Sabe aquele papo de que o escritor nunca tem liberdade criativa porque os editores ficam metendo o bedelho e ele tem que mudar um monte de coisas? Pois é.. Será que se o escritor, nesse caso o Chris Claremont, não tivesse interferências não seria bem melhor? Normalmente eu diria que sim mas esse post, que recebemos do Miracleman Jr, taí pra provar que nem sempre..
Confiram ai que tá muito legal e colaborem tambem: o tema é livre, envie seu texto e imagens pra nossa “junta avaliadora” através do e-mail contato@uarevaa.com.
Há um tempo atrás, li no MDM a notícia de que o Chris Claremont ia escrever uma série especial dos X-Men, uma espécie de “O que aconteceria se eu não tivesse levado um pé na bunda da Marvel e pudesse escrever os X-Men do jeito que sempre quis sem nenhum editor me enchendo o saco e sem desenhistas, como o John Byrne e o Jim Lee, dando pitacos”. Na hora, achei a ideia muito foda, apesar do Change ter dito que ia ser uma merda, afinal cresci lendo os filhos do átomo escritos por esse cabra lá nos anos 80 e início dos 90 e nunca tinha tocado em nada dele depois disso (revistas que todo mundo critica para caralho).
Fim de semana passado, resolvi bai… ir-aos-EUA-e-voltar para conferir o material. Bem, se alguém tinha curiosidade de ler a bagaça… NÃO FAÇA ISSO. Resolvi fazer um serviço de utilidade resumindo a história. Só tem SPOILERS, mas desses ninguém vai reclamar.
O Tio Chris escolheu os seus mutunas favoritos + aquele que ele odeia (que a maioria dos nerds ama, mas não admitem) para formar a equipe: Prof. X, Tempestade, Fera, Jean Grey, Ciclope, Vampira, Noturno, Gambit (Remy Picard? Mas não era LeBeau???) e Lince Negra (Kitty Pryde e Lockheed? Um complementa o outro???) + Wolverine. É uma equipe enxuta, mostrando que ele não gostou da ideia da mansão X cheia de gente, como ficou logo depois do seu último arco junto com o Jim Lee com duas equipes (azul e dourada) e hoje em dia extrapolou um pouco com 11,5 equipes e milhares de fedelhos correndo pra lá e pra cá.
Além disso, agora a Mansão X é uma repartição da SHIELD. O Nick Fury e os outros agentes ficam lá o tempo todo para evitar que os mutunas façam merda, mas, é claro, que não conseguem, se não a revista não teria graça (mas pior que não tem mesmo).
A primeira missão dos X-Men é vingar a morte do Magneto, prendendo a pessoa que livrou o mundo daquele terrorista de uma figa. Porra, é como se alguém matasse o Bin Laden e a OTAN enviasse um exército para prender o cara. Eles vão atrás do pobre do Fabian Cortez, que tem o “perigoso” poder de aumentar o poder de outros, que está na dele curtindo as férias numa floresta tropical.
O ex-baba-ovo do Magneto destrói o X-Jato enquanto a equipe batia-papo e ficava sonhando acordada. Quando chegam ao chão, ele dá uma coça no grupo. Não era para menos, os caras pensavam mais em outra coisa do que se concentrar na batalha, só para vocês terem uma ideia, o primeiro quadrinho da revista mostra a Jean sonhando que estava dando uns amassos no Wolvie numa praia deserta. Lembrem que nessa época ela ficava enrolando o Ciclope, fugindo dos pedidos de casamento dele. No fim, nossos corajosos heróis conseguem derrotar o Cortez numa emboscada…
Quando eles voltam, são sacaneados pelo Nick Fury e todo mundo fica meio putinho por isso e pela surra que levaram. O Wolverine, como sempre, vai dar um passeio. Enquanto isso, a Jean está dando mole para ele telepaticamente ao mesmo tempo em que está numa reunião chata (igual às piriguetes de escritório que ficam no msn ou mandando mensagens do celular durante as reuniões de trabalho). De repente, a Jean grita: “LOGAN?!?”. Cena do próximo capítulo: um esqueleto fumegante do Wolverine. Não disse que o Claremont odiava o baixinho? Matou na primeira edição.
