Às vezes, a jornada de uma música para alcançar os píncaros da glória e do sucesso popular passa por vários intérpretes. Esse é o caso da pérola que inaugura essa malfadada coluna. Por quantos cantores uma música precisa passar pra cair no gosto do povão? Cada um deles deixa uma marca indelével? Leia mais no post.
Ame ou odeie, VOCÊ CONHEÇE ESSA MÚSICA! E uma das músicas mais populares do Brasil teve o início de sua jornada em Portugal (Cuma?). Por acaso você conhece o bardo brasileiro que fez sucesso em terras lusitanas chamado Marcio Ivens? Cantor natural de Caçador – SC teve o início de sua carreira aos 12 anos, como revelação mirim nas rádios locais. Chegou a fazer um show para índios no Amazonas, contratado pelo presidente Juscelino. Nota-se que o histórico de agressões aos índios não tem fim.
Depois de uma passagem de relativo sucesso por Buenos Aires, o intrépido Marcio quis alçar voos maiores e se lançou para Portugal. Pro seu azar, o cantor tomou um toco da empresária e ficou sem um puto no bolso. O que restou a nosso intrépido personagem foi cantar em bares até juntar alguns Escudos e retomar a carreira. Foi quando então ele se lembrou de uma marchinha de carnaval safada, ruim pra caramba, mas tão grudenta quanto goma arábica: Bilu Tetéia.
Juntando o ritmo da marcha com alguns acordes de instrumentos portugueses, em 1974 ele lança um compacto com a referida melodia. Por algum motivo que ninguém entende, a música fez um grande sucesso. Tanto que o show do Marcio era vendido como Marcio Ivens e as Tetéias. Mas esse vídeo mostra o porquê de tanto sucesso. Nada como um cantor que não olha pra câmera e se enrola no fio do microfone.
Sensacional. Que intérprete! Ele vive a música. Dá pra sentir sua depressão por ter de fazer um biluzinho sozinho. E como dança o gajo. Parece o Godines de tão à vontade. Brilhante. Detalhe para o radical grito de Uhhhhh a 1’53’’ do vídeo.
Mas ainda faltava algo para essa música tão erudita. Faltava voltar para terra brasilis. Tal fato foi muito beneficiado pelo motivo de que muitos sucessos estrangeiros eram adaptados para o português e, no caso de Bilu Tetéia isso nem era necessário. E, em 1975, no Festival Abertura da Rede Globo, que apresentou ao mundo nomes como Alceu Valença, Luiz Melodia e Djavan, veio como um furacão aos palcos o fenômeno Mauro Celso.
Não da pra descrever simplesmente. Veja o vídeo:
Que dança, que ritmo, que figurino! Modelinho de hippie chique, saltitando tal qual uma gazela em verdes pastos, Mauro Celso conquistou corações e mentes ao interpretar Farofa-fá. Sucesso imediato. Farofa-fá foi uma das músicas mais executadas de 1975 em todo o Brasil. Com esse sucesso, claro, veio à gravação do LP “Para Crianças de até 80 anos”. E no repertório, nada poderia combinar mais com seu jeito lépido do que regravar o sucesso que vinha de Portugal.
Assim Bilu Tetéia ganhava novamente o Brasil. Confira a roupagem de Mauro Celso:
Aí vem uma coisa inesperada. MAURO CELSO ERA UM PROFETA. Prevendo que sua interpretação levaria a algo muito maior, o bardo vaticina aos 3’08’’ do vídeo quem irá substituí-lo. É assustador.
Onze anos depois, um comunicador que entraria pra história da TV escolhia músicas para o repertório do seu segundo LP. Seu primeiro disco, intitulado apenas com o seu nome, Sergio Mallandro, havia vendido muito mais do que o esperado, impulsionado pelo sucesso e popularidade obtido no Show de Calouros. Agora, com um programa infantil chamado “Oradukapeta”, seu repertório seria mais voltado para o infantil.
Mas faltava a música que ia sustentar o disco. A primeira faixa do disco, Um capeta em forma de guri, era tema de abertura do programa. Ainda faltava ao repertório uma música com o balanço e a ginga condizente com esse grande astro dos anos 80. Então veio a brilhante ideia. Por que não juntar dois clássicos da década passada eu um único e retumbante sucesso? Dito e feito. Com a junção de Bilu Tetéia e Farofa-fá Sergio Mallandro conquistou não apenas o sucesso radiofônico, mas o coração de toda uma geração de fãs. Ouro puro. Confira ai:
Depois dessa verdadeira obra-prima, só posso encerrar essa coluna de estreia com as palavras de sabedoria do filósofo Sérgio Neiva Cavalcanti: