Com o gesto severo – o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: “Ó tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais:
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?”
E o Corvo disse: ‘Nunca mais.’”
Na literatura, assim como em qualquer forma de arte, existem três tipos de autores: Os que estão entre os melhores, todo o resto e aqueles sem os quais o próprio gênero onde eles estão inseridos não existiria – pelo menos não da forma que é hoje. Edgar Allan Poe se encontra no último tipo, figurando provavelmente na primeira posição.
O Romancista, escritor, poeta e crítico literário e editor é uma das personalidades mais importantes no mundo artístico – principalmente para o gênero de terror-, e grande influência para um sem-número de personalidades e histórias, seja na literatura, cinema, quadrinhos, música ou arte em geral.
Apesar disso, nem tudo foram flores para Poe – Aliás, nunca foram. Sua vida foi uma seqüência de eventos e incidentes tão trágicos, sinistros e bizarros quanto suas histórias.
Abandonado pelo pai, o ator David Poe Jr., e tendo perdido a mãe para a tuberculose ainda pequeno, Poe foi acolhido pelo casal Francis e John Allan, este um bem-sucedido mercador de tabaco, que nunca adotou o autor legalmente, apesar de ter lhe dado o seu sobrenome.
Entre desentendimentos com o padrasto, o alistamento nas forças armadas e a morte da madrasta Edgar Allan Poe publicou seus dois primeiros trabalhos. No entanto, teve o repúdio do padrasto ao ser expulso da academia militar por desobedecer ordens até o fim da vida deste.
Morou com a tia viúva e casou-se em segredo com a prima de 13 anos. Mais tarde, a tia fora acometida da mesma doença que matara sua mãe biológica – tuberculose – e passou um bom tempo vivendo em completa miséria.
A Tuberculose provou-se uma terrível maldição para Poe. Alguns anos depois, descobre-se que sua esposa sofria de tuberculose, o que acabaria levando-a, eventualmente, à invalidez e a subseqüente morte. Isso levou Poe ao consumo excessivo de álcool, onde acabou por mudar-se de cidade e de emprego. Foi durante esse período que Poe publicou seu poema mais famoso, “O Corvo” (The Raven) – que no Brasil teve uma tradução adaptada por Machado de Assis.
“Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
‘É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais.’.”
As obras de Edgar Allan Poe são marcadas pelo terror psicológico e pelo caráter gótico de sua narrativa, mas muito de suas histórias são na verdade inspiradas em seus próprios medos e em sua própria vida.
Berenice – Edgar Allan poe
Poe tem também um considerável número de conhecidos e celebrados contos analíticos policiais, mas apesar disso, seus trabalhos mais lembrados são voltados à literatura de Terror e mistério. O que não surpreende, uma vez que sua própria vida sempre foi marcada por coincidências e eventos estranhos até sua morte.
Na próxima Madrugada:
O que realmente aconteceu com Edgar Allan Poe? Que circunstâncias estranhas rondam sua morte? Teria o autor tido o memso destino dos personagens de suas histórias? Descubra na próxima semana, Quando a vida imita a arte.