Uaréva! Batman,Cinema,Uncategorized As várias faces do Coringa – Parte V de V

As várias faces do Coringa – Parte V de V


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O sucesso da trilogia do Batman de Christopher Nolan foi tremendo. O primeiro filme da trilogia arrecadou R$ 374 milhões, a sequência, o Cavaleiro das Trevas, disparou, batendo a marca do bilhão, com o feito repetido por O Cavaleiro das Trevas Ressurge, fechando uma franquia extremamente rentável para a Warner Brothers e garantido lugar entre as maiores bilheterias da história.

Tal feito, comparado ao fracasso de Superman Returns e Lanterna Verde, levou a Warner e DC a decidirem levar o estilo Nolan como pauta para todo seu universo cinematográfico. Isso pode ser visto em Arrow, que assume o mesmo clima sombrio e realista da trilogia da morcega, assim como em Man of Steel, o reebot do Super nos cinemas, que tinha Nolan entre os produtores, e mandava o homem de aço para o mesmo clima soturno e entristecido.

Com a Marvel tendo construído com êxito um universo coeso nos cinemas, a Warner não pode mais fugir dessa demanda de mercado. Foi obrigada, mesmo a contragosto de vários criativos e executivos da empresa, a seguir o passo de sua maior concorrente. E foi por isso que o DCEU (DC Extended Universe) foi definido. Nascido com MoS, a Warner anunciou que a continuação seria Batman V Superman, e logo após, Esquadrão Suicida, para surpresa dos fãs da DC.

Claro que o Coringa logo foi confirmado nesse novo universo. O nemesis do Batman é um nome grande demais para ser ignorado nessa construção. E qual foi a surpresa – e alegria do público ao ter Jared Leto confirmado no papel do palhaço do crime?

Entretanto havia um problema: como superar – ou diferenciar – o personagem daquele interpretado magistralmente por Heath Ledger, no filme mais aclamado do homem morcego até hoje, que ainda ganhou mais repercussão depois da trágica morte do ator?

Bem, o resultado foi esse:

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Eu costumo dizer que quando Heath Ledger foi anunciado como Coringa, todo mundo reclamou, até sair a primeira foto.
Quando Jared foi confirmado como Coringa, todo mundo amou. Até a primeira foto.

A aparência do vilão dividiu opiniões, mas visivelmente a reação negativa foi muito mais barulhenta. As tatuagens, os dentes de prata, o visual “saradinho”, tudo isso levantou intermináveis discussões sobre como o palhaço seria caracterizado no filme do Esquadrão.

Sobre a atuação, não havia muito questionamento. Jared Leto é um ator já consagrado, provando seu talento em filmes como Requiem Para um Sonho, tendo se transformado de forma inacreditável, como em Mr Nobody e havia acabado de papar um Oscar por Clube de Compras Dallas.

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Na ânsia por realmente distinguir esse novo Coringa do que ficara marcada pela reinvenção de Nolan e Ledge, Kate Hawley, a responsável pelo novo visual afirma ter se baseado fortemente em referências dos quadrinhos, principalmente na minissérie Coringa, de Brian Azzarello e Lee Bermejo. O que pode ser irônico, visto que a aparência dele nessa obra é obviamente baseada em Heath Ledger.

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Porém o visual obviamente parece retirado de outras obras. Se a posição de Leto na primeira foto de divulgação remete à clássica A Piada Mortal, o cabelo lambido, a versão malhadinho sem camisa e as tatuagens parecem ter tido inspiração em All Star Batman & Robin, Batman R.I.P. e Batman Endgame.

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Já o ator afirma ter tirado a inspiração em David Bowie, sua classe, elegância, e claro, no alterego do cantor, Ziggy Stardust.

Outro passo na criação do personagem levou Jared Leto a se encontrar em especialistas, médicos e psiquiatras que tratam com psicopatas, e propriamente com pessoas que cometeram crime horrendos e que foram institucionalizadas por grandes períodos de tempo.

