Um filme simples, intimista, sem grandes firulas… mas tem o que todo filme deveria ter: conteúdo.
Para quem não conhece, O Caçador de Pipas é um livro escrito pelo afegão Khaled Hosseini, que logo se tornou um best-seller. E não é por menos.
E como todo livro que faz sucesso, logo virou filme.
Dirigido por Marc Foster, diretor de A Ultima Ceia (filme F O D A), a versão cinematográfica é de uma beleza impar.
“-Você comeria terra se eu pedisse?
-Comeria. Se você pedisse, eu comeria. Mas você pediria isso?
-Você está louco? Claro que não.
-Eu sabia que você nunca pediria.”
A trama acompanha a vida de Amir e seu melhor amigo Hassan, dois garotos afegãos, e melhores amigos. Amir é filho de um homem rico, e Hassan, de seu zelador.
Logo percebemos a fidelidade incondicional que Hassan tem por seu melhor amigo, em contraponto ao jeito covarde de Amir.
As pequenas parábolas colocadas na trama, ainda na infância dos garotos, culminam em uma cena forte e chocante, que resume tudo que fora dito e visto anteriormente.
“Um homem que não luta para se defender, jamais lutará para defender coisa alguma”.
Essa frase faz todo o sentido durante toda a projeção – e em nossas próprias vidas.
O contexto político do filme, mais especificamente a invasão do Afeganistão pela então União Soviética no final da década de 70, serve de pano de fundo para as drásticas mudanças na vida de Amir, que vai com o pai como refugiado para os Estados Unidos.
Não quero soltar nenhum spoiler, por isso apenas digo que algo muito forte fará com que Amir volte ao Afeganistão anos mais tarde para aplacar sua culpa e tentar sua redenção.
O filme perde um pouco de ritmo quando se apega ao romance entre Amir e Soraya, a mocinha do filme, mas logo o retoma quando o nome de Hassan volta a ser tocado. Isso porque creio que muito tempo foi perdido na história do casal, que poderia ser resumido, já que o que nos interessa mesmo é a história da amizade dos garotos.
A terceira parte, quando vemos Amir de volta a sua terra, é de roer os dedos. O impacto de um adulto vendo seu país totalmente deformado pela guerra é tocante, e angustiante.
“-Me sinto um turista em meu próprio país.
-Você sempre foi um turista aqui. Apenas não percebia isso.”
Em suma, O Caçador de Pipas é uma parábola realista sobre amizade, lealdade, culpa e redenção. Além do retrato do que a guerra pode fazer com um país e seu povo, é uma pintura sobre relações, sobre o que o ser humano pode fazer para seu semelhante. O quanto um ser humano pode ser fraco ou forte. O quanto o mundo pode mudar, e o quanto uma pessoa pode mudar. As pipas do título – que vem do fato que Amir e Hassan são dois grandes empinadores de pipa, que ganham as pipas de todos os meninos de Kabul – são a perfeita analogia a isso.
Caçadores de Pipa é um filme para ser visto e admirado. Mais de uma vez.
“Por você eu iria mil vezes.”
Abraços do Moura