Uaréva! Uaréview Uaréview: O Doutrinador

Uaréview: O Doutrinador


Sinopse: Um vigilante mascarado surge para atacar a impunidade que permite que políticos e donos de empreiteiras enriqueçam às custas da miséria e do trabalho da população brasileira. A história do homem por trás do disfarce de “Doutrinador” envolve uma jornada pessoal de vingança na qual um agente traumatizado decide fazer justiça com as próprias mãos.

Desde que Charles Bronson buscou vingança em Desejo de Matar uma infinidade de copiadores dele foram surgindo em todas as mídias, tendo na cultura pop atual, provavelmente, como maior expoente o Justiceiro da Marvel Comics. Era natural que no Brasil versões desse ideal enchessem as histórias em quadrinhos locais, a surpresa está em chegar as telas do cinema.

O Doutrinador é um filme que se esforça em espelhar o modus operandi do gênero super anti-herói numa quase devoção seja na estética, poses, falas ou temáticas que aborda.

Se Frank Castle mira sua arma para a cabeça de criminosos, Miguel Montessant, o protagonista aqui, escolhe os políticos corruptos como alvo de sua vingança pela morte de sua filha por falta de atendimento hospitalar, em virtude do sucateamento por conta da corrupção.

Tecnicamente, o diretor Gustavo Bonafé (Chocante) faz uma direção até competente para o que tem em mãos e tenta ao máximo caprichar nas cenas de luta, contudo, a cara de televisão do filme deixa um tom desgostoso ao projeto. São diálogos mecânicos, personagens unidimensionais, caricatos, situações sem profundidade, um grave problema de verossimilhança em alguns momentos e de cronologia, principalmente com o processo eleitoral existente na trama. Enfim, uma tentativa de ser mais do que é nos jogando personagens e acontecimentos tão rápidos que não nos dá tempo nem de se criar empatia pelos mesmos e seus dramas. E, o filme não responde uma das maiores duvidas que tinha desde que conheci esse personagem: por que ele tem esse nome? Não vi em nenhum momento, a não ser que tenha me passado batido, alguém dizer o por que a população passou a chamá-lo assim, só que estava chamando.

O roteiro condensa em aproximadamente uma hora e meia algo que merecia pelo menos duas horas para ser melhor trabalhado ou uma temporada inteira de um seriado, que, inclusive, o personagem ganhará esse ano.

Apesar de seus defeitos, aplaudo a ousadia de se fazer um filme baseado em quadrinhos e, ainda mais, com um teor de aventura urbana num mercado cinematográfico tão saturado de mais do mesmo e que é tão difícil inserir temáticas diferentes. Uma pena não corresponder a expectativa, porém, é um primeiro passo e quem sabe o primeiro degrau para outras obras do mesmo estilo e com maior qualidade.

Nota: 5,0

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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