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Apenas o Fim
Por Marcelo Soares

Sabe quando você está andando por aí despreocupado, passa em frente a essas lojas de confeitaria e de repente vê um bolo super recheado, com glacê, confete, caramelos e tudo que é super bom de experimentar. Mas, o que lhe é mais saboroso e causa o verdadeiro prazer em se deliciar com aquele bolo é o recheio, o que está escondido por trás de todo enfeite? Assim me sinto em relação a Apenas o Fim, filme de Matheus Souza, estudante de cinema da PUC – Rio, que com um baixo orçamento (oito mil reais conquistados pela rifa de um whisky na faculdade), uma câmera da universidade (que não podia sair das dependências dela) e um roteiro com só dois protagonistas, fez um dos filmes mais sensíveis, emocionantes e divertidos do ano.

O filme conta a história de dois jovens prestes a se separarem. A garota resolve ir embora, viajar, fugir de seus problemas, e eles só tem uma hora pra passar juntos antes dessa partida. O rapaz tenta entender essa decisão e ao longo do filme eles vão explorando quase tudo até aquele momento e ao mesmo tempo relembram aquela história de amor que tem data e hora pra acabar. É uma hora e meia de um show de bonitos ângulos de câmera, cores, uso criativo da edição e um texto bem elaborado. O filme, claro, tem alguns defeitos. Afinal, é o primeiro trabalho do diretor (perfeição de inicio não existe), temos uma Érica Mader pouco inspirada, coadjuvantes sem sal (não sei se é de propósito), “encontros casuais” super mal colocados, porém, se pode relevar ao ver que foi tudo feito meio na camaradagem e nos ajustes com o que se tem. Fico feliz de perceber que ter uma idéia na cabeça e uma câmera na mão, síntese glauberiana, alinhada com busca por conhecimento do que se faz, ainda pode render bons frutos e dar um ar diferente no saturado cinema nacional de favelas, tiros e frases feitas.

Com certeza quem o criticar muito irá dizer que tem excesso de referencias (até concordo), que é longo demais para à historia (concordo também), mas sabe o bolo que me referi acima? Apenas o Fim é um bolo com recheio. As referencias, a trilha, os atores, tudo é um recheio gostoso e bom de se comer, mas o delicioso do bolo mesmo é o interior com a bela historia de amor, a busca de uma juventude de procurar algo que lhe faça feliz no meio do medo de sentir, de enfrentar a vida. E o final, ao som de Los Hermanos, é muito bonito, emocionante e me deixou por dias com lágrimas nos olhos ao ouvir a música e relembrar a sequencia de cenas e a beleza da sutilidade. Não é para qualquer falar do comum, do simples e até do melancólico com tanta sensibilidade. Aplaudo Matheus Sousa, o garoto que com apenas 20 anos consegue ser mais poético que muito cineasta quarentão que vemos por aí. Esse é Apenas o Fim, mas como diz a protagonista “depois é só o resto da nossa vida”.

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