Uaréva! Uaréview Por Dentro das Guerras Secretas #1: Dinastia M

Por Dentro das Guerras Secretas #1: Dinastia M


SECRET WARS

No ano da graça de 2015 teremos uma nova enxurrada de megasagas nas duas principais editoras de quadrinhos americanos de super-heróis. Ambas buscando redefinir seus universo de histórias para uma mudança “como nunca se viu” (sic).

A grande saga da Marvel será um retorno a sua “grande” saga dos anos 80: Guerras Secretas, só que ao invés de uma batalha entre alguns personagens como no original, teremos diversos heróis e vilões de diversas realidades alternativas para se digladiar em um planeta criado somente para isso. Apesar de ser uma história puramente caça níquel e com fins de corrigir questões cronológicas, as novas Guerras nos dão a possibilidade de relembrar algumas boas histórias alternativas da editora. Uma dessas  é a Dinastia M.

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[CONTÉM SPOILERS]

Dinastia M (Roteiros: Brian Bendis / Desenhos: Olivier Coipel) foi uma minissérie em 8 edições lançada em 2005 pela Marvel Comics envolvendo os Novos Vingadores e os X-Men. Tudo acontece logo após Vingadores: A Queda, história na qual a Feiticeira Escarlate perde o controle de seus poderes e acaba matando o Gavião Arqueiro, o Visão e causando o fim da equipe.

Na sua primeira edição vemos os X-Men e os Vingadores decidindo o que fazer com Wanda, seu irmão Pietro se encontra com o pai de ambos, Magneto, na cidade de Genosha para tentar salvar a vida dela, recebendo uma negativa de Magnus. Entretanto, quando os heróis chegam para encontrar Wanda eles veem um clarão que encobri todos. Logo em seguida, Peter Parker acorda confuso em seu apartamento e uma grande novidade para seus leitores.

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Na segunda edição já nos deparamos com um mundo totalmente novo: Peter é casado com Gwen, a Miss Marvel é uma grande heroína, Magnum aparece em uma entrevista com Cristal em seu programa de TV, Ciclope está casado com Emma Frost, Sam Wilson é um detetive que tenta descobrir os segredos do revoltoso Luke Cage e sua gangue de humanos e Wolverine faz parte da SHIELD sendo companheiro de Jessica Drew, Groxo, Mística, Vampira e Noturno, mas continua com todas as memórias  da vida na antiga realidade.

A partir dai a história seguiu o roteiro comum das sagas dos quadrinhos e tantas outras ficções por ai. Heróis buscam descobrir a verdade, encontram um elemento que revelará tudo (no caso a mutante Layla Miller, criada como Deus Ex Machina dentro da minissérie), criam um plano de ataque e partem para cima de Magneto e seus filhos, resultando em briga generalizada e a descoberta de que Wanda só criou aquela realidade induzida por Pietro. E no final vemos a bela cena do Gavião Arqueiro sendo desintegrado pelo poder da Feiticeira e a pronúncia da famosa frase No More Mutants.

Em retrospecto, Dinastia M aparentemente não é tão relevante para o presente da Marvel, mas trouxe algumas coisas interessantes de serem ressaltadas. Pela primeira vez tivemos de fato uma exploração de um universo inteiro no qual os mutantes não fossem perseguidos e como a grande maioria da população mundial ter superpoderes influenciaria no cotidiano das pessoas. Infelizmente, minisséries sempre são focadas na resolução do problema e geralmente acabam sendo corridas demais para trabalhar mais as possibilidades de uma realidade assim. Nesse ponto, dou destaque a alguns tie-ins nos quais podemos ver melhor a reverberação da mudança feita pela Feiticeira.

Pantera Negra 07

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Aqui vemos uma África repartida entre Tchalla, Victor Von Doom, Ororo, Raio Negro e Sunfire e sendo atacada por Apocalipse sob ordens de Magneto, depois que Tempestade questiona a forma intolerante e preconceituosa que Magnus trata os humanos e, de forma velada, os mutantes com deformações físicas. Apesar da edição cair no ponto da ação heróica, esses questionamentos mesmo que rápidos dão uma boa tônica de como aquele novo mundo se comporta.

Homem-Aranha Dinastia M #1 a #5 

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Um dos personagens que mais tiveram mudanças com certeza foi o Peter Parker. Nessa realidade ele é um lutador famoso, casado com seu primeiro amor, com um filho, seu Tio Ben é vivo, pode humilhar J. J. Jameson todo dia e tudo por ser mutante, quer dizer, fingir ser mutante. Esse tie-in faz uma verdadeira releitura da mitologia do aracnídeo, recolocando vilões em novas posições e mostrando o quanto será difícil para o personagem ter que se desfazer do que tem ao voltar para a realidade normal. Levando o velho lema “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” a outro ponto.

Exilados #69 a #71

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É em Exilados que vemos mais as novas dinâmicas que a Dinastia M trouxe a vida da população em geral. Logo de inicio a revelação da existência de um serial killer mutante, o estrelato que mutantes tem em diversos campos, sua superioridade por conta da raça até em coisas simples como entrar em uma boate e a constante vigilância a la 1984 com os Sentinelas a postos em todos os lugares. Outro ponto tocado é como um grupo social oprimido em um dado momento pode acreditar completamente que está fazendo o certo quando ele é o opressor, ou pior, acreditar que aqueles que ele oprimem não são realmente oprimidos.

Capitão América #10 

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O “o que aconteceria” mais esperado da Dinastia M era o que afinal acontece com o Capitão América em um mundo ditatorial mutante. Ed Brubaker nos mostra que na perfeição imaginada por Wanda Maximoff, Steve Rogers não morreu na guerra, passou por todo o século XX vivo só para ver o que ele salvou nos anos quarenta cair na mão de outro governante com ideais xenofóbicos. Nessa edição, Brubaker coloca uma afirmação muito forte sobre a gênese humana: nós sempre estaremos procurando o que caçar, destruir e controlar. Steve deixa de ser o Capitão pela perseguição aos comunistas do regime Macartista dos anos 50, depois perde credibilidade por simpatizar contra a perseguição ao mutantes e, por fim, é deixado de lado e atacado por ser um humano normal num mundo de mutantes superiores.

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Os Sentinelas dessa realidade são visualmente muito bonitos, minha versão preferida

No fim, a Dinastia M se mostrou como uma interessante realidade alternativa que é pouco explorada, caindo no conceito comum de briga entre heróis. Para muitos é ruim, dispensável, mas eu acredito que ela traz uma boa ideia que a Marvel nunca teve a coragem real de por em prática, e suas consequências: e se os mutantes vencem-se a guerra contra os humanos?

 

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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