“As pessoas dizem que Deus está morto, mas como podem pensar assim se eu lhes mostro o Diabo?”
O Exorcismo de Emily Rose
Muitas pessoas ainda acreditam na conotação sobrenatural do caso de Anneliese Michel, mesmo a própria Igreja Católica tendo considerado que não houve possessão no caso (ao que muitos atribuem uma decisão apenas para preservar a imagem da igreja). Então não é de se surpreender que Hollywood eventualmente resolvesse aproveitar o a história para adaptá-la ao cinema, principalmente considerando o status que O Exorcista tem até hoje, tendo também sido baseado em uma história real.
Em 2005 foi lançado O Exorcismo de Emily Rose. Dirigido por Scott Derrickson (de Hellraiser: Inferno e o remake de O Dia que a Terra Parou), o filme aborda os aspectos supostamente sobrenaturais relacionados ao exorcismo da Emily Rose do título, que é inspirado pelos eventos ocorridos com a alemã Anneliese Michel.
Na história, temos uma advogada inescrupulosa que recebe o trabalho de defender o padre Richard Moore, acusado da morte da jovem que alegava estar possuída. Todas as evidências apontam para a negligência e a crença do padre Moore de que só poderia curar Emily através de exorcismo como a causa da morte da garota. A narrativa foca-se principalmente no julgamento do padre Moore, mas é alternado com flashbacks do passado onde temos a possibilidade de entender o que de fato aconteceu. Embora todas as fichas estejam contra o padre Moore, e inclusive sua própria advogada ser cética, conforme o julgamento avança coisas estranhas vão acontecendo, justificando o caráter sobrenatural e demoníaco dos eventos.
O Exorcismo de Emily Rose consegue balancear de forma bastante competente os indícios clínicos com a subjetividade característica de todo relato sobrenatural, pendendo obviamente para a segunda hipótese (que, além de ter maior apelo entre o público, é muito mais assustador – cinematograficamente falando). Para apreciadores do gênero de terror, o filme é uma ótima pedida. Não esperem, no entanto, um apuro histórico, já que o filme pega apenas os elementos mais conhecidos da história real para criar uma boa obra de ficção. Apesar de servir como um ótimo – e perturbador – entretenimento para os entusiastas do estilo, não é recomendável para quem espera veracidade histórica mais aprofundada. Mas ainda assim, é um filme recomendável para quem se interessa pelo assunto.
Curiosidades:
– Embora o terror, como já comentei em outros posts, flerte comumente com diversos outros gêneros, o Exorcismo de Emily Rose é considerado o primeiro “filme de tribunal” de terror;
– O roteiro do filme foi escrito a duas mãos, a pedido do próprio diretor e roteirista Scott Derrickson. Enquanto ele acreditava na versão sobrenatural, seu co-roteirista acreditava na perspectiva cética. Isso, segundo o próprio diretor, garantiu o equilíbrio da história e deu mais veracidade à narrativa;
– Existe uma lenda urbana insistentemente perpetuada na Universidade de Minnesota, onde segundo os estudantes, um suposto dormitório assombrado foi onde Emily Rose fora possuída pela primeira vez. Como Emily é uma personagem de ficção criada para o filme (e inspirada no caso real de Anneliese Michel), a lenda é obviamente falsa (embora ainda mantida por muitos da universidade);
– Foram construídas duas bonecas para as cenas de “contorcionismo” da atriz Jennifer Carpenter (que interpreta Emily Rose), mas uma delas não chegou a ser usada porque o diretor descobriu que a atriz possui juntas muito flexíveis, o que possibilitou, em algumas cenas, que a própria fizesse as contorções, contribuindo para o realismo do filme.
Na próxima madrugada:
Enquanto a ficção norte-americana prefere explorar o contexto sobrenatural, o cinema alemão prefere explorar a perspectiva clínica por trás da vida de Anneliese. Na próxima semana, O Exorcismo de Anneliese Michel – Requiem.