Não é mais novidade para ninguém: Bruce Wayne voltou do mundo dos mortos (mais conhecido como viagem no tempo e no cigarrinho do diabo) e depois de suas experiências retornou com um novo olhar de seu legado e sua missão como vigilante noturno, abrindo ao público parte de sua relação com o herói mascarado de Gotham – como ele não é um personagem tão egocêntrico como o Tony Stark, e bem mais precavido, só disse que era financiador do Batman e não o próprio. Ainda anunciou a fundação da Corporação Batman, e mais uma vez Grant Morrison termina uma fase sobre o comando do personagem mudando todo seu status quo.
O uso de outros Batmen ao redor do mundo não é nenhuma novidade, como o próprio Morrison resgatou anos atrás no arco onde trazia à tona a existência de versões do morcego – em países tão diferentes como Japão e Argentina – foi utilizado no período pré-crise em histórias de encontros secretos entre essas versões e ele fez só reutilizar um conceito.
Aliás, o grande mérito do escritor a frente do Cavaleiro das Trevas é como ele utiliza velhos conceitos de uma forma muito original e criativa, levando ao ápice a idéia de que “todas as histórias já foram contadas, o que se tem que fazer é reutilizá-las da melhor forma possível”.
Desde Batman R.I.P. (um exercício psicodélico sem igual) Morrison criou um novo caminho para Bruce Wayne – aquela altura com a mulher que amava sendo uma traidora, o nome da família na lama e ele desaparecido. Em Crise Final o autor selou esse caminho matando o personagem, e aí eu tenho plena certeza que ele pretendia realmente matá-lo e a inserção da cena final dele no passado foi uma forma de remediar a morte por conta de imposição editorial, só virando plot para algo novo quando se resolveu ter essa saída na revista.
Após jogar o personagem no passado, ele usou de um “roteirismo” para ir adiantando Bruce no tempo e criar uma mitologia totalmente nova para Gotham, os Waynes e o mito do morcego (incluindo um Demônio Morcego e adoradores dele), tudo isso visto em uma mini chamada o Retorno de Bruce Wayne, que se interliga com Batman e Robin.
Todo esse trabalho, com certeza criado com o passar das edições e não desde o inicio como algum fã xiita pode querer acreditar. Até ressalto um comentário de um leitor do omelete (que não sou eu para deixar claro) que deve ser bem capaz ser verdadeiro:
Marcelo (05/11/2010 20:27:01) Mas o fato é que nada disso fazia parte dos planos iniciais do Morrison. O sucesso comercial da Batman e Robin foi o fator preponderante pra mudança nos rumos. Me lembro que na época do início da série cogitou-se muito sobre um fim trágico para o Dick Grayson. Mas, como o Grayson fez sucesso se vestindo de Batman e agindo lado a lado com o Damian, muitos fãs protestaram para que o Dick não deixasse de ser um “batman”. Mas o Wayne já estaria voltando, então, como legitimar dois Batmen co-existindo num mesmo universo? Eis a solução, a criação da Incorporação Batman, tendo o Bruce Wayne como financiador de vários Bat-Men agindo ao redor do Mundo. Quer dizer, o fato que isso não é nada original. Mas ele, Morrison, tinha que encontrar um jeito para juntar as amarras. Só quero ver que bicho isso tudo vai dar.
Uma empresa multinacional de vigilantismo sobre o uso de uma única marca, no fim das contas é isso que a Batman Inc. significa. Agora pensem comigo: o quanto de possibilidades, não só de ação mas, principalmente, de discussões (sociais, políticas, econômicas, heróicas) essa criação pode abrir? Em um mundo repleto de heróis que ou atuam sozinhos ou formam grupos por vontade própria, que perturbação a fundação de uma organização oficial de vigilantes traria?
Não lembro de muitos exemplos dessa tipo de abordagem com super-heróis nos quadrinhos, só me vem a cabeça A Corporação da Vilania Comics, se alguém sabe outros exemplos deixa ai nos comentários. Me remete também um pouco ao conceito da HQ Top Ten e do ato de registro da Marvel em Guerra Civil, onde vigilantes são oficializados, treinados e financiados, mesmo assim é diferente.
Morrison em uma entrevista a revista Wired disse sobre a gênese da nova fase:
Uma das coisas que eu quis foi capturar a atmosfera do jogo Batman: Arkham Asylum que saiu em 2009. Quando eu joguei ele, pela primeira vez na vida, consegui ter uma idéia de como é ser o Batman. Foi muito envolvente. A maneira como o jogo e a história de Paul Dini foram concebidos, da criação às câmeras, me fez sentir como se eu fosse o Batman”.Batman, Inc. é sobre isso – que todos podemos ser o Batman, se quisermos”, seguiu, dizendo também que “o melhor dos games, diferente dos filmes, se bem realizados, é poder não apenas ser outra pessoa, mas criar sua própria história através de suas ações.
Olha o Morrison levando o conceito do Superman pro Batman, onde qualquer um pode ser um herói ou alguém melhor para o mundo. Espero que ele consiga fazer uma nova aventura extraordinária pelos dois anos que ainda tem a frente do personagem.
O que podemos esperar dessa nova fase do morcego? Quem sabe não veremos mais a frente uma guerra dos morcegos, quem pode dizer que não vão surgir falsos morcegos dizendo ser da Batman Inc.? E como ficará a vida de Bruce Wayne com todo mundo querendo saber dele quem é o Batman? E os outros heróis como reagem? É tudo uma critica ao corporativismo agressivo de nossos dias? Bilionários podem fazer tudo que querem ser medir as conseqüências?
Ao mesmo tempo que adoro o Morrison o odeio por sempre vir com algo novo e me arrastar de volta aos quadrinhos de super-heróis que tanto tento deixar de lado, ele faz bem seu papel de vendedor nos dando boas cenas de ação, tramas repletas de intrigas, conspirações, reviravoltas e diversão (fazia tempo que não via uma mensal tão divertida quanto Batman e Robin com o Dick e o Damien como parceiros).Agora é esperar para ver o que insano Big M vai aprontar.