Ou Tudo o que você não queria saber sobre um assunto que não te interessa, mas vamos te contar assim mesmo!
Numa dessas tardes mineiras, lá pelos idos anos oitenta, um molequinho sardento, magrelo e feio pá porra recebia de sua titia Dolores seu primeiro gibizinho, era de um personagem que tinha uma aranha no peito, soltava umas cordinhas pelos pulsos e apanhava de um carinha com cabeça de Touro e roupa verde (ele até tinha um caminhão), que às vezes pareciam ser amigos, mesmo por que os dois em alguns desenhos brigavam lado a lado contra uns caras com cabeça de cachorro… depois mais pra frente aparecia uma mulher de cabelos ruivos que se mexiam, um cachorro com um trocinho na testa. O pivetinho não entendeu porra nenhuma, mesmo por que não sabia ler, mas curtiu pra caramba aquele troço louco. Revirou que nem louco as coisas do primo e encontrou patos vestidos, meninas dentuças com coelhinhos azuis e uma tia loira com um martelo de pedra. Mais tarde reencontraria o pato em desenhos da TV, mas naquele momento insólito, o garoto deixava de torturar os gatos, dar estilingadas em galinhas e pular na cama de casal da tinha com os pés sujos de lama. Os pais inclusive pensaram que o moleque estava doente.
Anos mais tarde, o pequeno delinqüente, numa de suas inúmeras tardes de castigo, reencontrava a tia loira do martelo na TV, agora acompanhado por um bicho cinzão, um carinha de rosto engraçado de roupa cinza e branca e um outro que tinha um escudo também nas mesmas cores, os caras não se mexiam, mas a história era divertida pá diabo! Depois de Spectroman, era a coisa que o menino mais curtia na televisão, aliás, se cagava de medo dos monstros, sempre assistia segurando a mão da mãe enquanto se escondia debaixo dos cobertores.
“Mas o destino cruel e traiçoeiro, escolheu a hora e o lugar…” (milionário o José Rico), o irmão mais novo de seu pai veio morar com sua família, por um acaso este lazarento rebelde era fã de quadrinhos e trouxe sua coleção completa na bagagem. Adivinhem? Sim, o pestinha começou a fuçar nos gibis do tiu, ainda não sabia ler, mas como não tinha nada para fazer, passava as tardes olhando as figuras e imaginando o que os personagens diziam, qual era a história e principalmente, por que na capa o cara vestia uma roupa rosa se no interior não tinha cor? E por que era os únicos que tinham roupa na história eram brancos? Será que os pretos eram pobres?
O moleque então exigiu entrar logo na escola para aprender a ler, só para entender aqueles malditos gibis dos infernos! Afobado e sem senso de realidade já naquela época, o putinho queria só aprender a ler, escrever era besteira, aliado a sua preguiça e problemas com figuras de autoridade, foi reprovado na primeira série com louvor! Com direito a cartinha de recomendação para sua mamãe sugerindo uma escola especial.
No ano seguinte, ameaçado pelos pais, finalmente aprendeu a ler e devorou os gibis do tiu, entendeu finalmente as histórias do Fantasma, da Disney e da turma da Mônica. Optou por Disney e Mônica em detrimento dos super heróis, pois ainda não entendia porra nenhuma daquelas histórias e o monte de letrinhas dava dor de cabeça.
Sempre que podia, arranjava um jeitinho de compara mais gibis, quando mamãe o mandava comprar um quilo de carne moída, sempre pedia a menos para sobrar troco. Nada do que os pais pediam para ele comprar tinha troco, sempre era o preço exato, pelo menos era isso que ele dizia… O garoto daria um ótimo político se mais tarde o Capitão América e o Super Homem não o educassem.
Foi em oitenta e nove que começou a ler quadrinhos de super heróis, inicialmente por que não tinha mais gibis novos e já estava sofrendo crises de abstinência. Comprara logo um gibi chamado os Novos Titãs que trazia o Cyborg com as pernas arrancadas na capa. Não entendeu merda nenhuma novamente, mas ficou obcecado. Correram sebos, roubou honestamente amigos e consultórios médicos. Em poucos anos completou sua coleção dos Heróis Marvel (época em que os X-men e o Homem Aranha tinham boas histórias), a DC Comics, com exceção dos Novos Titãs do Wolfmann, da Liga da Justiça cômica e do Super Homem do John Byrne, o resto era uma bosta! Assim se deu o início da vida nerd desse garoto…
Se eu tiver saco, continuo a história mostrando a visão do garoto durante as grandes sagas dos quadrinhos americanos e contarei finalmente, por que 1994 foi um ano tão importante. Se quiserem, coloque ai nos comentários sua história que terei o maior prazer em zoar… Aliás, essas histórias são mais bem contadas regadas a álcool em ambiente butecal!
Por Al Lock e Alex Matos.