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Uaréview: Luke Cage


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No inicio da década passada a Marvel Comics decidiu sair de vez do espírito Image Comics que foi marcada nos anos 90 e trazer histórias mais pesadas, adultas, falando de problemas da atualidade usando seus heróis clássicos. O selo Marvel Max nos trouxe novas roupagens para personagens urbanos já bem conhecidos e nessa safra reinventou um criado nos anos 1972: Luke Cage, o herói de aluguel.

Nessa minissérie vemos Cage menos como super-herói e  mais como guarda-costas de todo o bairro, integrado a comunidade e resolvendo problemas que lhe pedem para resolver. Na série da Netflix, Luke não começa nesse ponto, mas ao longo da sua primeira temporada podemos vislumbrar o que o Powerman pode se tornar no futuro.

Uma das coisas que mais me passou pela cabeça a medida que ia assistindo o seriado foi como ele se difere das outras produções conjuntas da Marvel com a Netflix. Em Demolidor temos histórias mais dinâmicas no sentido de que muita coisa acontece ao mesmo tempo e num mesmo episódio, afinal, é uma história mais heroica, voltada bem mais a ação. Já Jessica Jones foi algo mais de foco na protagonista em si, buscando trabalhar mais o psicológico aliado a ação.

mahershala-ali-cottonmouth-luke-cageLuke Cage não deixa de ter a ação física que tanto gostamos, mas isso tenho que dizer que não é tão impactante como na série do Audacioso, até porque Cage não é alguém tão ágil como Matt Murdock, sendo mais um “tanque de guerra” que sai derrubando tudo. Contudo, para mim, a série na verdade fala não sobre um homem poderoso derrubando a tudo e a todos com sua força – como é comum de superaventuras. Todo o clima, da música, dos cenários, da fotografia nos traz a realidade e o tom do universo negro americano mais do que do próprio protagonista. Cage chegou ao Harlem a pouco tempo, ele ainda não é o Harlem como a abertura sugere e vemos isso a todo momento em sua jornada.

A série constrói com calma e de forma satisfatória todo um ar “blaxploitation moderno” com os diálogos sobre a história dos negros na América do Norte, com a trilha totalmente black, com as intrigas ideológicas e políticas que mesmo décadas depois do auge dos conflitos dos anos 60/70 ainda são forte naquele país. Lucas só quer viver escondido na dele, longe de confusões como qualquer protagonista em inicio de história, o caos e confusão das ruas não lhe interessa.

Luke Cage é uma produção até bem clichê, mas um clichê bem feito, redondinho, trabalhado com primazia – o que por si só já é um grande feito em tempos de obras “épicas” que erram feiosamente nesses aspectos. Como venho dizendo, é um clichê que consegue fazer você seguir vendo o seriado, diria até que essa é a série que mais dá para se ver sem fazer uma maratona, um episódio por dia por exemplo, por não se basear em cliffhanger, ganchos que nos fazem correr pra ver o próximo. Gostei bastante disso, pois, me senti lendo a Marvel Max novamente.

Diria que a única coisa que me incomodou nos 13 episódios foram os momentos previsíveis, pelo menos eles são recompensados por algumas boas reviravoltas. Dizer ainda que isso das séries da Netflix terem 13 episódios tem atrapalhado um pouco o andamento das produções, que poderiam fechar tranquilamente em 10 (como Game of Thrones faz de forma magistral atualmente), ainda bem que em Cage não temos aquela “barriga” gigante que Jessica Jones tem.

Outra coisa de diferente das outras series anteriores é que ela não tem uma infinidade de bordões virais (pra não dizer que não tem completamente, temos sempre um bom café pra tomar), não tem vilões super impactantes como os outros, mas é o trabalho mais maduro narrativamente falando dessa parceria de produtoras.

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Imagino que quem adorou Demolidor só pela sua ação desenfreada e momentos impactantes, não vai gostar de Luke Cage, mas para quem (como eu) já curte histórias nessa ambientação (The Get Down feelings) e que usa da “lentidão” narrativa para fazer algo mais aprofundado vai curtir. Inclusive, é de um impacto e uma escolha acertadíssima colocar um elenco praticamente completo de negros, e, vale salientar, com mulheres fortes em posições fortes de status social e de personalidade – destacando Misty Knight (Simone Missick), em uma interpretação e construção como nunca vimos nos quadrinhos e para entrar no Hall de melhores personagens da Marvel em seu universo audiovisual, e que bom que ela estará em Os Defensores.

Sobre os personagens em si, destacaria, como sempre, Rosario Dawson (Claire Temple) sendo a parceira e “guia espiritual” de Cage, além de Frankie Faison (Pops), o pai postiço que todo mundo queria ter, e a dupla Mahershala Ali (Cornell “Cottonmouth” Stoke) e Alfre Woodard (Mariah Dillard), trazendo bem a dualidade para os “vilões”. Mike Colter (Luke Cage) consegue defender bem seu personagem, assim como já fazia em Jessica Jones, dando seriedade e  humor adequados quando preciso. Ele não é lá um grande ator, tenho que confessar, seus momentos de drama as vezes soam falsos como uma certa barba, mas nada que prejudique a história.

No final de tudo, Luke Cage é uma boa série, não chega no nível das temporadas de Demolidor, mas é mais bem planejada e realizada que Jessica Jones. Uma ode a força do povo negro e a união das pessoas para melhorarem o mundo em que vivem.

 

Nota: 9.0

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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