E indo no embalo do último post, com o elenco imaginário da série dos Supremos, hoje o tópico é o mais novo lançamento na área de animação da Marvel:
Bom, como eu já cansei de falar por aqui, a Marvel nunca foi muito feliz em seus desenhos animados. Roteiros bobocas aliados a qualidade pífia dos traços resultaram em um apanhado pouco expressivo no campo do cartoon. Com algumas raras exceções, como o desenho dos anos 90 dos X-Men (que, sejamos francos, se apóia mais numa memória seletiva saudosa do que em sua qualidade verdadeira), raramente algo se destacou nessa área da Marvel.
Entre as tosqueiras produzidas, claro que o maior grupo da Marvel teria que ser jogado na telinha. Então o desenho Avengers foi cometido.
Convenhamos que os tais “maiores heróis da Marvel” nunca haviam sido levados muito a sério. Mesmo nos quadrinhos, Capitão América, Homem de Ferro e Thor só eram a Trindade na cabeça dos editores. Heróis como Homem Aranha e Wolverine sempre foram muito mais populares que o trio, assim como o Quarteto Fantástico e, principalmente, os X-Men, eram muito mais conhecidos que o auto-intitulado grupo mais poderoso do mundo.
E um dia a editora percebeu isso, e mandou lenha na popularidade dos personagens. Destruíram o grupo, reconstruíram com uma versão Liga de Justiça – usando seus medalhões ao invés de um bando de buchas desconhecidos – e fizeram todo o universo da casa de ideias girar em torno da equipe.
E eis que, as vésperas dos Vingadores se tornarem um marco no cinema (independente da qualidade dos filmes) ao interligar vários filmes culminando em um, a Marvel finalmente consegue nos brindar com um desenho animado a altura da importância destes personagens.
O desenho utiliza-se de um recurso que sua Distinta Concorrência abraçou desde Batman Animated – um traço limpo, cartunesco, simples e que muito lembra realmente o DCAU. A animação é ágil, e os roteiros cheios de ação, piadinhas, referências e uma pitada de drama. Mas só uma pitadinha.
Antes da estreia oficial do desenho, pequenos episódios de poucos minutos foram lançados – e caiam na Internet logo em seguida. Esses mini-episódios mostravam um pré-equipe de todos os protagonistas, em historias solos, que culminariam no encontro de todos e a formação dos Vingadores, deixando um gostinho de quero mais na galera. É o cinema ensinando alguns truques para a TV, truques que ele mesmo aprendeu com ela um dia.
Bem, logo de cara, vemos uma fuga em massa de prisões da Shield. Obóviamente, os maiores heróis da Terra acabariam se encontrando para evitar o desastre que se avizinha. Logo nas cenas das fugas, vemos dezenas de vilões conhecidos da Marvel – e alguns bem obscuros. O que dá o mote da trama, afinal, agora é necessário recolocar mais de 70 superviloes de volta atrás das grades.
Depois de uma cena exageradamente massa véio – que se acontecesse de verdade teria limado Nova York do mapa – a primeira formação dos Vingadores é criada: Homem de Ferro, Thor, Gigante, Vespa e Hulk.
Isso mesmo. A série respeita a formação original da equipe, na época de sua concepção.
Logo em seguida novos membros acabam sendo introduzidos: Capitão América, Gavião Arqueiro e Pantera Negra. A introdução dos personagens é feita com muita naturalidade, em episódios que justificam totalmente suas existências, e fluem respeitando muito a cronologia dos quadrinhos, mesmo que bebendo da fonte Ultimate como vemos no caso do background de Clint Barton ou do Capitão Marvel.
A Shield também está presente, como uma espécie de “mal necessário” – uma CIA cheia de segredos e sujeiras que tem como objetivo manter o mundo a salvo – e é um ponto de conflito com o personagem do Homem de Ferro.
Alias, Tony Stark logo se mostra o líder do grupo ao criá-lo e mantê-lo financeiramente. Ele cede ao grupo uma mansão em NY com aparatos tecnológicos de ultima geração, incluindo um computador Jarvis, provando que até dos filmes foi-se feito proveito das ideias. Mas aparentemente um problema que eu sempre via nos quadrinhos aqui se mostra cabível. Quando o QG de um supergrupo é uma casa no centro da cidade, a probabilidade de vilões malucos entrando e saindo do local todos os dias é bem grande.
Os personagens estão muito bem desenvolvidos.
