Por Marcelo
É, o título confesso que é um pouco agressivo, mas em tempo de Datenas e Ratinhos temos que acompanhar a maré às vezes. Esse post é uma cortesia básica do SBT, que exibiu dia desses Superman – O Retorno, e de onde veio a inspiração não só para o título, mas para a temática da postagem. Então você já deve saber o caminho que seguiremos hein?
Wonder Woman (o nome original da personagem mané!) foi a primeira heroína criada pela indústria dos quadrinhos, em 1941 pelo psicólogo William Marston, como fruto de uma percepção da necessidade de valorizar as capacidades femininas e seu potencial em um período de guerra mundial. Ou seja, para a DC, na época com o nome de All-American Publications, era bom ter uma mulher em suas revistas para chamar o público feminino, e, ao mesmo tempo, saciava a vontade delas de se sentirem menos impotentes perante o mundo do patriarcado. Levemos em conta que a revolução do feminismo só viria mesmo décadas depois.
Então assim, A Princesa Diana, de Themyscira, filha da rainha das amazonas Hipólita e esculpida por Atena a partir do barro (um bom simbolismo para uma criação igual a do homem na bíblia), chegou ao “mundo dos homens” em uma missão de paz, em luta contra a guerra do Deus Ares. Tudo muito bonito não? Dentre desse contexto entendemos bem o porquê de seu surgimento, sucesso e união em uma Trindade de Heróis principal (junto com Superman e Batman, três faces de uma moeda em minha opinião). Mas, não precisa ser gênio para perceber que na sua construção, mesmo sendo um personagem feminino/feminista, se teve muito do olhar masculino/machista. Começando pelo seu uniforme fetichista (com roupas mínimas e laços, um tipo de combo sadomasô) e a atitude de brigar primeiro e perguntar depois, e por anos essa foi a imagem de mulher que os quadrinhos propagou – junto com as Poderosas, Mulheres-Gavião e Supergirls da vida.
Porém, hoje em dia, vivemos em novos tempos, onde a mulher conseguiu seu espaço no mercado de trabalho; inverteu lógicas de constituição familiar (mães solteiras, separadas, com maridos que cuidam da casa) e sempre me perguntei se uma heroína com ares gregos, formação masculinizada, é o ideal para representar nesse mundo tão simbólico quanto os quadrinhos as mulheres do Século XXI.
Desde a Crise nas Infinitas Terras, e sua reformulação pelas mãos de Marv Wolfman e George Perez (fantástica por sinal), a princesa das amazonas tenta se encontrar no novo mundo que lhe foi apresentado. Suas histórias basicamente se prendem em eventos ligados a mitologia grega, crossovers com outros heróis, e tentativas de engrenar coadjuvantes bons. Há última coisa interessante que li dela foi à fase de Greg Rucka onde ela não tinha identidade secreta, era embaixadora de Themyscira na ONU – tendo como base de operações a própria embaixada, em Boston, nos EUA. Porém, após os eventos de Crise Infinita, Themyscira desapareceu da Terra por intervenção das deusas do Olimpo, e a embaixada foi fechada. A heroína agora usa uma identidade civil secreta, adotando o nome de Diana Prince, assim como ocorria na continuidade antes de “Crise nas Infinitas Terras”. Ou seja, em constante eterna mudança.
A situação para mim se agrava mais ainda depois de ver histórias como Alias, de Brian Bendis, e de René Montoya, em Gotham Central. Momentos que deram a personagens femininos personalidade e força diante de um mundo cruel e em tons de cinza. E taí, um bom motivo que pode ser a falta de profundidade da MM (a mulher, não o chocolate) atualmente: o conservadorismo editorial da DC, que deixa de pensar coisas inovadoras, tirar esse caráter maniqueísta que se agregou as histórias dos principais personagens da DC (Morrison no Batman e Johns, Robinson no Superman estão conseguindo até isso).
Para Marston, as mulheres eram mais honestas e confiáveis do que os homens, daí, a Mulher Maravilha ser a propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deve governar o mundo. E Rucka até chegou perto, com uma Mulher-Maravilha política, com opiniões e o resultado disto no restante da humanidade, que é comandada por homens e cuja religião é judaico-cristã, diferente então, da religião da Princesa. Pela primeira vez desde sua reformulação se teve uma personagem firme, que sabia que nada mais era do que um pião nas mãos de deuses. O tal Feminismo proposto na gênese da personagem coloca que as mulheres são iguais aos homens, porém, com uma Super-Mulher voando pelos céus do mundo, a imagem que se tem que passar é de que as mulheres possuem o potencial não somente de serem tão boas quanto homens, mas de até ser superiores a eles.
Dica: Um site onde podemos ver visões diferentes legais da Mulher-Maravilha é o Zeus Comics
Até a próxima. Vida longa e próspera!