Uaréva! Uaréview Uaréview: Fragmentado

Uaréview: Fragmentado


Quando surgiu em Sexto Sentido, M. Night Shyamalan se tornou a maior referência em filmes de suspense por muito tempo. Emplacando sucesso atrás de sucesso, o diretor e roteirista provavelmente deixou a fama subir a cabeça e começou a ficar pretensioso demais em suas obras, o que levou a fracassos retumbantes tanto de qualidade quanto de bilheteria.

Após passar pela TV com a série Wayward Pines como diretor, o cineasta lançou um filme de baixo orçamento, mas com qualidade considerável, chamado A Visita em 2013. Agora, ele retornou com toda sua força em um thriller envolvendo psiquiatria, abuso, sequestro e uma discussão sobre os limites da mente humana.

Sinopse: Kevin possui 23 personalidades distintas. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento, vivendo em cativeiro elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.

Fragmentado é um filme que tem como grande trunfo a criação de uma ambientação de suspense e tensão constante, mesmo que siga alguns clichês básicos de filmes desse gênero. Temos as meninas sequestradas com personalidades padrão, e, logo, destinos previsíveis se você já é acostumado com o tipo de filme que se constrói a sua frente; a pessoa de fora que poderia ter ajudado mais se tivesse simplesmente ligado pra polícia e inclusive sequenciais básicas de tentativa de fuga e erro. Contudo, os clichês são sobressaídos pelos detalhes preparados pelo diretor e, principalmente, pela grande atuação de James Macvoy que interpreta personalidades diferentes do mesmo personagem com incríveis diferenças e sutilezas. Provavelmente seja a melhor performance do ator até o momento no cinema, não me surpreenderia nada se fosse indicado ao Oscar por ela.

Outra coisa bem interessante de se ver é como o filme aborda o tema do abuso infantil e suas consequências, e aqui abuso de diversas formas, seja sexual ou puramente psicológico. Acho importante levar para obras de gêneros que geralmente são mais superficiais sobre problemas reais essas discussões e percepções sobre o quanto danos na infância podem atrapalhar a vida juvenil e adulta de uma pessoa. Seja em ser desconfiado, distante e alerta por medo constantemente, quanto a vontade de machucar outras pessoas como uma forma de espantar seus demônios.

É bom também ver que o Shyamalan deixou mais de lado sua megalomania que levou sua carreira para um limbo de criatividade e qualidade e apostar na tensão que poucas locações e um ar de filme B podem dar. Fragmentado segue bem o aprendizado de seu filme anterior, A Visita, que usa de poucos personagens, uma situação confusa e estressante para nos prender até o fim no mistério e desejo de ver como tudo irá terminar. E falando em final, o desse filme deixa qualquer fã do trabalho do diretor empolgado para o próximo filme dele e a continuação de algo fantástico.

Ah, um aviso: Não contém o final do filme! 🙂

Nota: 8.5

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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