A morte – Na Ficção

“Morte é meio que como sexo no segundo grau. Se você soubesse quantas vezes quase aconteceu, ficaria perplexo”

Dead Like Me

Creio que posso dizer com segurança que, sem morte, não existiria o gênero de terror. Afinal de contas, o que é, em essência, o terror se não o medo instintivo da morte? Não só a morte é uma das bases das histórias de terror quanto o tema é explorado em suas mais diversas formas. Seja no assassinato, nas pessoas que insistem em deixar as coisas para trás, nas entidades que buscam vingança, nas criaturas vindas das profundezas ou nos mortos que retornam à vida, o conceito de morte já foi extensa e exaustivamente explorada na ficção, desde sempre. É por esta razão que, neste post, dando sequência à matéria anterior, vamos nos ater às histórias em que figuram a morte propriamente dita, sua personificação. Obviamente, não vai dar para abordar todas aqui (e vocês podem citar outras nos comentários), então fiz uma seleção das que considerei mais relevantes, diversificadas e/ou memoráveis.

As referências à morte personificada na literatura e poesia é, como se poderia imaginar, antigas. Há uma breve aparição de uma personificação feminina da morte em Rime of the Ancient Mariner, além do clássico Paraíso Perdido, de John Milton, em que Morte é um dos filhos de Satã. Partindo para a literatura “propriamente dita”, temos o ceifador como personagem importante de duas séries de fantasias distintas: Discworld e Incarnations of Immortality; além de Death and Dr Hornbrook, de Robert Burns, em que a Morte é um velho rabugento.

No cinema temos, em 1934, Death Takes a Holiday, filme que mostra a Morte tirando férias para conviver entre os humanos e as consequências desta decisão. Woody Allen colocou a morte personificada em seus filmes algumas vezes, como em A Última Noite de Boris Grushenko (1975) e Desconstruindo Harry (1997). Há também a versão macabra do ceifador em Os Espíritos, de Peter Jackson (1996) e, embora não apareça “em carne e osso”, a morte é o principal vilão da cinessérie “Premonição”. Além disso, a morte fez participação especial em diversos filmes ao longo das décadas, entre eles The Doors, de Oliver Stone (1991), O Último Grande Herói (1993), O Estranho Mundo de Jack, de Tim Burton e no filme do Monty Python O Sentido da Vida. Em Bill & Ted, Dois Loucos no Tempo (1991), os protagonistas vividos por Alex Winter e Keanu Reeves precisam enganar a morte para voltar á vida e salvar suas namoradas e o futuro. Mas o filme mais conhecido a retratar a personificação provavelmente seja O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman. Na história, um cavaleiro medieval volta para casa para encontrar apenas morte. Quando a própria morte vem buscá-lo, ele consegue propor um jogo de xadrez para ganhar tempo. Nesta versão, a morte é um ser humano com um manto negro.

Na TV, o personagem é participação recorrente em diversas séries: Em O Toque de um Anjo, ele é um anjo simpático; em Charmed, uma entidade neutra; em Supernatural, vemos o Grim Reaper; Em Medium a morte aparece como um homem comum. A morte também aparece em sequências de alucinação ou sonhos como em Nip/Tuck, Six Feet Under e Scrubs e como personagem em diversos episódios de Além da Imaginação, dos Simpsons e de South Park. Mas as versões lembradas com mais frequência atualmente provavelmente estão no desenho animado As Aventuras de Billy e Mandy, onde a morte (que visualmente é o típico ceifador) é o personagem principal que por vezes precisa lidar com as duas crianças, e em Dead Like Me, série de humor negro que retrata os ceifadores de forma diferente e bastante inusitada. O visual tradicional do ceifador é visto, no entanto, na sequência de abertura da série. Também não podemos esquecer da versão oriental da Morte, o Shinigami, retratado como o personagem Ryuk na animação Death Note, e das hilárias participações do ceifador em diversos episódios de Uma Família da Pesada.

Nos quadrinhos, a morte foi personificada de um sem número de formas diferentes. No Universo Marvel, é uma mulher, alvo do intenso amor de Thanos. Na DC, temos diversas versões: o Corredor Negro, que se assemelha ao Ankou da mitologia céltica, ou seja, ele não é a morte propriamente dita, e sim o seu “mensageiro”; o Black Flash, que é exclusivamente a morte dos velocistas da DC, por serem “rápidos demais para a morte” e Nekron, a personificação da morte vista recentemente na saga A Noite Mais Densa. Temos também o Juiz Morte, vilão das histórias do Juiz Dredd que, apesar de não ser uma personificação da morte no sentido essencialista, é uma criatura que pretende extinguir a vida na Terra, e a Dona Morte, personagem da Turma do Penadinho, de Maurício de Souza. Para finalizar, não podemos esquecer da versão da Morte criada por Neil Gaiman para o universo do personagem Sandman, retratada como uma pálida e dócil jovem com aspecto gótico.

Este foram alguns exemplos da morte como protagonista/antagonista ou personagem de histórias nas mais diversas mídias ao longo das eras. Se algum leitor lembrar de outros, citem nos comentários. Mês que vem falaremos sobre um filme que mistura filmes B, conspirações, alienígenas e…mensagens subliminares?

Curiosidades:
The Rime of the Ancient Mariner, poema em que figura uma versão feminina da morte, é descrito por Bill Everett como inspiração para a criação do personagem Namor;
– Death Takes a Holiday teve uma refilmagem em 1998, o filme Encontro Marcado, com Brad Pitt e Antony Hopkins;

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“Então, isto aqui é ficção. Tudo o que está daqui para a frente – todos os documentos, os memorandos, as entrevistas – não passa de