Bom, considerando o sucesso que Fábio Moon e Gabriel Bá chegaram a alcançar, tornando-se nomes respeitados dos quadrinhos aqui e lá fora, fiquei muito animado quando encontrei 10 Pãezinhos – Mesa pra Dois na livraria. Finalmente ia poder conferir porque falavam tão bem desses dois. Mas o fato é que, depois de ler a história, ainda estou me perguntando o que é que viram neles.
10 Pãezinhos, para quem não sabe é o nome usado pelos gêmeos para contar diversas histórias do cotidiano, cujo primeiro lançamento se deu ainda em 1997, primeiramente como um fanzine impresso que chegou a 40 números. Atualmente, já foram publicados 5 livros dos 10 Pãezinhos: “O Girassol e a Lua” (2000, Via Lettera), “Meu Coração, Não Sei Por Quê.” (2001, Via Lettera), “Crítica” (2004, Devir), “Mesa para Dois” (2006, Devir) e “Fanzine” (2007, Devir). O que tive a oportunidade de ler é o penúltimo lançado e, preciso dizer, me decepcionou bastante.
A HQ conta a história de um velho escritor que, sem idéias para continuar seu novo livro, decide colocar um anúncio no jornal contratando alguém para conversar com ele. Uma jovem, que também trabalha como garçonete, atende ao classificado e passa a ser paga para ir até a casa dele, apenas para conversar. Assim, ele poderá se inspirar nas conversas entre eles para poder continuar a história.
O argumento é bastante interessante, e o que os gêmeos querem passar com a história também. É uma história sem mutantes, super-heróis ou monstros, que mostram apenas pessoas comuns vivendo suas vidas comuns, elementos que são, na verdade, justamente a base para estas outras histórias.
“Mas então, porque você se decepcionou?”, você me pergunta. Bom, eu sou uma pessoa deveras complicada. Ao mesmo tempo em que achei a intenção excelente, a execução achei bem abaixo do esperado. A história é otimista; até aí tudo bem, mas ela é otimista demais pro meu gosto. Todas as pessoas são legais, o patrão não pensa em dinheiro, só quer descansar e dá uma de cupido. Mais novela das 6 impossível. Isso só para citar um exemplo.
A história também é muito, mas muito ingênua. Um cara coloca no jornal que está querendo pagar alguém para conversar, e não há nem sequer uma desconfiança das segundas intenções do cidadão. A jovem não conhece o cara, nunca o viu na vida, mas olhou o classificado e, apesar do pedido estranho, não teve motivos para duvidar de alguém que nem sabe quem é. Fora uma série de outras situações que chegam a ser constrangedoras de tão inocentes.
Há também uma série de momentos de pura conveniência apenas para fazer a história seguir seu rumo de forma rápida (afinal, são poucas páginas), mas isso não chegou a me incomodar. Os personagens tentam ser interessantes, mas são muito “apagados”. Tudo bem que a idéia era fazer uma história mais cotidiana, mas os gêmeos se esqueceram que pessoas comuns são geralmente muito chatas, motivo pelo qual na ficção os personagens nunca são 100% comuns (e se são, sempre possuem traços exagerados)
A arte é boa, não posso negar. Mas ela não agrega muito à história; na verdade, qualquer desenhista poderia ter ilustrado aquela história, bom ou ruim a arte não influenciaria em nada; não sei por que um belo texto no final da HQ sobre os autores quis deixar tão claro que eles eram gêmeos e que faziam tudo juntos. Aliás, as 3 últimas linhas deste texto que fala dos dois é muito melhor que a história inteira!
As pessoas perguntam (e me perguntam mesmo, meu formspring que o diga) porque HQs brasileiras não dão certo, o que falta, etc. Infelizmente, o que falta ainda é qualidade. Quando a arte é simplesmente espetacular, como em Mesmo Delivery, a história é ruim (tá, não é terrível, mas é ruizinha); quando a história é excelente, a arte não contribui. Poucas HQs conseguem aliar todos os elementos que fazem uma boa hq e executá-las com qualidade. Não adianta ter apenas vontade, é preciso entender de contar histórias, de HQs, de arte sequencial, de enquadramento, de aliar a narrativa à arte, tornando texto e desenho essa coisa única que é chamada histórias em quadrinhos.
Eu sei que vocês vão dizer: “Eles estão pouco se lixando, estão famosos, então o que você diz não tem nada a ver, etc, etc, porque se todo mundo elogia é porque é bom”. Pode ser. Pode ser que eu esteja terrivelmente errado (não seria a primeira vez) e a história seja um primor de qualidade da qual não tenho capacidade ou sensibilidade para entender nem para perceber as sutilezas e nuances entre e sobre os personagens. Mas enquanto ninguém me convencer disso, vou continuar achando que Fábio Moon e Gabriel Bá, apesar de esforçados (e não tiro este mérito, pois publicar quadrinhos no Brasil é realmente um esforço admirável), foram altamente superestimados.
Nota: 5,5