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Batman: Uma Sombra Viva

No Arquivo Uarévaa resgatamos textos antigos, porém, ainda importantes e relevantes para reflexão.

Criar um personagem, seja ele de filme, livro ou quadrinhos, apesar dos Robs Liefelds da vida tentarem provar o contrário, é um trabalho árduo e minucioso. È necessário pensar uma gama de possibilidades, complexidades e motivações. Ouso dizer, que no Universo DC um personagem seja o mais complexo dentre os super-heróis da editora: Bruce Wayne.


Não sei se alguém achou estranho, mas poderiam me perguntar por que me refiro ao alterego e não ao Batman. Para mim, Wayne é a síntese de um personagem multifacetado, um garoto que viu os pais serem assassinados quando ainda era criança e nunca conseguiu superar isso, preferindo se refugiar em uma construção (o morcego) do que se levantar e tentar mudar o mundo de outra forma, afinal o cara é um multimilionário. 

Mas ai você me diria: “ele é um herói, se não tivesse tragédia e trauma não existiria história”, concordo caro leitor uareviano, não critico o caminho escolhido para o personagem, afinal sou fã do Cavaleiro das Trevas assim como ele é. Só utilizo exemplos para mostrar que se fazer uma história não é para qualquer um.

Só para constar: quantos autores sabem, de verdade, trabalhar as várias faces do “príncipe de Gotham”?

Agora falemos um pouco sobre o Batman. Logo de cara percebemos que ele é um Lone Ranger, assim como o personagem que o inspirou: Zorro. Um cara perturbado que, como dito, não soube deixar para trás a morte dos pais e se ancora em uma fantasia de combatente do crime para conseguir viver. Passa noites lutando contra si mesmo, ao socar bandidos e voar entre prédios.

Talvez, por saberem que esse caminho só poderia levar um homem a destruição que introduziram o Robin, para dar uma leveza as suas histórias e uma tábua de salvação para o personagem.

Eu o vejo como um psicótico, sedento por um tipo de salvação ao “fim do túnel”, um cara que começou achando que está fazendo o certo e vai sendo consumindo aos poucos até chegar a um ponto onde surta, não muito diferente de seus vilões.

Por sinal, os vilões são também a síntese de um personagem. Um cara como o Batman tem vilões que são seu reflexo distorcido, e isso torna a história mais instigante ainda, pois, como fica o bem dentro de uma linha tão tênue como a que ele vive em sua luta diária? É necessário para um homem se autopoliciar sempre para não cruzá-la, e só esse policiamento já é um martírio constante pro homem por detrás da mascara, uma forma de deixar mais humano um ser com o pé no mitológico. Uma analogia que gosto muito de fazer é de que ele é o lado violento/sombrio da justiça, enquanto o Superman o lado ingênuo/crédulo.

Eu gosto desse conceito de humanizar heróis, dia desses em uma conversa de MSN da vida discutia sobre isso: eu defendendo a humanização do Batman e meu companheiro de debate quase exaltando o lado “cool” do morcego, reflexos da overpowerização nos anos 90 do personagem. Gosto dos personagens da DC também porque apesar de muito irreais, ele são até mais humanos que os da Marvel.

Explico. Por viverem muito nesse mundo mitológico se tornam mais complexos, na Marvel é tudo muito claro desde o inicio: Homem-Aranha é um fudido, em busca de emprego, amor, cuidar da tia e ainda ser herói, é legal, mas com o tempo se torna previsível, tanto que a cada dois anos são mil reviravoltas.

Um Batman você pode trabalhar vários aspectos de algo tão louco que dá varias interpretações, como vimos ao longo de sua história. Não digo aqui que um é melhor que o outro, isso não existe apesar de grupelhos quererem discutir “sexo dos anjos” em comentários por aí, só digo que são diferentes, e são coisas como essas que tornam o mundo dos quadrinhos um lugar tão maravilhoso.

Texto publicado originalmente em 21 de maio de 2009.

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