Uaréva! Uaréview Uaréview: The Mask You Live In

Uaréview: The Mask You Live In


“Seja homem. Não chore. Emoções são para meninas. Beba mais. Transe mais. Brigue. Não seja uma bixinha. Não chore. Não diga eu te amo. Seja homem.”

A Netflix tem sido um celeiro bom pra encontras produções fora do padrão que vemos na televisão, não só em termos de puro entretenimento como também informativo e que gerem discussões saudáveis para nossa sociedade. Foi na busca por esse último ponto que cheguei ao documentário The Mask You Live In (A Máscara em que Você Vive em tradução  livre, 2015)

Sinopse: Documentário sobre a pressão da sociedade sobre aquilo que pode ou não ser considerado “masculino” e como isso pode afetar os nossos jovens. Em comparação com as meninas, pesquisas mostram que os homens dos EUA têm maior probabilidade de ser diagnosticado com um distúrbio de comportamento. Com depoimentos de especialistas, a pergunta que fica é “O que podemos fazer para mudar esses padrões?”.

O documentário foi realizado pela diretora Jennifer Siebel Newsom, mesma de Miss Representation que debate a falta de representação das mulheres em posições de poder. Aqui a diretora se aprofunda na cultura machista que cria homens com desvios comportamentais e castra o psicológico e emocional de garotos de todas as idades, cores e gêneros.

Todos sabemos como em nosso mundo desde sempre homens são criados para valorizar a violência, a falta de expressão de sentimentos, o desprezo pelas mulheres e a ideia (imbecil) que homem tem que ser superior as mulheres e a seus iguais de sexo biológico. Uma construção cultural transmitida de geração em geração e que provoca, entre outros problemas, o alto índice de feminicídios (crime de ódio baseado no gênero), assédios, estupros, suicídios e outros males.

 

O filme lança uma interessante pergunta de reflexão:

Quando foi a primeira vez que você ouviu “seja homem”?

É uma questão forte, intensa, que nos leva diretamente para a tenra infância quando ao chorarmos ou sermos carinhosos temos pais que rapidamente cortam isso em nós pelo medo (também imbecil) de que vamos “virar gays” por isso e que emoções são coisa de mulher. Sem contar a visão de que homem tem que ser o mulherengo que só quer saber de exibir suas conquistas para os outros.

Lembro quando meu pai me veio com coisas desse tipo por volta dos meus 13, 14 anos, a frase “e ai, já pegou?” direcionada a uma colega de escola me deu uma repugnância que na época não sabia bem o que era, mas hoje sei que era já o repúdio a esse machismo enraizado. E muitas vezes por não seguir esse padrão me vieram as “acusações” de ser gay, de adorar andar com “meu macho” (afinal, homem não tem amigos próximos, só colegas, não é?).

Ao longo de sua uma hora e meia o documentário nos propõe a desconstrução desses ideias na busca por uma sociedade mais saudável, justa e igual sem usar de subterfúgios panfletários. Tudo nos é mostrado somente com depoimentos, relatos fortes dos traumas e situações que tal comportamento cria em crianças, adolescentes e homens adultos.

É um caminho longo, muitas vezes difícil de se desconstruir em nós, nos outros e no mundo, mas é uma estrada que devemos tomar, pois, o mundo ruma pra um caos muito por conta dessa cultura que nos é empurrada desde antes de nascermos (“é rosa ou azul a roupinha do bebê?”). Um filme mais do que recomendado!

Confira o trailer legendado:


Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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