthulhu” que esta mitologia é explorada de forma mais abrangente.