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O Pecado de ser Solteiro – Ou a Ditadura do Amor

Momento Uarévaa
por Moura

Existe uma verdade que pouca gente questiona. Disse Tom Jobim e ninguém ousou contradizer.

“É impossível ser feliz sozinho.”

Bem, estou aqui para desafiar a frase de uma de minhas músicas favoritas de um de meus músicos favoritos.

Há uma regra implícita socialmente. Crê-se que apenas atingimos a felicidade plena quando encontramos alguém que nos ame.

E não basta gostar. Está bem claro no livro de regras dos romances que a pessoa deve te amar plenamente, livre de qualquer concorrência. Um para o outro deve existir uma veneração absoluta, em que juras de amor e arroubos de paixão serão cotidianos. Apenas a demonstração pura desse sentimento pleno que arrebata.

Tem que haver o compromisso, a fidelidade e o sentimento de posse. Eu te amo, tu me amas. Portanto não podemos amar a mais ninguém, ou pelo menos não com a mesma intensidade.

Eu ainda prefiro a lealdade à fidelidade. A lealdade não permite a traição por vontade própria. A fidelidade nada mais é que uma regra. Não que ela seja lá muito respeitada.

E seria lindo se tudo acontecesse dessa forma.
Romances são épicos. Em paginas de livros, telas de cinema, roteiros de televisão.

Não, não me entendam mal.

Não estou aqui lançando a bandeira do amor livre ou do ninguém é de ninguém.

Apenas não acredito que seguir a regrinha básica do “não fique sozinho” como um mandamento inexpugnável seja o mais sensato a se fazer.

Não existe filme, serie ou novela que não se acabe com os casais sendo felizes. Felizes para sempre.

Será?

Será que príncipe não bebia demais enquanto a Branca de Neve tinha que lavar suas cuecas – e de mais sete anões?

Será que Cinderela não encheu o saco de tanta pompa e acabou caindo no pagode com o cocheiro, honrando a antiga alcunha de Gata Borralheira?

Difícil saber. A cultura popular nos ensina apenas que o amor tudo resolve. Quando você se apaixona, tudo fica lindo. O sol é mais brilhante e a lua conversa com você. Seus problemas somem e o mundo fica mais fácil de encarar.

Entretanto, se você não encontra sua metade da laranja… Pobre coitado. Ou pior. Coitada.

Mulher solteira aos 30 ficou pra titia. Homem solteiro aos 30, capaz de pegar fama de boiola.

Como se casar com um beberrão que bate em você fosse um ótimo remédio para evitar os comentários nas festas de família.

Ou casar-se com aquela megera serve para que você não fique comentado na rodinha. E nem que questionem a sua.

Eu poderia listar aqui um sem (ou ainda, cem) numero de motivos para ser solteiro.

Entretanto não é esse meu propósito.

Não quero aqui bradar que o bom da vida é sair, beber, jogar, foder. Alias, até essa incessante propaganda de que sendo ele solteiro, a obrigação do homem é transar com a maior quantidade de mulheres possível é, tanto quanto, ditatorial. Apenas uma forma do ser humano condicionar a idéia de que precisa sim, de conquistas e se reafirmar. Cada um segue o dogma que lhe convir. Eu sigo um apenas – o das minhas vontades.

As coisas acontecem quando devem acontecer. Ou em alguns momentos, simplesmente não acontecem. Ou acontecem, e como tudo na vida, tem prazo para acontecer.

Você já ouviu falar de um casal que, depois de 30 anos casados, separou-se? E um comentário qualquer surge – “Mas que pena que não deu certo.”

Não deu certo? Claro que deu. Deu certo por 30 anos. Que fosse por cinco anos. Ou seis meses.

Deu certo. Deu certo no tempo que tinha que dar. Algumas pessoas passam por nossas vidas, outras ficam. Isso não quer dizer que não deu certo.

Associa-se sucesso com eternidade. Para algo ser êxito, não necessariamente é para sempre.

Mas são os famosos “Felizes Para Sempre”. Já dizia outro grande musico: O pra sempre, sempre acaba.

Enfim, meus caros, isso é um pequeno desabafo. Ou nem isso. Uma pequena reflexão.

O amor mais importante, já ensinou Scott Pilgrim, é o amor próprio.

Perguntam-me até hoje se não me falta alguém que me complete. Não procuro, definitivamente, alguém que me complete. Nasci completo. Ou se não nasci assim, aprendi com a vida a ser completo. A me bastar. Espero encontrar um dia alguém que some. Agregue.

E se a metade da laranja não aparece, fico ainda com a metade do limão. Misturo com cachaça e açúcar. Sento-me na beira da praia e brindo a vida que segue.

Cheers.

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