Antigamente, a tartaruga tinha o casco liso como casca de cabaça. Nessa época, Kame-san, o sr. Tartaruga, vivia num pequeno lago. Quando chegou o verão, a água foi baixando e baixando, devido à seca. Preocupado, o sr. Tartaruga ficava horas e horas olhando para o céu à procura de uma nuvem carregada de chuva. Mas o tempo foi passando e nada de chover.
Certo dia, o sr. Tartaruga viu Tsuru-san, o sr. Garça, nas margens da lagoa e aproximou-se dele.
– Tsuru-san, você, que vive voando nas alturas, será que não viu nenhuma nuvem chuvosa vindo para essa direção?
– Sabe, Kame-san, o céu está azul de ponta a ponta. Nenhuma nuvem à vista, nem chuvosa, nem branca.
– Tsuru-san, estou preocupado. Se a seca continuar, a lagoa vai secar, e eu não vou sobreviver por muito tempo. O que devo fazer?
– Olha, Kame-san, essa lagoa é pequena e tem pouca água. Se a seca continuar, ela será a primeira a secar até o fundo. Você deve se mudar para uma lagoa maior enquanto é tempo.
– Mas Tsuru-san, será que existe alguma lagoa grande nas proximidades?
– Bem… Se você atravessar aquela montanha, do outro lado encontrará uma grande lagoa, cinco ou dez vezes maior que esta. Lá, moram cerca de 20 tartarugas, que vivem nadando folgadamente, levando a vida que pediram a Deus. Aquilo sim é um bom lugar para você.
– Eu gostaria de mudar para lá. Mas tenho os pés curtos e levaria alguns anos para atravessar a montanha. Se fosse na estação da chuva, poderia agüentar bastante tempo; porém, em tempo seco como esse, creio que seja impossível eu agüentar até chegar do outro lado da montanha. Oh, como sou infeliz! Queria tanto ir para lá, mas não vejo como.
– Se você realmente quer ir até lá, podemos carregá-lo através da montanha.
– Realmente, Tsuru-san, isso é possível?! Eu imploro, leve-me até a grande lagoa!
O sr. Garça abriu as asas e começou a gritar: “kuwaa, kuwaa!”. Ele estava chamando outra garça. Não passou muito tempo, outra garça veio voando através da montanha e pousou no pequeno lago.
Tsuru-san então pegou no bico um galho seco e levou-o para a frente da tartaruga.
– Tudo bem, Kame-san, morda a parte do meio deste galho e segure-se firmemente. Eu e meu amigo vamos morder nas extremidades do galho e levantar vôo em direção à grande lagoa.
Assim, a tartaruga travou os maxilares em torno do galho, e as garças, batendo as asas, levantaram vôo no sentido da montanha.
No caminho, sobrevoaram uma aldeia de lavradores no pé da montanha. Algumas crianças da aldeia viram a tartaruga pendurada no galho e duas garças carregando-a. As crianças acharam engraçado e riram para valer. Apontando para tartaruga voadora, gritavam:
– Olha que tartaruga maluca, está tentando voar como as garças!
– Que tartaruga ridícula, pendurada pelo pescoço, até parece cabaça achatada.
Kame-san ficou irritado e gritou:
– Garotos mal-educados!
Porém, ao abrir a boca para gritar, o sr. Tartaruga desprendeu-se do galho e caiu em queda livre em direção ao solo. Espatifou-se no chão de costas. Se seu casco não fosse duro, teria morrido; porém, com o impacto, o casco ficou com várias rachaduras. Por isso, até hoje o casco da tartaruga é todo fragmentado.