Dae rapaziada, bem vindos.
Há algum tempo fiz um review sobre a série Greek. Pois bem, o programa estava no vai não vai de uma quarta temporada, até que o canal resolveu encomendar mais uma temporada curta de 10 episódios para encerrar a trama.
E quer saber o que resultou? Ao contrário do Tiririca que não contou ainda, eu te conto.
Greek passou os últimos quatro anos nos contando uma estória sobre amadurecimento, amizade, fraternidade e as diferenças entre o mundo adolescente e o mundo adulto.
Têm-se, como eu disse aqui (link para post sobre Glee), dezenas de series adolescentes, não se pode dizer o mesmo sobre programas sobre jovens adultos. Muito pelo contrario, estes programas costumam perder audiência e qualidade quando seus personagens deixam o segundo grau e rumam para a Universidade.
Greek, pelo caminho oposto, já nos mostra o dia a dia dentro do mundo universitário. Sendo assim, vemos exatamente a passagem dos alunos de segundo grau – adolescentes – para acadêmicos – jovens adultos. E agora os vemos, ao final de série passando de acadêmicos – jovens adultos – para formandos – adultos de fato.
Se Evan, Casey e Ashley se formaram logo no primeiro episódio da temporada, o quarto personagem que já era veterano ao inicio da série, Cappie, ainda se prendia a Universidade. Com a possibilidade que se tem nos Estados Unidos de escolher as cadeiras que quer fazer, e, portanto, o tempo em que se permanece em curso, Cappie queria continuar sua vida no sistema grego de fraternidades, onde é visto como um rei – e no qual não assume qualquer responsabilidade real. Apenas festas e bebidas.
Casey logo entra para a Escola de Direito, acompanhada do ex-namorado Evan, e Ashley tenta a vida em Nova York.
O mais legal dessa temporada nos personagens foi mostrar como a vida real pode cair como um tijolo sobre nossas cabeças. Para Ashley, viver na Grande Maçã seria como viver em “Sex And The City”. Isso simboliza de forma bem divertida como nós criamos expectativas lúdicas ou glamorosas sobre como será a vida adulta baseados em estereótipos – que jamais se justificam. Profissões como Publicidade ou Jornalismo ganham aos olhos dos jovens um status que na real não existem. E a personagem descobre na pele que a vida é muito mais ralação do que badalação.
Os demais plots do final da temporada foram Evan se envolvendo demais no curso de Direito e deixando Rebecca de lado; Rusty sendo afastado de um projeto que ele criou pela Universidade; Dale sendo calouro dos Omega Chi; Casey enfrentando o preconceito dos demais alunos de Direito que acham que ela transou com um professor para ganhar a vaga no curso; e Calvin assumindo que não é tão decidido assim e que não sabe que curso fazer (a trama mais fraca de todas, de longe).
As pontas vão se amarrando exatamente pelo convívio dos personagens.
Evan e Rusty, até então, desde o primeiro episodio, inimigos declarados, acabam se ajudando. A empresa dos pais de Evan acaba comprando o projeto de Rusty, o que faz o nerd pedir ajuda ao playboy para descobrir qual a finalidade da compra. E a viagem até a casa da família Chambers faz os dois descobrirem um pouco mais um sobre o outro. Como eu disse no primeiro review, ninguém é bom ou mal. Os personagens têm motivações, e é isso que faz Rusty deixar de achar Evan uma versão de Lex Luthor, e ver um cara que está apenas tentando vencer na vida para poder se virar sem o dinheiro dos pais. E Evan vê em Rusty um garoto que apenas defende o que é certo. Rusty o faz ver que ele está perdendo Rebecca e os próprios pais em troca de seu orgulho. Evan garante a Rusty um futuro dentro da empresa de seus pais, ligado ao projeto.
Se Rebecca e Casey eram inimigas desde o primeiro episodio, o relacionamento delas foi mudando no decorrer da série. Agora as formadas Casey e Ashley passam a tocha da presidência de Zeta Beta Zeta para a filha do senador. E Casey passa a agir como uma “tutora as avessas” para ela. Ironicamente, Casey, que tanto critica o namorado Cappie por não se desligar da Kappa Tau, assume um novo papel em sua Irmandade e continua ligada ao sistema grego.