A luz acabou e está todo mundo desmaiado pelos cantos da mansão X. Quem atacou nossos queridos mutunas? A Tempestade acaba de chegar, ela também tinha ido dar uma voltinha (onde essa menina foi, hein?). Os canas acham o corpo do Wolverine e depois a SHIELD aparece, mas começam a duvidar que seja o corpo do baixinho canadense. Mas porquê? Porque uma das mãos só tinha duas garras! Oh. Será um filho perdido ou um clone defeituoso? Mistério.
Alguns deles acordam e começam a se refazer do ataque. Alguém invade a mansão X. Poxa, é o Dentes-de-Sabre, que surpresa. Afinal, ele só apareceu na capa da edição 1 junto aos X-Men fazendo pose e na capa da 2 derrotando todo mundo. Essa não dava para saber.
As capas são um “show” a parte, a 2, curiosamente, mostra a Jean vestida de Fênix e a Tempestade de tiara (que não faz parte do uniforme atual). Os visuais dos personagens nas capas mudam mais que temperamento de mulher… O capista esqueceu de uma coisinha chamada continuidade.
O vilão está lá para matar quem matou o Wolverine. Habilidade detetivesca assim só tinha visto com o The Batman, pois poucas horas depois do assassinato do Logan (ou de alguém parecido), ele soube da morte, já descobriu quem foi e está prestes a matar essa pessoa. Estranhamente (ou não), ele ataca a Tempestade. Os X-Men o impedem, tomando outra surra, só que dessa vez a Tempestade resolve não se conter, como na luta com o Cortez, e cega (oh) o Dentes-de-Sabre.
Caras, que capa escrota. Os X-men tomando um raio com a frase “A perfect Storm… of evil”. Começa com os leitores (ou masoquistas) sabendo que tem alguém infiltrado na equipe por ordens de alguma organização secreta! Quem será??? O Prof. X invade a mente da Jean, achando que o pseudo-ataque veio dela e descobre que, parapapam, a Tempestade matou o Wolverine!!! De repente, a Jean acorda querendo coro da Ororo pelo assassinato do Logan, ainda por cima fala para todo mundo ouvir que ela tinha acabado com a vida do homem da sua vida (pobre Ciclope cornudo).
Os X-Men fazem montinho na Tempestade, mas ela consegue fugir, trancando todo mundo na sala de perigo. Só a Kitty consegue sair (o Noturno fica mandando uma lorota braba para justificar o fato dele não se teletransportar). As duas caem na porrada. Agora é o momento mais escroto dos gibis de todos os tempos. Lembram que estava faltando uma garra do esqueleto do Wolverine? Ou vocês, putinhas do Logan, estavam torcendo para ser outra pessoa?
Bem, a capa da quarta edição, que mostra a Lince Negra em um uniforme diferente, responde esse mistério: “This Kitty’s Got CLAW!” (a gatinha tem garra). Puuuuuutz, uma garra do Wolverine foi parar no braço dela… Mais tarde o professor Fera nos explica (?) que isso aconteceu na luta contra o Cortez (???). A Kittyrine corta a fuça da Tempestade na maior tranquilidade, até comenta que doi usá-la e tal, só isso. Isso que é mulher macho! Lembro que na época que o Wolvie perdeu o fator de cura, toda vez que colocava as garras para fora o cabra chorava de dor.
O Dentes-de-Sabre se junta à equipe, afinal, como o Wolverine bateu as botas, eles tem que ter um membro feroz. Mas e o Fera? E qual o problema de dar guarida para um vilão sanguinário? Deu para ver que o Claremont apenas bateu o pé como uma putinha colegial durante todos aqueles anos para se livrar do Wolverine por pura birra contra o John Byrne. Pô, quando ele finalmente consegue o que tanto sonhava, coloca o “Wolverine dos pobres” no lugar.