Tony Stark é o legitimo playboy. Claro que a putaria e o alcoolismo foram limados totalmente, mas ele parece um garoto cheio de brinquedos, tecnologicamente genial mas que ainda vê o mundo como seu parque de diversões.
Thor faz jus a sua contraparte 616, com fala pomposa e grande honra. Ele se mostra de boa o mais poderoso do grupo – porem fica bem claro que ele não poderia resolver tudo sozinho. E isso é um ponto importante em uma equipe que tem em suas fileiras um Deus Nórdico ao lado de um arqueiro.
Hank Pym é retratado como um verdadeiro gênio científico – apaixonado por ciência, ser um super-herói não é sua prioridade. É a versão menos bucha do Homem-Formiga / Gigante, pois aqui ele parece ser o mais centrado do grupo e o cara que acaba tendo as ideias para resolver os problemas.
Janet Van Dyne é uma típica patricinha que se diverte com sua nova posição de super-heroína. E, impressionantemente, a única garota do grupo segura bem o papel de é um dos destaques do desenhos. A série se utiliza do recurso de revezar seus personagens em cada episódio, e a Vespa é a mais utilizada.
Steve Rogers surge como alguém fora do seu tempo e é um ótimo retrato do personagem. Polido porém deslocado, ele a principio segue as ordens do Homem de Ferro, mas aos poucos ele vai se tornando um líder de forma orgânica, devido a seu discernimento e a liderança natural que exerce sobre os demais.
Hulk passa a maior parte do tempo na sua forma monstruosa. Isso mesmo, Bruce Banner raramente aparece, fato que eu ainda não consegui compreender, mas que aparentemente tem funcionado. O Hulk aqui não é uma besta ignóbil que grunhe, mas um monstrengo grosseiro, rude, sem educação, porém racional. Ele faz às vezes de “Sawyer” ou “Logan” do grupo – sempre questionando a todos e – pasmem – colocando apelidos nos companheiros, como chamar o Thor de Cachinhos Dourados.
Clint Barton é um agente da Shield acusado de traição por uma artimanha da Viúva Negra e acaba se aliando aos Vingadores para provar sua inocência. Clint é um dos meus personagens favoritos. Suas falas são cheias de ironia e cinismo, sempre soltando uma piadinha – oportuna ou imprópria. E ele acaba se tornando o grande camarada do Incrível Hulk.
T’Chala surge como o personagem mais misterioso. A participação dele é mais reduzida e ele raramente se abre de alguma forma. O Pantera Negra é reservado, leal e humilde, no momento em que abre mão do seu reino em nome de se aliar aos Vingadores. De rei a soldado que recebe ordens sem pestanejar.
Enfim, a personalidade, poder e idiossincrasia de cada um dos membros do grupo acaba por balancear tudo, tornando cada um deles importantes para o desenvolvimento da trama. Em resumo, o ímpeto da Vespa, a liderança do Capitão América e o intelecto do Homem-Formiga são tão importantes para a equipe quanto à tecnologia do Homem de Ferro, o poder do Thor ou a força do Hulk.
O roteiro vem abrindo várias possibilidades, e a primeira temporada, apesar de ainda não ter um mote principal, vai criando os caminhos que podem levar a eventos como a Guerra Kree/Skrull, as Guerra Civil, a Invasão Secreta, entre outros conhecidos dos leitores da Marvel Comics. Os episódios seguem uma seqüência de eventos bem legal, ao invés de ser apenas episódios soltos sem muita ligação. E o resto do universo começa a se montar, com participações ou citações do Quarteto Fantástico e dos X-Men, entre outros.
Entretanto a Marvel ainda não aprendeu a dosar ação/roteiro como a DC fez tão bem por anos – e está fazendo com Young Justice. Apesar de divertidíssimos, dá pra perceber o padrão dos episódios, em que surge a ameaça, vamos porradaria massa véio por metade do episodio e no final algum dos personagens (normalmente Pym) saca uma solução qualquer em uma epifania súbita para resolver o problema. É um detalhe que incomoda um pouco se você for chato como eu, mas que não chega a atrapalhar o divertimento que a série proporciona.
Fico feliz em ver que depois do incrível Spetacular Spiderman, a Marvel manteve a qualidade de seus desenhos animados com The Avengers. E que todo o universo da editora se molde ao redor deles, quem sabe um dia criando o Avenger Unlimited. Afinal, nada se cria…
Vale muito à pena dar uma conferida, e Moura indica com veemência.
Até o próximo episódio!