Falar sobre temas pesados para um público sem ainda total maturidade para compreender todos os aspectos de um assunto é sempre uma tarefa complicada. Por isso, ao saber da produção de uma série que trataria sobre o suicídio de uma forma em que o público sentisse como o suicida se sentiu antes de praticar o ato me deixou curioso e preocupado de como isso poderia ser feito. Esse motivo, junto com a grande repercussão que teve, me fez demorar a para assistir 13 Reasons Why (Netflix, 2017) e acredito que esperar passar o hype e buscar vê-la com o olhar mais aberto e atencioso possível me fez entender melhor a série e até gostar dela.
O seriado é baseado no livro de mesmo nome lançado em 2007 por Jay Asher e adaptado por Brian Yorkey, ele gira em torno de Hannah Baker, estudante que se mata após uma série de acontecimentos ruins consigo. Após sua morte, uma caixa de fitas cassetes gravadas por ela antes de se suicidar relata treze motivos pelas quais tirou sua vida, mostrando para as pessoas envolvidas como elas foram culpadas pelo fato.
13 Razões… no fim das contas é uma boa série sobre temas pesados e importantes de serem debatidos. Sua estrutura narrativa, construida em lógica de thriller de mistérios, prende o espectador e usa de forma interessante a muleta das fitas e o jogo de edição.
A série tem alguns problemas de ritmo, até acho que poderia ser mais enxuta em números de episódios (afinal, são 7 fitas e não 13), mas compensa bem com boas atuações, uma trilha empolgante e o carisma de Katherine Langford como Hannah. Apesar de achar meio forçado por todas as merdas do mundo em cima de uma personagem só entendo que era uma forma de falar de diversos assuntos sem fugir muito do foco na protagonista. E é incrível como o roteiro e a atriz conseguem nos fazer torcer para que no final ela apareça dizendo que não tinha se matado, só feito “mind games” com as pessoas que lhe feriram. Infelizmente, na série e no mundo real as pessoas se matam de verdade.
Concordo com alguns especialistas que apontaram que para pessoas com problemas psicológicos não é adequado ver o seriado, pois, pode ativar gatilhos emocionais, abalar bastante a pessoa – se já faz isso com quem está são mentalmente imagine com quem não está. Aliás, sobre isso, é um tanto questionável a opção do programa em mostrar um “mundo” no qual a personagem não tem outra opção e todos são horríveis ou tem uma vida bem lixo. Não é nem uma questão de que a personagem não veja saídas, o ponto é que o exposto em tela nos passa a impressão que realmente não tem nenhuma já que não fala muito em telefones de auxílio anônimo, grupos de ajuda e outras formas fora um conselheiro estudantil.
Sei que em muitos casos para a pessoa realmente pareça que não tem outra opção, mas seria um pouco mais responsável dos produtores mostrar pro espectador (não necessariamente pra Hannah) que existem sim e isso ser posto dentro da série – e não somente em cartela de aviso antes da exibição e em um documentário “mea culpa” depois.
13 Reasons Why não é uma série para qualquer um, contudo, é uma série necessária para levantar, assim como pudemos ver por um bom tempo, a discussão sobre suicídio, estupro, assédio, bullying e a ineficácia escolar em prevenir esses problemas.