Uaréva! Uaréview Uaréview: Capitão América – Guerra Civil

Uaréview: Capitão América – Guerra Civil


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Quando Homem de Ferro #1 estreou nos cinemas a Marvel Studios se lançava no escuro e desconhecido, para ela, mundo da sétima arte sem grandes pretensões, buscando ganhar seu espaço perante outras produtoras já com mais experiência em filmes de superaventuras. Para tanto, apostou todas suas fichas no carisma de Robert Downey Jr. e na conexão que ele criaria com o público tanto por emprestar parte de sua personalidade a seu Tony Stark quanto pelo seu histórico de carreira e vida. Aliado a um bom roteiro e direção, o filme foi um sucesso instantâneo e auxiliou a produtora a partir para seu ousado plano de construir um universo de histórias compartilhadas.

Oito anos depois tivemos clássicos heróis em tela, apostas arriscadas, um blockbuster chamado Vingadores e a consolidação da produtora – rapidamente comprada por uma mega criadora de filmes chamada Disney – e seu projeto de um Marvel Cinematic Universe (MCU). Toda essa trajetória naturalmente gerou em seu público uma grande expectativa assim como confiança quando ela resolveu anunciar uma adaptação de uma das suas sagas mais comentadas dos últimos quinze anos – que reúne todos os seus personagens em uma discussão política e filosófica intensa.

Guerra Civil chega ao cinema com todo um peso anterior sobre as costas e com a sombra de não ser só mais um “filme bobo de verão”, como os detratores da Casa das Idéias adoram chamar os filmes marvelianos com seu ar de comédia e baixa densidade de roteiro. Fico feliz de poder dizer que, apesar de qualquer ponto que possa ser debatido como falha ou que merecia melhor desenvolvimento, Capitão América 3 satisfaz e muito tanto quem esperava algo com um tom mais denso quanto os que buscam nas produções da produtora pura diversão e grandes cenas de ação super-heroica.

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Clarim Diário – Guerra Civil Especial / Ano: 2007 / Páginas: 8 / Editora: Panini

O filme dos Irmãos Russo nos vem como um verdadeiro “Vingadores 2.5”, entregando muito do que era esperado para a segunda aparição da super equipe de Joss Whedon e ainda nos dá de extra o ar mais sério que não foi imposto a Homem de Ferro 3 – sem contar a inserção de novos personagens que caem como uma luva bem feita no contexto da história.

Seguindo o óbvio de se distanciar de discussões sobre registro de identidades, como no quadrinho que se baseia, afinal, nenhum dos heróis tinham de fato uma identidade secreta a proteger, a obra acerta em cheio ao ir por uma discussão constante no mundo das HQs que vem, com mais intensidade, em trabalhos como Reino do Amanhã da DC Comics, Guerra Secreta e Supremos da própria Marvel, para ficarmos em algumas, do impacto que ações de pessoas com superpoderes teriam de fato em um mundo real.

Muitos poderão reclamar que o nome Guerra é um exagero perante o pouco número de personagens em tela se comparado com o que se tinha no quadrinho. Contudo, já é de praxe da Marvel Studios utilizar um subtítulo advindo da nona arte somente como guia e não adaptação completa e fiel. Aliás, guerra não é um título exclusivo a um gigante confronto entre grandes exércitos, mas pode ser, por exemplo, um embate entre somente duas pessoas. Uma guerra particular como muitas travadas por nós mesmos ao longo de nossas vidas contra outras pessoas que por alguma circunstância de momento estão em pontos opostos do que consideramos o correto a ser feito naquele instante. É esse caminho que, sabiamente, o filme segue.

Mais do que um puro embate ideológico entre o Time do Homem de Ferro, que defende a necessidade de super-heróis serem controlados por organizações da sociedade como a ONU, e o Time Capitão América, que acredita ser errado o controle e a falta de liberdade de agir, Guerra Civil acaba se mostrando como um filme sobre pessoas e seus dilemas pessoais. Temos o confronto de pessoas, seja de que lado for, que não acreditam que foram traídos por aqueles que consideravam amigos. Porém, em níveis particulares, podemos ver ainda o embate entre quem só quer uma chance de provar que é possível mudar e quem busca vingança, quem ainda busca aprender a lidar com sentimentos desconhecidos e quem sente uma grande culpa e quem sabe o perigo que pode ser para o mundo e o que aponta a falibilidade de pessoas poderosas com diversos interesses envolvidos. Além, claro, do bom “vilão” interpretado por Daniel Brühl (Bastardos Inglórios) que traz reflexões bem pessoais e diferenciadas de outras antíteses heroicas dos filmes anteriores da produtora.

Domingo no Stark x Roda a Rogers (Luciano Abrahão)

Domingo no Stark x Roda a Rogers (Luciano Abrahão)

No meio de todo esse contexto temos a direção afiada dos Irmãos Russo nos trazendo às melhores cenas de ação envolvendo diversos superseres que já foram realizadas até hoje no cinema. Tudo se encaixa bem, conseguimos ver direito o que cada personagem faz mesmo quando temos diversos deles em tela ao mesmo tempo e em duelos próprios. Sem contar a fluidez imposta na combinação de usos de poderes e o belo tratamento de montagem de cenas para não gerar incômodos ou ruídos ao expectador.

Claro que com tanta coisa a ser realizada, e é de surpreender o nível de acertos que a produção nos dá, obviamente defeitos podem ser encontrados e, pelo menos para mim, não atrapalham o conjunto da obra. Alguns momentos de CGI acabam falhando ao deixarem claro para quem assiste que tem tratamento digital – e na grande e ótima seqüência do aeroporto isso chegou a me incomodar um pouco -, e alguns atores pareciam estar já no automático dos personagens e suas atuações não se destacam tanto. Ponho ai na conta principalmente da Viúva Negra da Johansson e, infelizmente, no Capitão América do Cris Evans, que, pelo menos, dá o melhor já visto em Soldado Invernal e se não cresce em atuação como a situação pedia, não decai também.

Um ponto que certamente você verá reclamações por aí são as já famosas conveniências de roteiro e algumas faltas de explicações para certos pontos e, de fato, corta um pouco a graça de toda a coisa. Porém, diferente de outros filmes do gênero, tais falhas não prejudicam tanto o filme como poderiam – e acrescento aí também até as viradas “bruscas” de personagens contra personagens -, ainda mais se pensar o trabalho árduo que é fazer tudo que o filme se propunha e seu acerto em fazer isso ao fim das quase duas horas e quarenta de projeção.

Capitão América: Guerra Civil é um enorme êxito como filme e nos planos da Marvel, prepara caminho para as próximas obras, apara arestas do que veio antes e nos dá uma diversão de HQ em live action. Mais do que recomendado sua apreciação e, se você gostar como gostei, a repetição uma, duas, três, etc. vezes nos próximos anos. A Marvel se mostra mais uma vez grande assim como seus personagens, e que continue assim!

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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