Uaréva! Uaréview Uaréview: Logan

Uaréview: Logan


Por mais que busquemos ao longo de nossa vida nos manter emocionalmente distante das outras pessoas é natural do ser humano o desejo por apego, a vontade de se conectar aos outros de sua espécie. Quando se tem uma vida inteira de sofrimento passa-se também naturalmente a achar que qualquer relacionamento está fadado a dor, tristeza e perda. Para alguém com mais de cem anos de vida e muitas mortes nas costas esse fardo é ainda maior, e é assim que encontramos o antigo X-Men, antigo Wolverine no inicio de sua nova jornada em Logan.

O filme que marca a saída de Hugh Jackman do personagem nos transporta para o futuro próximo de 2029, uma época onde não nascem mais mutantes, os X-Men não existem e só sobrou ao velho Logan cuidar de um Professor Xavier nonagenário com problemas de saúde. Vivendo como um motorista de limusine na fronteira com o México, sua rotina é quebrada quando uma mulher pede para levá-la junta com uma garota para Dakota do Sul. A partir daí descobrimos que apesar do Wolverine ter se isolado, os problemas para os mutantes continuaram e agora estão bem piores.

Logan é, de fato, um filme ousado que modifica completamente a visão que sempre tivemos dos X-Men e o tom heroico que os personagens tiveram todos esses anos no cinema. Utilizando ainda superpoderes, o longa finca as garras no chão e nos traz não só uma boa obra de ação – por sinal, uma das melhores de todos filmes da franquia X -, mas, também, uma profunda analise de personagem sobre o carcaju que passamos a amar na pele de Jackman.

Temos aqui um anti-herói ferido física, mentalmente e em espírito, que viu tantos amigos morrerem e que está cansado de matar. Alguém que como os bons cavaleiros solitários dos faroestes busca somente viver sua vida medíocre em paz quando é confrontado com toda uma conspiração antimutante e uso de engenharia genética para usar o que ele considera como uma maldição como arma.

Mais do que a história em si, essa até bem repleta de previsibilidades e clichês do gênero, o filme é um ótimo rodie movie sobre laços de família, sejam esses de sangue ou não, e se uma pessoa tão sofrida ainda pode ter chance de amar e ser feliz. Dentro desse contexto temos a fantástica interpretação de Patrick Stewart para um “pai” com graves problemas que apesar de parecer um peso para seu “filho” é a única conexão que ele ainda tem com um passado alegre e com seu lado humano. Na outra ponta da família disfuncional temos a grande atuação de Dafne Keen como Laura, ou X-23 se preferir, uma criança arredia que vê no seu “pai” o amor que ainda não tinha sentido na vida.

Como disse antes, as cenas de ação estão muito boas e repletas de violência catártica, méritos para o diretor James Mangold claramente mais a vontade e com controle sobre a produção. Os vilões seguem aquela cartilha simplista de serem só motivação para as ações tomadas por Logan e movimento da trama, não, pelo menos pra mim, aparentam real ameaça.

O filme tem um inicio frenético e perde um pouco de ritmo no terceiro ato, nada que o estrague e é até bem normal dentro da proposta da história de ser mais sobre personagens que sobre ação super-heróica. Aliás, esse é realmente o grande trunfo que boa parte dos filmes dos mutantes até hoje se perdeu na sua tentativa. Tirando X-Men 1 e 2, os outros se focaram muito em serem épicos, cheios de reviravoltas, coisas grandiosas que ofuscavam o drama dos personagens que apresentavam.

Ao fim da projeção, eu torcia para que a Fox não deixasse essa nova realidade criada em Logan de lado pois traz, finalmente, um cenário realmente de caça aos mutantes e luta por sobrevivência como nenhum outro filme trouxe. Espero mesmo que Dafne Keen retorne a personagem, que saibamos mais de como estão as coisas para os mutantes que ainda existem e se ainda temos X-Men originais vivos.

Com Logan temos um desfecho digno e merecido de Jackman e uma promessa de boas novas nessa nova categorização para maiores de dezoito anos. A Fox podia só uma vez, para variar, apostar no diretor que tem e dar controle a ele desse futuro que criou e vermos, de fato, coisas novas e interessantes. Chega de Brian Singer e suas mesmices.

Vida longa a James Mangold, vida longa a Hugh Jackman, vida longa a Patrick Stewart, Charles Xavier e, principalmente, vida longa a Logan!

Nota: 9.0

PS: E que venha a versão Blu-Ray em preto e branco!

PS2: Alguns tem reclamado que mais uma vez Jackman não usa o uniforme clássico dos quadrinhos do herói. Com um filme nessa pegada toda as pessoas ainda se preocupam com fanservices desses? Esses fanboys…

PS3: Faltou só tocar Hurt do Johnny Cash em algum momento, pô Mangold!

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

Related Post

UaréviewUaréview

Como matar seu namorado por Marcelo Soares Dia dos namorados, você aí pensando na garota gostosinha da escola que queria pegar, ou tem sua própria

Agente GAgente G

Há muito tempo atrás, em plenos anos noventa, um homem lutava contra as forças do mal e trazia inúmeros conhecimentos para nós, crianças, colocarmos em

PresságioPresságio

UARÉVIEWpor Rafael Rodriges Desde que assisti Cidade das Sombras (Dark City, 1998, não confundir com filme recente que foi traduzido com o mesmo nome), sempre