Demorou, mas chegou. Para quem não tá acompanhando, nas últimas semanas fiz uma lista com 10 séries que perderam seu protagonista. A ideia inicial é que fosse uma lista simples, como essas que vemos todos os dias nos mais variados sites. Mas acabei de estendendo logo de início, com a vontade de discorrer sobre o programa em si, os motivos pela saída dos atores, o impacto que essas saídas tiveram na trama, os tramites da vida real, e por aí vai. Logo, devido a minha prolixidade escrita, a lista virou uma sequencia de 10 posts falando mais profundamente sobre cada seriado.
Para encerrar então a lista, escolhi uma série que perdeu seu protagonista simplesmente porque ele se tornou um dos maiores astros de Hollywood.
Como vou falar sobre coisas que acontecem muito à frente em todas as séries, já deixo avisado que é impossível evitar os SPOILERS.
Nº 1 – The Office
The Office estreou nos Estados Unidos em 2005, e nasceu como uma versão americana para a série homônima britânica, estrelada por Ricky Gervais. O papel principal na adaptação estadunidense ficou a cargo do ator Steve Carell.
Carell, quando começou a protagonizar a série, não tinha uma carreira muito extensa no cinema. Apesar de ter feito papéis que até hoje são lembrados, como o Brick de O Âncora e sua participação incrível como Evan Baxter em Todo Poderoso, o comediante estava relegado a papéis coadjuvantes – mesmo que roubasse a cena do filme em que estivesse.
A trama de The Office é um mockumentary – um falso documentário – que mostra o dia a dia de um escritório de uma fábrica de papel chamada Dunder Mifflin, situada na Pensilvânia. Assim, o foco são os funcionários da firma, capitaneados pelo gerente Michael Scott, o papel de Carell. Sob sua supervisão trabalham Dwight (Rainn Wilson), Jim (John Krasinski), Pam (Jenna Fischer), e Ryan (B.J. Novak). Esse grupo forma o elenco principal da série, com outros personagens coadjuvantes como elenco recorrente.
Michael é retratado como um cara completamente sem noção de nada. Sempre procurando provar para os produtores do falso documentário que ele dirige um escritório feliz e animado, o gerente sempre toma decisões bizarras e busca animar sua equipe com as técnicas mais constrangedoras possíveis. Michael Scott tem a certeza que é o melhor amigo de todos os funcionários da sua equipe – o que obviamente está bem distante da realidade, apesar do que diz Dwight, seu assistente e puxa saco pessoal.
Carell não foi a primeira escolha para o papel. Paul Giamatti foi convidado, mas recusou. Outros nomes considerados foram de Martin Short, Hank Azaria e Bob Odenkirk. Mas o contrato foi mesmo assinado com Steve Carell, vindo então do elenco do The Daily Show com Jon Stewart.
A imprensa do Tio Sam apostou muito contra o programa. Previam que ela seria mais um remake fracassado de série inglesa, como tantas outras o foram antes. Essas estimativas pioravam ainda, com as reações mistas aos episódios. A principal crítica? Steve Carell era considerado cartunesco demais para uma série como aquela. Ele não fazia rir como uma série normal de comédia, mas causava risos desconfortáveis de incômodo pelas situações em que se envolvia.
Bem, eles estavam errados.
Esse foi o trunfo de The Office. Ao extrair riso do desconforto, ela se mostrou a mais original comédia da NBC em anos. E foi essa originalidade e estranhamento do público que a tornou cult e muito bem recebida com o passar das temporadas.
E dessa forma, cenas antológicas como essa nos foram brindadas.
A segunda temporada marca a entrada de Ed Helms, que depois viria a estrelar filmes como a franquia Se Beber Não Case, a continuação tardia de Férias Frustradas e o recente Te Peguei. O ator, na época ainda pouco conhecido, fazia o papel de Andy Bernard.
Ao chegar à sétima temporada, começaram as especulações de que aquele seria o ultimo ano de Carell em frente ao humorístico. A confirmação veio pouco tempo depois, e o ator afirmou ao Access Hollywood que seu contrato sempre havia sido para sete temporadas, e que era chegada a hora de Michael Scott partir. Carell sentia que era a hora de deixar o elenco, antes que ele ficasse acomodado demais, que era hora de tentar novas coisas. A carreira dele no cinema ia de vento em popa. O Virgem de Quarenta Anos, Pequena Miss Sunshine, a continuação de Todo Poderoso, na qual ele se tornou o protagonista no lugar de Jim Carrey, o reboot de Agente 86, Meu Malvado Favorito… Steve Carell estava no auge, um dos atores de comédia mais requisitados do momento no cinema, e, claro, enchendo os cofres de grana. Totalmente justificável que ele não quisesse mais ficar preso ao seriado, depois de longos sete anos.