Mas uma serie de acontecimentos – como a visita de Tegan e a volta de Frannie – mostram a loirinha que chega uma hora na vida em que temos que deixar as coisas para trás. Levar as lembranças, as amizades – mas seguir em frente e encarar o futuro que nos espera.
A série também deu uma lição sobre lealdade. As Irmandades e Fraternidades sempre defenderam que incentivavam isso, mas nunca havia sido visto dessa forma como na terceira temporada.
Descobrimos por exemplo que os Omega Chi estavam apenas zoando Dale como uma vingança contra Rusty. E é Calvin, também membro da OC que dá uma lição nos seus irmãos. Ao pedir para sair da Casa, ele relembra ao presidente atual, Trip, que foi ele o primeiro a defendê-lo em frente aos seus “irmãos” quando a sexualidade de Calvin foi exposta. E que é uma pena ver que aquele calouro com boas intenções se perdeu ao longo dos anos, se transformando em apenas um cara que quer zoar a cara dos outros. E que se ele, como presidente, for assim, e permitir que esse seja o comportamento de sua Fraternidade, ela não significará mais nada. Apenas bebidas e mulheres. Em sua essência, a idéia de lealdade, honra e amizade, se perderá.
Alias, em uma das cenas mais legais e simbólicas sobre lealdade, é quando Dale é enganado pelos Omega Chi e acaba pagando o mico de ficar de quase pelado em frente a todo o Campus. Mas o ubernerd não se intimida, enfrenta o grupo e a vergonha, e acaba ganhando a companhia no palco de seus dois verdadeiros irmãos – Rusty e Calvin. Provando que acima de siglas gregas, a fraternidade – e amizade incondicional – nasce da bondade das pessoas.
Sobre o medo da vida adulta, Ash chega se envolver com um homem muito mais velho, professor, que pode dar a ela uma vida sossegada sem muito esforço, casada com ele. Mas Cappie a faz pensar se abrir mão de uma felicidade plena por uma segurada financeiramente, é o que ela quer. Quantas vezes você já viu ou ouviu falar disso acontecer?
Mas vamos logo ao ultimo episódio, porque eu já to na terceira página desse review. 😛
Tudo fica em torno da demolição da casa Kappa Tau. Enquanto Cappie cria planos mirabolantes para evitar a demolição, Casey e Evan defendem a demolição, pressionados pelo seu professor, que os usa como assistentes no caso, defendido pela Universidade.
Resumidamente, no dia da demolição, Cappie faz um discurso para os alunos, seguido de vários depoimentos de personagens que passaram pelo programa. Mas quando o professor pede que Casey faça um contra-discurso, ela, como esperado, se nega e vai para o lado do namorado.
O microfone passa para Evan. O professor diz a ele: “Agora decida. O que vai ser? Seu futuro ou seus amigos?”
“- Bem… se o senhor coloca dessa forma…”
E devolve o microfone ao professor, indo para o lado do rival, e melhor amigo, Cappie, e Casey.
De qualquer forma a casa é demolida. Não há mais o que fazer. Cappie acha que está tudo acabado. Mas Rusty mostra que não.
Não era a casa que fazia a Fraternidade. A Kappa Tau é mais do que madeira e concreto. E o jovem Cartwright não deixa a essência da KT morrer – a amizade e a vontade de fazer festa.
Assim ele se torna o novo presidente, liderando-os num novo inicio.
Cappie se formou sem querer – fez tantos créditos sem notar que se formou. E assim, mesmo que aos trancos, ele recebe o diploma. E Casey, que resolve se mudar para Washington e lutar pela carreira política como sempre sonhou, ganha sua parceria na aventura. Agora uma aventura no mundo real.
Greek fechou ciclos. Da irresponsabilidade a maturidade. Da ganância a amizade. Do medo a decisão. Do material ao simbólico. Tudo, claro, com muito humor e diversão.
Os oito protagonistas interagem como nunca, criando novas perspectivas sobre situações que julgávamos fatos – sejam inimizades ou simples descaso. Cada um deles vai se tornando vital para o crescimento do outro. Isso, desde uma briga sem sentido, uma conversa franca ou um simples jogo da verdade.
A cena final, com os oito protagonistas se despedindo nas ruas do Campus, é emblemática.
Cappie e Casey entram no carro e, ao som mais do que providencial de Forever Young, partem em direção a vida lá fora.
É a vida que segue. Somos nós que seguimos.
Até o próximo episódio.
Obs.: E boa sexta-feira antecipada a todos.