Buenas galera.
Vamos dar um tempo nesse papo de novela, né?
Afinal, isso é uma coluna de séries ou não.
Estamos na fall season americana, quando novas séries vão pro ar, passar pelo crivo da audiência e tentar um lugar ao sol na programação. Entre várias, uma tem chamado bastante a atenção do público, e já garantiu temporada completa.
Quer saber do que se trata?
Vem comigo! (Comando da Madrugada mode on)
Basicamente, misture “Fábulas” do Bill Willingham com “Lost” e você tem Once Upon a Time.
A lenda é que, na impossibilidade de criar uma série baseada totalmente em “Fábulas”, OUAT foi criada.
A série é muito mais leve que os quadrinhos da Vertigo, mas tem várias similaridades.
Logicamente tem afinal a premissa básica é a mesma, seres de Contos de Fadas vivendo no mundo real. Mas vamos começar pelo começo.
Tudo começa quando a Branca de Neve e o Príncipe Encantado finalmente foram felizes para sempre.
Será?
Depois de acordar Branca com um beijo, o príncipe e ela se casam. Mas durante a cerimônia de casamento, a Rainha Má invade a festa a avisa: Lançará um feitiço sobre todos ali, e nunca mais existirão felizes para sempre.
E de fato isso ocorre. A Rainha lança um feitiço que acaba com o mundo das fábulas e transforma-o em uma cidade do interior dos Estados Unidos chamada Storybroke.
Nos dias de hoje, em Boston, uma garota chamada Emma leva a vida como uma detetive especializada em encontrar pessoas procuradas. Ela tem uma vida bastante solitária, pois fora criada em orfanatos a vida toda. Tem grandes dificuldades de relacionamento e costuma afastar pessoas. Inclusive o próprio filho, que teve ainda adolescente, e deu para adoção.
Qual não é sua surpresa quando o garoto, Henry, reaparece, batendo em sua porta, e a chamando de mãe. Mais do que isso, ele pede que ela vá com ele para casa – a cidade de Storybroke. Segundo ele, apenas ela pode desfazer a maldição e trazer o “felizes para sempre de volta.”
Ele conta para Emma que todos na cidade são fabulas, mas não se lembram disso. E estão todos presos no tempo, sem envelhecer. E sem poder sair da cidade.
Obviamente, Emma não acredita no garoto. Mas vai com ele até lá, e descobre que sua mãe adotiva é a prefeita da cidade. Preocupada com o bem estar do garoto, ela decide ficar por um tempo em Storybroke para se assegurar que o filho perdido está realmente bem. Para desgosto, claro, da mãe adotiva. E realmente, as coisas começam mudar.
Acontece que, segundo Henry, a prefeita, poderosa, possessiva, que controla e manipula todos os moradores, é na verdade a própria Rainha Má.
A doce professora do primário, Mary Margareth, que se torna grande amiga de Emma, é Branca de Neve.
Há um homem em coma no hospital da cidade, desconhecido, que se trata do próprio Príncipe Encantado…
O psicólogo de Henry, Archie, que tenta entender a imaginação do garoto, é o Grilo Falante.
E o agiota da cidade, Sr. Gold, é na verdade o duende Rumpelstiltskin (aquela que aparece em Shrek 4, mas muito mais amedrontador).
Um mistério ainda é o Xerife da cidade, Grahan. Seu correspondente ainda não foi revelado. O mais óbvio parece ser o Caçador da história de Branca de Neve, mas tem gente chutando que ele é na verdade o Lobo Mau (Bigby?).
Alem disso, vários outros personagens recorrentes aparecem. A vovó e Chapeuzinho têm uma pensão e um restaurante. Cinderela é uma empregada que sofre na mão da patroa. Pongo, o dálmata papai dos 101 Dálmatas, é o cachorro de Archie. Gepeto, os anões da Branca de Neve… Está todo mundo ali.
Emma vai aos poucos se envolvendo na vida de cada um daqueles personagens – que estão presos novamente nas situações iniciais de seus contos, porém sem sequer saber como sair delas.
Mas e aí, Moura, a série é boa?
