Há alguns posts eu falei sobre a boa qualidade de uma série global, Som & Fúria, e de como se pode sim fazer seriados de qualidade no Brasil que fogem do gênero batido das telenovelas.
Bem, acho que é interessante notar que poucas são as opções de dramaturgia voltada ao publico jovem. Enquanto aqui no Brasil aparentemente ficamos restritos as rasas e insípidas tramas de Malhação (o único lugar aonde adolescente toma suco de manga e açaí dentro da balada), a produção internacional traz séries como Gossip Girl, One Tree Hill e o fantástico britânico Skins.
Realmente, há de se convir que a novelinha da Grobis não é lá grande representante da categoria.
Houve tentativas (bastante pífias) de produzir um programa voltado ao publico jovem. Mas todas ficaram sendo apenas genéricas de Malhação sem muita personalidade – ou qualidade.
Até que surgiu Descolados.
Não se engane pelo titulo massa véio. A série passa longe das gírias pop-chiclete-boboca que normalmente permeiam as produções brasileiras adolescentes. Alias, utilizar o termo adolescente aqui é errado. Os protagonistas são jovens adultos. Muito diferente dos trintões que fazem papel de pirralhos (alguém falou Clark Kent?).
A qualidade e facilidade de reproduzir a vida real desses garotos se dá principalmente pelo fato da serie ser produzida pela MTV. Ao contrario das redes família (Globo, Sbt, Record, Band, Rede TV), a music television brasileira tem um público especifico, apresenta sua programação para um nicho formado.
E isso, meu amigo, faz toda a diferença.
Descolados contra a estória de Lud, Felipe e Teco. Os três não se conhecem, não são amigos. Começam a historia como três desconhecidos, que tem suas vidas cruzadas pelo exato momento no qual vão ter que aprender a ser adultos.
Lud, a única menina do trio, dividia o apartamento com um amigo. Porém, do nada, o cara se manda pro Rio e a deixa a ver navios, com as despesas de aluguel totalmente por sua conta.
Felipe, um garoto vindo do interior para ser modelo em São Paulo, mora com a namorada. Do nada o garoto toma um senhor pé na bunda, ficando sem garota e sem lugar pra morar.
Teco estava indo morar em Londres, quando na inspeção do aeroporto, um baseado é encontrado em suas coisas e ele é mandado de volta para o Brasil – fato que seus pais não poderão saber de forma alguma!
E os revezes do destino fazem o trio se encontrar e acabam por ir dividir o apartamento de Lud, no centro da capital paulista.
Os três recém conhecidos amigos agora vão lutar para enfrentar o dia a dia da vida adulta na qual caíram de pára-quedas. Não querem voltar para a família, não querem regredir ao estado de adolescentes.
Bom, resumidamente, esse é o plot. Mas a quantidade de coisas que podem ser ditas excedem o espaço que tenho aqui.
A começar pelos protagonistas. Desconhecidos do grande publico, isso se torna uma cartada ideal. Renata Gaspar, Marcelo Lourenço e Thiago Pinheiro fogem do estereotipo Malhação, de jovens sarados e cheios de marra, sendo pessoas que você poderia conviver. São jovens comuns, e essa originalidade transparece nas atuações, criando uma catarse com a audiência.
As historia seguem o cotidiano de qualquer um de nós, que passou ou esta passando por essa fase.
Há bebida, festas, baladas, drogas, sexo (e muito), duvidas, anseios, medos. Não consigo encontrar nada que seja feito com boçalidade ou um argumento fraco. É um programa feito pra um publico especifico, que pode sim chocar pessoas mais conservadoras. E não é isso que prova sua qualidade? Descolados foge do lugar comum das produções nacionais, dá seu recado com qualidade e competência, dribla preconceitos e não choca apenas por chocar nem tenta ser polêmico sem razão.
O fato de ser exibido na MTV, não há preocupação quanto à censura ou aos preceitos estabelecidos pela massa. Resumidamente, não há tias beatas que vão dizer que a série está deturpando a moral da família brasileira e incentivando os adolescentes a cometerem atos pouco cristãos. Liberdade criativa aliada a talento e criatividade. Não tem como uma receita dessas dar errado.
É um exemplo a ser seguido na dramaturgia nacional, o primeiro seriado do gênero que realmente se prova capaz de dialogar com sua audiência e estampar essa fase da vida como ela é (um brinde a Nelson Rodrigues). Sem demagogias, sem exageros, sem hipocrisia e com muito humor.
A série passa na MTV toda terça, às 23h30min e reprisa aos domingos.
A primeira temporada terá 13 episódios. Nessa semana, o quinto foi ao ar.
Se você perdeu os cinco primeiros e quer acompanhar a série, não tem problema. Dá uma curtida que no Youtube tem os episódios que já passaram: clica aê!
Bom, eu recomendo com veemência uma espiada.
Um abraço e até o próximo episódio!