A saída dele se deu três episódios antes do encerramento da temporada. Na série, o personagem deixa a Pensilvânia e se muda para outro estado.
Quem entra temporariamente em The Office é Will Ferrell. Ele participa de quatro episódios, como o novo gerente, Deangelo Vickers, que chega para substituir Michael Scott. Ainda mais incompetente que Scott, Vickers é considerado pela equipe um homem infantil, sexista e estúpido demais para exercer a função. O pedido de participar da série veio do próprio Ferrell, fã do programa.
A produção havia decidido testar atores para assumir o papel principal em The Office, e Ferrell foi o primeiro da lista. Porém sua participação acabou se resumindo realmente apenas a esses quatro episódios. Durante uma partida de basquete no estoque da empresa, ele enterra uma bola na cesta, que cai sobre ele, causando traumatismo craniano. Ele vai pro hospital e nunca mais é visto no programa, sendo apenas citado pelos personagens posteriormente. Quando um personagem comenta que Deangelo morreu, outro responde: ele não está morto, só o cérebro dele está.
Ferrel acabou servindo mais como um “tempo ganho” para a produção decidir o que fazer com a ausência de Carell. Duas possibilidades eram possíveis: promover um dos personagens do elenco ao cargo de gerente, o que seria arriscado, pois o tiraria de seu status original e poderia descaracterizá-lo; ou contratar outro ator, novo, para assumir a vaga, o que poderia trazer uma imediata antipatia ao mesmo junto ao público, ainda triste e de luto pela saída de Michael Scott. Dessa forma, apresentar um substituto que fosse desenhando para ser detestado dava tempo para que o luto da audiência passasse, e a aceitação de um novo protagonista fosse mais provável.
A finale da sétima temporada trouxe uma enxurrada de participações especiais: Jim Carrey, Will Arnett e Ray Romano apareceram como candidatos à vaga deixada pelo acidente de Deangelo. Rick Gervais também aparece para a entrevista, no papel de seu personagem na The Office britânica, David Brent. Quem também surge para tentar ocupar a posição de gerente são Catherine Tate e James Spader. Do elenco, outros personagens também se candidatam ao cargo: Andy (o Ed Helms), e Darryl, vivido por Craig Robinson. Todos esses nomes deixaram no ar quem seria o ator a assumir o papel principal de The Office.
A chegada da oitava respondeu a questão: Robert California, papel de James Spader. O novo personagem era muito mais enigmático e intimidador do que o bonachão Michael Scott. Apesar de também excêntrico, ele é muito mais persuasivo e manipulador. Mais que gerente, California se tornou o CEO da companhia, e acabou nomeando Andy como gerente da filial. A principio o contrato de Spader garantia apenas 15 episódios, mas ele acabou assumindo um lugar no elenco fixo, aparecendo na temporada inteira.
Ao fim da oitava temporada, Spader não renovou o contrato. Na incerteza de um novo ano da série, a única certeza era a ausência do ator, que afirmou sempre ter tido interesse em apenas esse arco de uma temporada. Havia ainda a possibilidade da saída de Dwight, com a ideia surgida de criar um spin-off focado no personagem de Rainn Wilson. Mas a série acabou não sendo produzida, mantendo o popular personagem no elenco de The Office.
Dessa forma, descobrimos que a companhia dona da Dunder Mifflin vendeu a empresa para uma concorrente, fazendo com que Robert perca seu emprego. Porém com a liquidação dos ativos da companhia, California acaba recebendo uma quantia enorme de dinheiro, que ele decide então usar para viajar o mundo.
Com a renovação para o nono ano, ficou decidido que não haveria uma substituição no elenco para ocupar a vaga em aberto. Ao contrário, o seriado passou a focar no elenco que estava desde o início, dando mais espaço para Jim, Pam, Dwight e Andy. Andy, que já havia se tornado gerente desde o inicio do ano oito, se demite. Quem é promovido ao cargo, finalmente, é Dwight, que encerra o programa no cargo.
A ultima temporada teve criticas mistas, mas não perdeu o carinho do seu público.
Mas claro, o encerramento não poderia deixar de fora o grande astro do programa. A finale traz de volta atuais e ex-funcionários do escritório, entre eles, claro, Michael Scott. E em uma grande festa de casamento de Dwight.
Com isso, The Office conseguiu uma sobrevida, mesmo com a saída de seu personagem mais importante e do ator mais famoso. Mas não sem encerrar prestando uma justa homenagem a Steve Carell.
Gostaram? Eu sei que tem muitas outras séries que tiveram esse mesmo percalço relacionado nessa lista, e casos recentes como House of Cards e The Ranch. Mas isso fica pra próxima.
Valeu, e até o próximo episódio!