E a Jean que aparece usando um uniforme novo? Ela estava com tanta raiva da Ororo que antes trocou de roupa… Sem falar que os uniformes do gibi foram, cronologicamente falando, adotados pelos personagens há pouco tempo. Claremont dando uma de birrento de novo, dessa vez sobrou para o Jim Lee.
Voltando a história.Os X-Men se separam para ir atrás da nova vilã, como no Scooby-Doo. Uma equipe vai pelos esgotos (Jean, Ciclope-sou-corno-mais-sou-feliz, Kittyrine e Ceguinho) e a outra vai voando pela cidade (Remy Picard, Vampira e Noturno).
A equipe do esgoto fica batendo papo e sonhando acordada, igual na missão contra o Cortez, levam um SKABOOM e apanham da Tempestade. Amadorismo? Não, que isso. Culpa do Claremont que adora balõezinhos, tirando a concentração dos mutantes, que são tão maduros quanto a turminha da Malhação.
A equipe que estava voando por aí, batendo papo e sonhando acordada, encontra uma figura inusitada: a Tempestinha!!! Caralho. Aquela versão da Ororo que tinha sido “juvenizada” pela (o) Babá e teve várias aventuras aventurescas ao lado do Gambit. Mas a Tempestade não tinha voltado ao normal? Sinto cheiro de Saga dos Clones no ar…
Todo mundo de uniforme novo (de novo) na capa da quinta edição, apesar de ninguém ter mudado na revista. Deu para sacar que o Claremont não gostou daqueles uniformes do Jim Lee ou é só birra mesmo. O mais improvável de todos é do Gambit, todo estilo Matrix flamenguista: sobretudo preto, blusa social vermelha, gravata preta, cabelo curto com gel e óculos escuros vermelhos.
Descobrimos que a organização secreta que subornou a Tempestade (ou o clone ou sei-lá-quem), fazendo-a virar casaca se chama Consortium. Parabéns, pena que já perdi o interesse lá na primeira edição. Alguns mercenários ligados à essa organização tentam matar a Tempestinha e a Tempestade, mas as duas equipes dos X-Men as salvam. A Tempestade foge e a Tempestinha se junta a equipe, claro. Agora que a Kitty é a X-23, o grupo precisa de uma juvenil fracote. Nunca pensei que ia falar isso, mas senti falta da Jubileu.
No final, temos uma revelação surpreendente. O Fera, como não deixaram ir à nenhuma missão, ficava esse tempo todo fuçando o computador do Prof. X e achou uma coisa: um vídeo pornô dele com a Lilandra! Mentira. Ele descobriu que o careca guardava um segredo: todos os mutunas morrem jovens!!! Porra, mas é a penca de tiozões que sempre estiverem nas revistas dos X-Men? Alguns foram criados pelo próprio Claremont, sem falar que vários aparecem em X-Men Forévis. O cara, para defender uma pseudo liberdade criativa enfia um monte de merda e esquece as próprias coisas que escreveu. Será que ele não gostava de ter X-velhotes nas tramas e todos foram impostos por nefastos editores? Vai saber…
Apesar de muitas confusões, temos um final feliz para todos os filhos do átomo e agregados. Até o corno do Ciclope está contente, parece que essa versão do gibi foi inspirada no filme que o Change deu nota 11, ele aceita calmamente ser só amigo da Jean, sequer se irrita ou joga as roupas dela pela janela como o Abel fez com a Norminha. Ah, um dos mutantes se deu mal: o Wolverine, o ódio do Claremont, que agora está comendo capim pela raiz.
Nota: 0 (claro!)
Conclusão: Esse monte de merda fumegante não foi de todo ruim, porque me fez ver com mais clareza uma coisa na indústria dos quadrinhos. Vez ou outra, lemos sobre um roteirista reclamando que não pode escrever o que queria, outro que foi obrigado a inserir tal coisa na trama e mimimi que não acaba mais. Eu sempre ficava do lado dos escritores. O Claremont era o rei disso nos X-Men. Mas, francamente, graças a Deus que restringiram a liberdade criativa dele. Agora vejo que, de vez em quando, a razão está com os editores (os Quesadas e Didios de hoje e de ontem) que impedem cagadas como essa.