Uaréva! Uaréview Uaréview: Mulher-Maravilha Terra Um

Uaréview: Mulher-Maravilha Terra Um


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Anos atrás a DC Comics resolveu enfim seguir por um caminho que a Marvel tinha feito no inicio dos anos 2000, e da qual a própria editora do Superman e Batman fugia, de criar um mundo alternativo oficial mostrando versões de origens de seus ícones pelas mãos de grande artista da casa.

Esse selo denominado Terra Um teve como primeira publicação o Superman do J. Michael Straczynski, em seguida veio o Batman do Geoff Johns – onde vemos um Alfred ex-militar britânico e mais porradeiro – e com o sucesso de vendas do encadernados vários projetos surgiram e foram anunciados, mas uns se perderam com o tempo ou somente demoraram bastante pra sair. Esse último é o caso de uma versão Terra Um da Mulher Maravilha.

Mulher-Maravilha Terra Um é uma graphic novel escrita pelo polêmico Grant Morrison, com arte de Yanick Paquette e cores de Nathan Fairbarn. A história traz uma nova origem para a personagem buscando emular as ideias originais do criador da heroína, o psicólogo William Moulton Marston, e, ao mesmo tempo, uma tentativa de modernizar a narrativa.

Os trabalhos do Morrison são sempre complexos, conturbados e o famoso ame-o ou deixe-o. Particularmente, eu gosto do autor em boa parte de suas obras, mesmo as que ele mais viagem em psicotrópicos e coisas que só ele entende. Contudo, tenho que dizer logo de cara: Não gostei de sua versão da Amazona de Themyscira!

Nessa nova visão o autor britânico decidiu manter o foco na Ilha das amazonas, em sua estrutura, costumes e no embate clássico de Diana com sua mãe, Hipólita.  A primeira querendo conhecer o mundo do patriarcado e sua mãe proibindo-a falando sobre como os homens são cruéis desde os tempos de Hércules – que na HQ tem a ligação mitológica mantida com a rainha das Amazonas, isto é, tendo escravizado ela e suas súditas.

Themyscira também ganhou um up tecnológico muito interessante, com gadgets, várias naves voadoras (inclusive o famoso jato invisível) e um tom visual de fato bem moderno e mítico. Mas, então você me pergunta, por que isso não é bom? Porque simplesmente Morrison passa toda a edição nesse dilema e exploração de aspectos das amazonas que o William Moulton adorava fazer: as metáforas sexuais e de bondage.

Não, nada contra o bondage e seria até interessante um retorno ao conceito original – como ele fez no seu arco inicial do Superman Novos 52 – se a história fosse algo além disso, sendo realmente empolgante de ler, ainda mais com todo o retrospecto que temos da personagem desde Marv Wolfman e George Perez.

O que me parece é que o Morrison quer somente chocar colocando uma Diana presa por correntes na capa e no miolo da revista, com orgias sexuais amazonas, um Steve Trevor negro, aviões em forma de vagina e um discurso de empoderamento feminino que na minha opinião fica mais como algo forçado só por ser a Mulher-Maravilha e os tempos que vivemos de discursos.

Minha reclamação fica mesmo na história, nas mais de 100 páginas para uma origem que vai de lugar nenhum pra lugar algum, com uma ação bem pouco entusiasmada e tudo um tanto corrido.  Ele tem até boas ideias, mas o todo ficou sem graça e brilho, o que é tudo que esperamos ao ler uma história da heroína.

Não temos um monstro mitológico como antítese, como é o comum, e isso é um caminho até interessante quando se coloca que a violência dos homens é o monstro a ser evitado. Contudo, a história fica entre o julgamento de Diana, militares, lideres de torcida e no fim não se desenvolve realmente, num eterno sentimento de “agora vai”, mas não ia. Até um conflito amoroso entre a Maravilhosa e sua namorada amazona poderia ter rendido um embate tanto sentimental quando de poder e comando legal, mas, enfim…

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Orgia sexual amazona com algumas delas vestidas de servos! Referência a adorações a Ártemis, Afrodite e Atena.

Os desenhos estão ótimos, mas a diagramação é um tanto inconstante. Por vezes ficou ruim pra entender o que estava acontecendo, mas ela me deu a maior sensação que tive ao ler toda a história: Essa Wonder Woman do Morrison soa como uma tentativa de emular uma Promethea do Alan Moore. Explico, nas duas temos um mundo “fora” de nosso mundo cheio de fantasia e magia que os autores ficam explorando e a estética cheia de detalhes no meios dos quadros e formatações diferenciadas deles.

Grant Morrison já foi mais inspirado, isso é um fato. Sua proposta de revisão do ícone da Mulher-Maravilha traz ideias bem intencionadas, mas lançadas aos “porcos”. Não dá para gostar dessa Terra Um, por mais que goste do autor, da personagem, da ideia de usar melhor a Ilha das Amazonas e de inserir mais tecnologia por lá. Uma história em quadrinhos é feita de um bom andamento, reviravoltas inventivas, que prendem o leitor, e conflitos que instiguem a mente de quem lê. Não se pode querer que ideias e desenhos somente façam algo ser realmente bom. Podem até achar que estou sendo radical ou crítico demais, mas é por saber o potência da personagem e da proposta que me decepcionou a leitura. Uma pena.

Nota: 5.0

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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