Deixe de lado a roupa com cores da bandeira americana ou seu famoso America way of live. Querendo ou não Superman é uma dos mais importantes personagens da cultura pop ocidental e em outros tempos – bem, para mim ainda é, mas sabe como são os jovens de hoje em dia – um símbolo de bom mocismo, ética e desprendimento.
Sem uma terra natal, Kal-el assumiu sua nova morada como responsabilidade sua e se dedicou a ser um salvador, alguém conectado com os humanos. Inúmeras vezes nas histórias em quadrinhos do personagem, podemos ver o bom uso dessa característica de sacrifício dele pelos autores. Afinal de contas como esquecer como Alan Moore tratou do tema em Para o Homem que tem Tudo? Onde Superman abdica do sonho de uma vida harmoniosa kriptoniana para salvar a vida de seus companheiros de luta. Ou ainda sua revolta contra os humanos ao destruir quase completamente a sede da ONU em Reino do Amanhã, um grito de raiva pela destruição e insensibilidade que o ser humano causa a sai mesmo. Ainda podemos destacar a fantástica edição 10 de All-Star Superman de Grant Morrison. Tão boa que até o J. M. Straczynski “homenageou” em Superman 701:
Na história, depois de voltar a viver na Terra, Superman resolve ir atrás de se conectar novamente com o povo que decidiu proteger e parte em uma jornada a pé pelo Estados Unidos. O plot é um tanto quanto, digamos, ridículo. Afinal, porque um homem que pode ouvir tudo, voar e ver através de paredes iria simplesmente sair andado em um estilo Forrest Gump de ser? Imagino que os leitores nos anos 80 se perguntaram o mesmo sobre o Road Tour do Arqueiro Verde com o Lanterna Verde, e todos sabemos o tão interessante que foi. Então, ainda dou um crédito ao Straczynski, que usa a idéia para contar pequenas histórias intimas, levar para outro lado o Superman, depois de meses de batalhas épicas em Nova Krypton.
Nesse primeiro número de um arco em doze partes, como prometido pelo autor, onde o Azulão passara por uma cidade americana diferente a cada nova edição, nos deparamos com o espanto e curiosidade da imprensa – incluindo Lois Lane – do motivo do Super fazer aquilo, e ainda por cima andando.
Logo após, ele começa a encontrar, conversar e ajudar pessoas nos seus mais variados problemas, desde uma arrumação de estoque até gangues em bairros, seguindo seu caminho para o próximo destino.
O que esperar dessa saga? Só o Straczynski sabe. Espero que ele não cometa o mesmo erro que Brian Azarello (aliás, por onde anda ele?) cometeu em sua passagem pelo personagem, onde com a idéia de colocar mais filosofia nas histórias, discutindo a importância de um Super Homem na Terra, as conseqüências disso e o caráter religioso (com um padre como coadjuvante), apesar de bem intencionada, foi errônea na execução: lenta demais e filosófica demais em seu inicio para um herói de ação – Brian Singer feelings – e então sofreu intervenção editorial virando um arremedo de clichês, porrada e explosões, terminando com um padre monstruoso e a fortaleza da solidão destruída de forma ridícula.
A saber, o nome da série em inglês, “Grounded”, tem dois significados: o primeiro significa “no chão”, o que levou à crer que o personagem deixaria de ter poderes – seria até interessante isso. O outro seria “de castigo”, o que parece mais apropriado com a descrição dada pela DC, onde ela pergunta como o personagem pode, depois de guerra dos Super-homens, continuar a ser o defensor da Verdade, Justiça e do “jeito americano”?