Meu, é.
É uma série pra toda a família, então esqueça as insanidades de Fábulas. Alias, é um ponto de vantagem. Ao invés de pegar o original e deformar para se tornar comercialmente viável, criaram algo novo e sem qualquer relação com os quadrinhos.
Mas mesmo assim, a trama é bem divertida. Os personagens bem construídos, e um clima Lost no ar. Sim, porque a cada episódio nós vemos os acontecimentos na cidade e flashbacks da vida daqueles personagens no mundo das fábulas.
Mas nada de ser previsível. O enredo mostra o lado B dos contos infantis.
O que aconteceu depois do casamento de Branca de Neve e o Príncipe? Como eles se conheceram? De onde veio esse tal príncipe?
De onde surgiu o Grilo Falante? De quais artifícios Cinderela utilizou para conseguir ir ao baile? E que preço ela pagou por isso?
Como a Rainha se vingou de todos?
Sim, a trama é cheia de mistérios, criando sua própria mitologia. E uma que pode se desenrolar e crescer muito, afinal, como disse a prefeita Regina a Emma: “Pode não parecer, mas Storybroke é uma cidade bem grande.” Vários outros personagens podem surgir, novas histórias serem contadas, e antigas, recontadas.
De Lost, temos muito. Os FBs são sempre analogias as situações vividas pelos personagens no tempo atual. Até os acordes sinistros nos momentos de revelações bombásticas estão lá, iguaiszinhos.
Cópia? Isso é relativo. Once Upon a Time faz alusões diretas a Lost, propositalmente. Chocolate Apollo, a banda Geronimo Jackson, a torre do relógio com os ponteiros parados as 08h15min, o numero 108 da casa da prefeita, Henry gritando “We have to go back!”…
Mas esqueça as milhares de pistas e dos mistérios em doses cavalares da Ilha. Once Upon a Time deixa sim, mistérios, mas você sabe exatamente de onde esses mistérios vêm. O que intriga é o caminho pelo qual ele veio, e como se desdobrará.
A cada novo episódio, Emma se questiona mais se é tudo ilusão de Henry, assim como passa a abrir os olhos, inadvertidamente, dessas pessoas que não sabem sua origem mágica.
As atuações estão muito bacanas. A prefeita Regina, Lana Parrila, te faz ter medo da Rainha Má e raiva de sua versão mortal.
Branca de Neve e Principe Encantado, ou melhor, Mary e David (que é o Fandral de Thor) transparecem bravura e heroísmo em suas versões fábulas e uma química romântica natural na versão “mundo real”.
Rumpelstiltskin é interpretado SÓ por Robert Carlyle, e a interpretação dele me lembrou muito o Grima Língua de Cobra do Senhor dos Anéis.
Mas vou destacar aqui a atuação de Jared Gilmore, o garoto Henry, e Raphael Sbarge como o Archie “Grilo Falante”. Até por ter sido o último episódio que eu vi, que foi focado nos dois, eles dão um show juntos. O garoto simplesmente comanda a série. Sim, porque se a Emma e Regina vivem lutando para ver quem é mais mãe do menino, e algumas vezes isso irrita, ele salva os momentos com atuações espetaculares. E Archie é um personagem que demorou a mostrar seu potencial, mas quando o fez, nos brindou com o flashback mais denso até agora.
Apenas a protagonista Emma, que era a doutora Cameron de House, demorou pra mostrar serviço. A atuação dela é meio canastra, mas a mina é gatinha à beça e compensa.
Estou bem animado pra ver como Emma e Henry vão conseguir salvar todos os moradores de Storybroke da maldição.
Enfim, Once Upon a Time é uma boa ficção, diverte, entretém, te faz ficar procurando referências em todos os cantos e ainda injeta uma grande dose de humanidade aos contos que ouvimos desde criança, sem precisar transformá-los em banhos de sangue e festivais de bizarrices, que parece ser a única forma que Hollywood tem visto de fazer isso.
Indico que você pela menos conheça a série.
Pelo menos enquanto a HBO não produz uma série fiel a Fábulas.
Até o próximo episódio.