Era manhã de um domingo 27 de janeiro de 2013, como todo domingo acordei tarde, observando o sol entrar pela janela de meu quarto em tempos de verão fervilhante. Como de costume, alguns diriam um mau costume, porém, já corriqueiro para quem gosta de um barulho eletrônico ao acordar e não tem um rádio, peguei o controle de minha televisão particular posicionada em um banco estratégico a frente de minha cama e cliquei no botão de liga.
Quando os feixes de luz acenderam-se, pude ver dois apresentadores de programa esportivo sentados, só segundos depois minha consciência semiacordada pode processar que não falavam do novo grande gol do craque do momento, nem sobre as expectativas para rodada de fim de semana de futebol, falavam sobre tragédia, incêndio, pessoas mortas.
Meus sentidos se aguçaram e me sentei na cama, para ouvir os dois contratados de uma emissora de televisão falarem que pessoas tinham morrido em um incêndio numa boate da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e que por isso as matérias e programas posteriores não seriam exibidos para dar total cobertura ao caso. Em minha mente uma única coisa se passava, como uma velha sentença antiga que volta para uma visita: “hoje tem espetáculo, sim senhor!”.
Guy Debord, em 1967, cunhou o termo Sociedade do Espetáculo para definir nossa sociedade em tempos de capitalismo e consumo desenfreado, onde tudo é superexagerado e em nome de lucros se passa por cima de tudo e de todos.
Infelizmente, nos tornou costumeiro que a mídia, não só brasileira, se agarre com unhas e dentes a esse sistema espetacular – no pior sentido possível. A cada nova morte, tragédia, sofrimento, derrota, vemos o pior possível das instituições midiáticas que deveriam simplesmente nos passar informação, mas que na busca por audiência – e aquele dinheirinho a mais no bolso – passam da conta na cobertura, esquecem limites e o respeito. Com o triste caso de Santa Maria não foi diferente.
Opiniões equivocadas, perguntas mal elaboradas, para ficar no considerado educado, intromissões, julgamentos, extensão desnecessária, o velho Coliseu com gladiadores ensanguentados, dilacerados, como exibição para uma audiência – tão ávida, muitas vezes, por tal circo.
Eu sou jornalista de diploma, não exerço a função, pois, vi que não era para mim toda a correria, deturpações da realidade, e, nesses tempos de jornalismo policial acima de tudo, o estomago necessário para tal função. Um universo onde não se cogita que ao invés de entrar com furo, e ficar com perguntas imbecis, suposições que nada acrescentam, poderiam se preparar, apurando informações para só depois entrar no ar. Claro, existem bons profissionais, pena que quem contrata eles são empresários.
Também vi em redes sociais a velha conhecida ignorância humana, de todos os cantos possíveis do país, que só reforça minha ideia que não vivemos numa nação de verdade – só numa pseudo em tempos de eventos esportivos. Mas, esses ignóbeis nem merecem ser mostrados.
O que devemos-se fazer, de fato, é ajudar as vitimas e famílias gauchas. Quem for da região e puder ajudar voluntários nas área de saúde (enfermeiros, psicólogos, psiquiatras, auxiliares) são necessários, doação de sangue também é importante, se você é da região vá a Avenida Presidente Vargas, 2291 – Santa Maria (RS). Para ajudar com doações de água, luvas, papel higiênico, álcool gel, máscaras e medicamentos, basta ligar para o telefone (55) 3220 -7200. Deixarei dois links com mais informações sobre auxilio, um do jornal Zero Hora e outro do Estadão: Link 1 – Link 2,
Para os muito distantes, que deixemos bons pensamentos, aos que acreditam em algo mais espiritual boas orações, e que o um pouco de conforto possa chegar aos corações dos familiares e as almas dos que partiram e não poderão nunca mais ver um nascer do Sol pela janela do seu quarto.
Mesmo com um texto tão grande, meu sentimento diante de tudo isso não pode se prender a simples palavras, e mesmo ainda neófito no mundo do desenho, busquei por tal sensação no papel:
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