Já está nas bancas à revista especial Prelúdio para a Crise Infinita. Venho nessa postagem falar porque, mesmo com críticas e comentários que você vai ler por meses, deve comprar e acompanhar a Crise Final de Morrison se for fã mesmo da DC Comics.
Primeiramente meu caro, quem escreve essa mini-série não é um autor pago uma miséria para cobrir por um breve tempo alguém. È sim um escritor megalomaníaco, polêmico, genial e alucinógeno: Grant Morrison. Ou seja, não espere um blockbuster de verão simples, mas uma complexa narrativa cheia de coisas que a primeira vista não se entende, como um bom filme de mestres como Kubrick e Fellini, onde referências, interpretações pulam em seus olhos.
“É minha visão do alto, de um Monitor, do Universo DC como uma entidade; antes que eu tire umas aguardadas férias para fazer outros trabalhos. É minha versão de terror/sci-fi de tudo que amo na DC, tudo que já pensei ou senti sobre a DC, em uma série. É sobre a confusão e a agitação de entrar neste continuum ficcional selvagem e colorido quando criança, e uma tentativa de definir o que torna a DC singular e vibrante em relação a outros universos de super-heróis. Também oferece uma cosmologia completa de dimensões superiores, incluindo a nossa, e um vislumbre do impulso criativo de Deus, então acho que vale o preço na capa, gosto de dizer. Está recheada de segredos ocultos, filosóficos e transformativos também e quanto mais você lê, mais você vai entendê-los” (Grant Morrison)
Claro que Morrison sempre que comentou sobre a série exagerou em muita coisa, típico do autor, porém, em uma coisa ele está correto: é a sua visão do Universo DC, de como as coisas são e como os super-heróis terrestres são importantes para esse cosmo. Conforme o roteirista, a idéia para a saga surgiu em 2004, logo que deixou o título Novos X-Men. Originalmente intitulado Hypercrisis, o projeto envolvia, é claro, o Hipertempo (conceito sobre infinitas realidades alternativas possíveis criado por Mark Waid, no fim das contas abandonado pela DC), durante 12 edições, cada uma servindo de número um para novas séries, que se interligariam num grande épico.
Morrison explicou que a trama teria início com uma cena do Superman em frente à lápide do Capitão Marvel, afirmando; “Marvel está morto!”, clara alusão a editora concorrente. A DC acabou por não aprovar o projeto, partindo para outro, Crise de Identidade.
Mas Dan Didio queria fazer um grande projeto com Morrison, e o procurou quando ele fazia Sete Soldados da Vitória, em 2006, querendo renovar os Novos Deuses, ao mesmo tempo aproveitando algumas idéias de Hypercrisis. Então aí surgiu Crise Final, com a vontade de inovar e revolucionar (como sempre GM diz que quer fazer com suas histórias, e na maioria acerta) os quadrinhos.
“Também é uma tentativa deliberada de mostrar como as ditas ‘regras’ podem ser quebradas para criar diferentes efeitos nos nossos quadrinhos. É uma forma de usar gibis de super-heróis para falar do mundo ‘real’ que não depende de manchetes de jornal, ‘relevância’ falsa ou linguagem e imagens ‘adultas’. Me vi pensando como seria se a narrativa dos quadrinhos parasse de copiar o cinema e a TV e buscasse alguns recursos da ópera, por exemplo. Que tal quadrinhos densos, carregados de referências, herméticos, que parecem mais poesia do que prosa? Que tal quadrinhos carregados de significados e possibilidades múltiplas, prismáticas? Quadrinhos compostos como música? Em um mercado dominado por séries ‘lado esquerdo do cérebro’ [que geram reações racionais], achei que seria revigorante oferecer uma alternativa ‘lado direito’ [reações emotivas]”. (Grant Morrison)
Só pela intenção eu aplaudo Morrison, ele fala exatamente de algo que comentei aqui e aqui, uma busca por algo novo nos quadrinhos, por surpreender em narrativa, conteúdo e relação com o leitor. Crise Final é um bom tratado sobre isso, e sobre o Universo Dc em si, com conceitos filosóficos, de relações humanas e uma explicitação de algo que há décadas a DC cogita e nunca fez realmente: E se Darkseid domina-se a Terra? E se o inferno, o mal encarnado, vence-se o bem, o que os heróis, “ícones de gerações”, “incorruptíveis”, “puros”, fariam? Para mim é sobre isso que a série fala, e faz muito bem até seu clímax na sexta edição, a última, bem, aquela não é uma edição só do Morrison é do Dan Didio também e deixo essa discussão para quando ela sair por aqui.
“Assim como Marvel Boy, em 1999, precedeu as tendências narrativas da última década, Final Crisis tenta predizer como as técnicas ‘zapping’ podem se desenvolver enquanto entramos no Quinto Mundo da Era da Informação de Obama e ela começa a se definir em oposição às ‘regras’ da geração passada” (Grant Morrison)
Mas tudo isso que disse infelizmente nos Estados Unidos, e aqui no Brasil não será diferente, só foi percebido por quem quis entender a proposta e não um leitor “massa veio”, que procurava um Transformers com pipoca e refrigerante no fim de tarde, esses pularam de barriga e tudo em Invasão Secreta da Marvel, essa sim, em minha opinião, rasa, corrida, mal desenvolvida e só pretexto para milhões de tie-ins.
“Eu queria espremer tudo que amo nos gibis de super-herói em um… artefato, carregado e condensado, o que significou usar todas as lições que aprendi em uma vida inteira vivendo de escrever”. (Grant Morrison)
Com Grant Morrison no comando me sinto lendo quadrinhos assim como vejo filme, olhando a capa para saber bem quem é sua equipe técnica e procurando conhecer melhor como é seu trabalho e assim saber o que irei ver. Se você não sabe quem ele é: ele é um escocês, conhecido por sua narrativa fora dos padrões dos quadrinhos, fez sucesso nas reformulações do Homem-Animal e do Kid Eternidade, ambos da DC Comics. Ainda para a DC, teve uma passagem controversa pela Patrulha do Destino, onde escreveu 40 edições. Esta passagem fica marcada por uma temática recorrente a escola surrealista de arte, Na Marvel, passou por uma fase bem recebida em Novos X-Men, na qual redefiniu muitos conceitos do universo mutante da editora.
Atualmente, é roteirista exclusivo da DC Comics, onde lançou a maxissérie Sete Soldados da Vitória, a minissérie Grandes Astros: Superman e escreveu regularmente Batman, a qual também sai por aqui sua polêmica ultima fase: RIP, essa fica para outra coluna.
Falas de Grant Morrison retiradas de entrevista ao Newsarama