Nyx

“Em um mundo jovem, ter poderes pode ser só mais um problema”

Quando os X-Men surgiram nos anos 60 o público primordial das histórias em quadrinhos eram adolescentes, que passavam mais parte do seu tempo buscando se afirmar socialmente, encontrar um lugar para si no mundo e lidar com a repressão de pais, escola, sociedade em geral. Como já dito por mim antes, isso mudou um pouco atualmente, quando o público de quadrinhos envelheceu e não tem tanta renovação como se deveria para manter esse foco. Por isso, acho de extrema importância histórias que busquem ainda falar diretamente para os jovens que ainda não são adultos e nem são mais crianças.

NYX é uma minissérie lançada originalmente em sete edições pela Marvel Comics entre 2003 e 2005 – no Brasil, foi publicada pela Panini Comics em uma edição especial, em 2006. Escrita por Joe Quesada, hoje editor-chefe da Marvel, e desenhada por Joshua Middleton e Rob Teranishi, a história conta a vida de um grupo de adolescentes pertencentes à classe pobre de Nova York. Esses jovens, que já possuíam vidas problemáticas (problemas familiares, desajuste social, falta de dinheiro), veem sua frágil estabilidade desabar, quando seus poderes mutantes afloram, tendo que fugir de casa e sobreviver nas ruas, sem nenhuma orientação ou apoio.
Apesar de a revista ter seus momentos “super-herói”, com batalhas, mudanças de rumo drásticos do nada, seu mérito é discutir de forma bem feita, clara e sensível ao mesmo tempo. Trazendo a tona problemas e dilemas típicos da adolescência, ainda mais que se foca em personagens femininas – normalmente deixadas de lado nesse gênero ou só utilizadas como objeto sexual.
As principais personagens são Kiden Nixon, jovem de 16 anos moradora da Cidade Alfabeto, em Nova York, cuja família entra em colapso quando seu pai, que era policial, é assassinado. Kiden vê nas drogas e nas festas a fuga de seu mundo. Porém, quando entra em conflito com uma das gangs de sua escola, seus poderes mutantes se ativam.. Tatiana Caban é uma jovem negra do Bronx que apesar de ser pobre encara a vida com otimismo. Ignorada pela mãe, ela oferece sua grande afeição a animais de rua, cuidando de gatos, cachorros e pássaros.
E em sua primeira aparição nos quadrinhos, temos a X-23, sem lembranças de seu passado ela é explorada por um cafetão (de nome Papai Zebra) como prostituta “dominatrix”, utilizando suas garras em clientes masoquistas. O elenco feminino se encerra com Cameron Palmer, professora do colégio em que Kiden estuda Participa ainda Bobby Soul, um mutante com a habilidade de projetar sua forma astral e tomar o controle do corpo de outras pessoas.

A minissérie aos poucos vai mostrando a vida de cada um dos personagens e levando-os a se reunirem para conseguir sobreviver ao ataque de gangues e ao preconceito contra os mutantes. O trabalho do Quesada não é fantástico, nem muda toda a concepção sobre quadrinhos, mas é interessante e importante por trazer outro olhar sobre a vida adolescente em um mundo mutante, ponto que sempre acho mais interessante para pegar novos leitores do que o lugar comum de heróis adultos com temáticas longe da realidade adolescente.
Depois de três anos do lançamento de NYX volume 1, a Marvel Comics voltou a lidar com os adolescentes mutantes em uma nova minissérie em seis edições. Dessa vez, a romancista Marjorie Liu assumiu o roteiro e os desenhos ficaram por conta de Kalman Andrasokszky.

Seja n Marvel, DC Comics ou produções independentes, o mercado de quadrinhos de super-heróis é muito carente de histórias efetivamente feita para adolescentes. Há tempos um Homem-Aranha não tem mais essa pegada, muito menos os Novos Titãs, símbolos durante décadas de uma conexão com o público adolescente dos comics. Falar que o público envelheceu, que só trintões e coroas leem HQs, e são chatos, conservadores, presos em formulas, já é lugar comum.

Em um mundo onde jovens vivem conectados a internet, usando todo tipo de jogos de videogames, não acho que seja o caminho dos quadrinhos se perderem entre sagas de pura porradaria, trazendo o maledito anos 90 de volta. Muita coisa ainda tem para ser explorado para esse filão de audiencia. Nyx pode não ser a perfeição, o caminho totalmente certo, afinal, tem seus clichês também, mas é um bom caminho – ainda mais por também trazer o público feminino.

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