Uaréva! Uaréview O Gato Por Dentro (William Burroughs)

O Gato Por Dentro (William Burroughs)


William Burroughs

“Somos os gatos por dentro. Os gatos que não podem andar sozinhos,
e para nós há apenas um lugar”
(William Burroughs)

Quando li o título dessa obra de William Burroguhs (05/02/1914 – 02/08/1997) imaginei que deveria ser um relato só sobre a convivência com esses animais felinos domésticos, mas, ao me debruçar sobre as 112 páginas da edição da L&PM, o que encontrei foi algo além de simples relatos: uma interessante reflexão não só sobre gatos, mas sobre o próprio ser humano.

O autor inicia a obra falando de como não tinha contado com gatos, e como não sabia nada deles até que, de férias em uma casa com celeiro, encontrou uma mãe felina e seus filhotes. Pouco a pouco, um deles em especial foi adentrando sua rotina. A partir desse ponto, somos apresentados a vários gatos que passaram pela vida de Burroughs e como o influenciaram a perceber melhor as nuances animais e, consequentemente, a crueldade humana em relação a eles.

O livro conta desde a ação de comprar ração em uma loja até o desdém pelos cachorros, que ele deixa claro não ser ódio pelos caninos, indo à revolta contra caçadores britânicos, egípcios, totens e relações místicas dos humanos com os gatos. O autor vê os pequenos felinos de ângulos tão diversificados que chega a surpreender em alguns momentos, como quando ele declina-se a falar de gatos que voam e planam; elétricos, “aquáticos com membranas entre os dedos”, gatos do pântano, pequenos lêmures, escarlates, laranjas, verdes e uma infinidade de versões vindas de um criativo mundo das ideias.

O Gato Por Dentro é uma obra não só para amantes dos felinos que correm por todos cômodos de uma casa e bagunçam latas empilhadas, mas, talvez principalmente, para os que não se interessam tanto por eles (culpado!), para que possam, assim, quem sabe, nutrir pelo menos uma curiosidade pelo cotidiano desses seres peludos que há milênios adentram, sem serem convidados, por portas entreabertas.

gato_por_dentro__o_9788525415264_mColeção: POCKET, V. 547
Autor: BURROUGHS, WILLIAM
Idioma: PORTUGUÊS
Editora: L&PM EDITORES
Páginas: 112
Edição: 1
Ano: 2006
Preço: R$ 13,90 (em papel) e R$ 6,65 (digital)

VIDA E OBRA DO AUTOR

Nasceu em 1914, em St. Louis, Estados Unidos. Na década de 1940 mudou-se para Nova York, onde iniciaria sua carreira literária e faria amizade com Jack Kerouac e Allen Ginsberg, entre outros escritores beat. Teve inúmeras experiências com alucinógenos: foi viciado em diversas drogas, incluindo morfina, e por vezes traficou narcóticos (e foi preso por isso). Em 1951, matou sua mulher em um acidente com arma de fogo, o que ele próprio mais tarde reputou como experiência definidora para sua carreira de escritor.

Escreveu os romances autobiográficos Junky (1953, publicado sob o pseudônimo de William Lee), em que explora suas experiências com a heroína, Queer (escrito na primeira metade da década de 50, mas publicado apenas em 1985), sobre o homossexualismo, e Naked Lunch (Almoço nu). Este último é muito mais radical em suas inovações estilísticas e foi publicado primeiramente na França, em 1959. The Yage Letters (Cartas do Yage), de 1963, traz a correspondência mantida com Ginsberg enquanto Burroughs viajava pela América do Sul na busca do yage, também conhecido como ayahuasca.

Após uma temporada na Europa, Burroughs voltou para Nova York no início da década de 1970, onde passou a lecionar e conviver com intelectuais e artistas como Andy Warhol e Susan Sontag. Na década de 1980, era visto como um gigante contracultural: tanto sua personalidade quanto sua obra viraram referências. No final da vida, mudou-se para Lawrence (Kansas), onde morreu, em agosto de 1997. É autor, também, da trilogia Cities of Red Night, The Place of Dead Roads e The Western Lands, entre outros livros. Ele amava gatos. The Cat Inside (O gato por dentro) foi primeiramente publicado em uma edição limitada, com desenhos de Brion Gysin.

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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