Assim como Ledger, Leto incorporou o personagem durante todo o período de produção do filme, mantendo-se como Coringa. Will Smith chegou a afirmar que não havia conhecido Jared Leto, visto que ele não conversava com os demais atores fora do personagem. Além disso, segundo consta, ele enviou presentes bizarros ao resto do elenco, como porcos mortos, camisinhas usadas e um rato morto à Margot Robbie, a intérprete da Arlequina, e meteu medo até no diretor David Ayer. Se isso tudo é real ou apenas marketing para criar hype ao redor do filme, talvez nunca saibamos. Mas funcionou.

Teorias começaram a pipocar na internet. A mais comum na época era a de que o Coringa de Esquadrão Suicida era na verdade Jason Todd, que enlouqueceu após ser quase morto pelo vilão original. Nada disso se concretizou.

Todo o foco de Esquadrão Suicida parecia estar centrado no Coringa de Jared Leto. Não se falava em outra coisa.

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E foi isso que frustrou muita gente que foi ao cinema. Acontece que o tom sombrio adotado em MoS e BvS parecia não estar funcionando. Boa parte do público e crítica estava torcendo o nariz para a cara depressiva que a Warner impôs a seu universo DC dos cinemas, e providencias foram tomadas. Todo o filme de David Ayer foi revisto e Esquadrão Suicida acabou recebendo uma metamorfose até estrear.

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E isso parece ter refletido na participação do Coringa no filme. Várias, inúmeras cenas do bobo, do palhaço, do Joker, foram cortadas da edição final. A trama de violência e abuso entre Coringa e Harley Quinn acabou se tornando o pastiche de uma bizarra – e errada – história de amor. Do psicótico sem sentimentos, o Coringa de Leto se tornou um louco apaixonado de alma transparente. Será por medo dos produtores de que esse plot seria sombrio demais para a reestruturação de tom que eles pretendem?

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Se a princípio a ideia do Coringa ser o grande vilão do filme (como as imagens promocionais pareciam querer vender) ele acabou como um incômodo repetitivo ao grupo enquanto tenta resgatar sua amada. Patético uso do personagem.

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A própria Margot Robbie tentou justificar o corte das cenas, afirmando que os produtores entenderam que a carma emocional deveria se concentrar na missão do Esquadrão, no papel da Magia na trama e que a história entre o Coringa e a Arlequina é apenas um pano de fundo, que poderia confundir a storyline do presente.

Por fim David Ayer justificou a tatuagem escrito Damaged na testa do vilão, assim como seus dentes de prata.

Isso é meio que uma coisa pessoal minha e talvez menos uma conexão maior. Mas o Coringa matou o Rogin e o Batman basicamente arrebentou os dentes dele e jogou-o no Asilo Arkham. É no asilo que o Coringa tatuou “Danificado” como uma mensagem para o Batema dizendo “você me danificou. Eu era tão munito antes e agora você destruiu minha cara.” É dae que veio isso.

Ou seja: conversa pra boi dormir.

Enfim, Leto acabou interpretando uma versão bastante questionável do Coringa, o que levou a uma enxurrada de críticas, as quais o ator não encarou muito bem. Em entrevista ao Daily Mail, ele demonstrou decepção pelas cenas cortadas e uma certa intenção em dar uma pausa, ou até abandonar, a carreira de ator.

Por bem ou por mal, esse é o Coringa atual, estabelecido no DCEU que está sendo construído, e espero que consigam acertar o tom do personagem, que já foi tão magnificamente incorporado por atores tão variados e talentosos. Leto está entre eles, e, certamente, tem competência para legitimar o legado recebido.
Basta que a Warner saiba melhor o que quer. E o que o público espera.

 

 

 

Designer gráfico por vocação, publicitário por formação, filósofo por piração.

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“A mente é uma coisa estranha e maravilhosa.Não creio que nós seremos capazes de desvendá-la.Todo o resto, talvez, do átomo ao universo…Tudo exceto isso.” Vampiros