Em 1994, o escritor Kurt Busiek se juntou ao artista em inicio de ascensão Alex Ross no projeto que ficou marcado como: “a visão definitiva sobre o Universo Marvel e como simples humanos viam os seus heróis”. Marvels foi uma minissérie em quatro partes que explorava o inicio do surgimento das tais maravilhas, pessoas com poderes e uniformes coloridos por toda a América do Norte, tudo pelos olhos de Philip Sheldon, um fotografo. Na história vimos como o futuro poderia ser brilhante com aqueles seres vagando por ai e protegendo as pessoas como Deuses modernos.
Quase vinte anos depois dessa obra prima dos quadrinhos, chegou ao mercado sua continuação, que mostra o que aconteceu na vida de Sheldon pós o primeiro boom de super-heróis, agora em mundo mais sombrio e desesperançoso. Dessa vez, vemos os principais fatos e personagens da Marvel nos anos 70 e 80 sob o olho da câmera de um velho fotógrafo freelancer.
O grande prejuízo ao projeto dessa continuação tenha sido a não aceitação de participação de Alex Ross, mesmo depois de Busiek aceitar integrar a equipe. Assim, Jay Anacleto tenta imprimir uma aproximação ao estilo do pintor, mas, não é tão simples ser Ross e a qualidade do desenho não é tão alta, contudo, o texto do escritor da serie original se mantém no mesmo nível, levando-os para dentro da mente do fotógrafo e sua desilusão com os heróis que ele depositou sua confiança.
Apesar de não ser um grande problema, a narrativa é semelhante a sua versão anterior, formato que nos dias de hoje já não alcançam o mesmo impacto. Como aponta a Revista O Grito:
A própria Marvel repetiu muito a fórmula de séries que colocam os humanos como protagonistas ou fazendo com que personagens antes secundários ganhassem importância. A idéia por trás da trama, que desmistifica os superseres, apontando seus erros e falhas humanas, também está obsoleta. A própria saga Guerra Civil levou às últimas conseqüências o realismo na indústria dos comics, abordando política enquanto colocava todos os heróis e vilões brigando entre si.
Apesar disso, Busiek definitivamente nos reforça como Sheldon é um grande personagem. Seja em Marvels, Ruínas – uma versão alternativa da mesma idéia, só que em um mundo onde tudo deu errado, feita por Warren Ellis – ou agora, seus diálogos, legendas, desenvolvimento, nos envolve, nos torna um companheiro invisível do protagonista e suas angústias, seus medos em relação a se tudo que fez, todas as fotos, matérias, tempo deixando a família de lado por conta do jornalismo, da verdade dos fatos, valiam a pena, se no fim ele teria um real legado a passar. Uma questão bem humana, bem próxima, no fim das contas, de todos nós.
Enquanto se pergunta tudo isso, Sheldon descobre que tem um câncer terminal e pouco tempo de vida, se joga em um projeto de um novo livro – visto que seu livro anterior Marvels ainda vendia bem –. Tal idéia de novo livro o atormenta, já que seu editor quer um livro sobre os vilões e ele não quer falar sobre o lado negro desse mundo, mas, também, não consegue ver algo de realmente bom para falar dos novos tempos.
Assim como a versão original, Marvel II nos dá o divertido hobby de enquanto a lemos, descobrir sobre que momentos da cronologia das histórias dos personagens referidos está sendo mostrado, como a fase louca (se bem que tem alguma que não seja?) do Justiceiro – onde ele atirava em quem ultrapassa-se um sinal vermelho – ou ainda megasagas como Guerras Secretas, todas sendo pontuadas pela percepção de quem a vê por fora e suas opiniões sobre.
Esse ângulo, também nos mostra como até os Deuses não são perfeitos e como olhar tanto para eles pode nos fazer esquecer-se de nós mesmos. Esse é um dos pontos que Sheldon apreende durante sua jornada, assim como que não se precisa ser um super homem para ser também uma maravilha, um salvador, ter um legado para passar a frente.
Título: Marvels 2 – por trás da câmera
Autores: Kurt Busiek (texto) e Jay Anacleto (arte)
Minissérie: 5 edições,
Editora: Panini
Número de Páginas: 52 págs,
Preço: R$ 5,90