Uaréva! Marcelo Soares,Quadrinhos Hawkeye #19 e a linguagem de sinais nos quadrinhos

Hawkeye #19 e a linguagem de sinais nos quadrinhos


A HQ americana Hawkeye (Gavião Arqueiro) sob o roteiro de Matt Fraction e a arte de David Aja vem trazendo experiências narrativas interessantes ao longo de seu desenvolvimento. Na edição 19, de Julho, os autores ousaram mais uma vez e trouxeram para dentro da nona arte a linguagem de libras (para surdos e mudos).

Contém Spoilers

O recurso não é inédito, (e como aponta o site Pedagogia e Quadrinhos, já foi utilizado, por exemplo, pela Turma da Mônica aqui no Brasil) mas, por conta da não oralidade direta do meio, pouco utilizado – o que deixa de servir como uma boa fonte de informação sobre tal linguagem para aqueles que desconhecem e, também, sobre a vivência dessa parcela da população mundial.

Após perder a audição em uma batalha, a história passa a cortar quase todo o diálogo nas cenas que contam com a presença de Clint Barton, identidade do personagem título. Balões vazios são usados para indicar quando as pessoas estão falando, mas o som de suas vozes não podem ser ouvidos, e quadros aparecem com um “interprete” traduzindo os diálogos existentes e o que acontece anteriormente.

Clint está lutando para salvar o prédio onde mora, mas é uma guerra que não pode lutar sozinho. Surdo e abandonado por todos os seus aliados, exceto por seu irmão, que atualmente está confinado a uma cadeira de rodas, Clint não vê como pode ter sucesso em sua missão, e esta história é sobre ele encontrar a força para continuar lutando a partir de lembranças das lições ensinadas a ele quando criança.

A utilização de tal recurso e tal plot é interessante também por ser sabido que  a maioria das histórias em quadrinhos não têm personagens com deficiências. O que nos faz pensar que já que os quadrinhos atualmente se esforçam para incluir personagens de cada gênero, raça, religião e orientação sexual, as pessoas com deficiência tornam-se uma agenda também muito importante. Por isso, que muito se questionou quando Barbara Gordon de repente voltou a caminhar depois de passar anos construindo uma identidade como a cadeirante Oráculo.
Quando Clint se vê sem sua audição, ele deixa de falar, apesar de não ter se tornado mudo. Contudo, sua auto-confiança se desfaz. Com o apoio de seu irmão e das lembranças infantis, ele se encontra novamente. E tal momento é mostrado em uma bela cena na qual depois de assinar a palavra “nós” para os moradores de seu prédio, levanta o punho no ar e tem seu gesto repetido por seus companheiros de moradia. Um movimento que não se precisa de palavras para se compreender.
São esses momentos ímpares que fazem das histórias em quadrinhos algo muito especial e me orgulho por ser leitor dela. Espero que cada vez mais as deficiências se tornem temas e até lutas dentro dessa arte que tanto adoro.
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MARCELO SOARES

Mestre em Comunicação, jornalista, trabalha com Assessoria de Imprensa e é editor do nosso podcast. Colabora com textos para o blog, como resenhas e notícias.
Twitter: @masquesoares

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