Princesa Amazona – Parte 3

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Após ser acusada de lesbianismo, fetichismo e sadomasoquismo, a vida da Mulher Maravilha tem uma grande reviravolta quando a heroína renuncia seus poderes pelo amado Steve Trevor e deixa de ser a Mulher Maravilha que conhecíamos. Graças às suas fãs do mundo real, e a série de TV que a tornou ainda mais popular, Diana pôde finalmente voltar a ser a Mulher Maravilha que sempre conhecemos.

“Enquanto isso, na banda desenhada…” é uma seção que traça um paralelo entre o universo real e o mundo dos quadrinhos, analisando como as duas realidades afetam uma à outra, trazendo informação e estimulando a reflexão acerca dessa 8ª arte.


Novas – e velhas – Mulheres Maravilha

Os anos 80 foram os anos da revolução dentro da indústria dos quadrinhos, por vários motivos. Foi a época em que os quadrinhos amadureceram, trazendo personagens mais interessantes, personalidades mais verossímeis e um mundo menos bidimensional. Foi através desse amadurecimento das histórias em quadrinhos que os autores e editoras começaram a enfrentar o Comics Code Authority e esse fantasma ditatorial que pairava sobre a indústria começava a perder sua força.

Nesta época, Mulher Maravilha havia retornado às suas raízes, voltando a ser a heroína que os fãs conheciam. Mas a tranqüilidade de Diana não duraria muito tempo.

Em 1985 todos os universos estava ameaçados. Tudo isso por conta de uma névoa branca, chamada de “Entropia”, capaz de destruir universos inteiros e que estava chegando aos principais universos da DC Comics. Essa foi a base de Crise nas Infinitas Terras, megassaga em 12 edições (no Brasil ela foi espalhada entre os títulos mensais da época), que visava ser um épico de proporções nunca antes vistas nos quadrinhos, além de uma forma de reiniciar o universo DC, que se encontrava num período difícil e confuso com tantas terras e versões diferentes de seus personagens. A saga foi uma forma de remodelar as histórias da editora, fazendo as histórias da DC acontecerem em um único universo coeso onde todos os personagens coexistiriam.

Assim, após a saga, heróis menos populares poderiam ser apagados da existência, heróis com baixas vendas poderiam ter mortes épicas e heróis clássicos poderiam ser reformulados para os novos tempos, já que muitos (como Superman, Mulher Maravilha e Capitão Marvel) eram considerados “antiquados”. Enquanto Flash se sacrificava para salvar o mundo para posteriormente ser substituído por seu pupilo, Wally West, a Mulher Maravilha também encarava a morte, mas de uma forma diferente. Ao invés de uma morte “normal”, Diana simplesmente desapareceu sem deixar vestígios para, no desfecho da saga, descobrirmos que a heroína fora arremessada de volta no tempo, retrocedendo até voltar a ser barro novamente. Isso foi o gancho que a DC precisava para reformular a heroína, e torná-la a única Mulher Maravilha do Universo DC.

Então, sob o comando de George Pérez (argumento e arte), a história da Mulher Maravilha foi reformulada. Apesar de manter os principais aspectos de sua origem básica, havia algumas diferenças significativas que davam maior verossimilhança às histórias, que passaram a ser calcadas especificamente na Mitologia Grega. Além disso, a história passou a tratar de assuntos mais maduros e com conseqüências mais profundas.

Nesta nova versão, as amazonas foram criadas pelos deuses gregos a partir das almas das mulheres que foram mortas pelas mãos dos homens. Hipólita foi a primeira Amazona a nascer, e por isso foi considerada rainha das amazonas. Morta por seu próprio companheiro, Hipólita carregava uma criança em seu ventre quando perdeu a vida. A alma dessa criança foi, milhares de anos depois (vale lembrar que as amazonas são imortais) trazida de volta para Hipólita como um presente dos deuses. Então, hipólita criou a partir do barro uma criança, que os deuses deram a alma da criança que não nasceu, nascendo assim Diana. Nesta versão da história, Steve Trevor não cai em Temyscira. Ao invés disso, descobre-se que os deuses criaram Diana sabendo que, quando ela atingisse a idade adulta, ela teria de se aventurar pelo mundo dos homens para derrotar Ares, que nesse período estava levando os homens para uma guerra que destruiria o mundo. Usando um uniforme que carregava as cores da bandeira americana (com quem as amazonas tiveram contato no passado – ver curiosidades), Diana partiu para o mundo dos homens a fim de derrotar Ares. Sem adotar uma identidade secreta, Diana ficou no mundo dos homens como uma embaixadora de Temyscira, tentando levar a sabedoria da Ilha Paraíso para o nosso mundo. Esse primeiro arco de histórias do George Pérez é considerado uma das melhores histórias da Mulher Maravilha e até hoje é referência para as histórias subseqüentes, tanto nos quadrinhos quanto em outras mídias.

Dentro do universo DC, as mudanças também foram significativas. Mulher Maravilha não havia mais surgido na era de heróis iniciada com Superman e Batman e, consequentemente, nunca chegou a fazer parte da Liga da Justiça. A heroína chegou ao mundo dos homens e passou a fazer parte do universo DC apenas durante o crossover Lendas, onde os principais heróis da editora já estavam estabelecidos. Inicialmente, talvez tenha parecido uma boa idéia para a editora, mas essas pequenas mudanças passaram a dar diversos problemas. Primeiro porque a Mulher Maravilha fez parte da Sociedade da Justiça (equipe formada antes da Liga da Justiça) na Segunda Guerra Mundial. Se surgiu apenas no fim dos anos 80, como explicar as aparições dela numa equipe que ainda existia no universo DC? Outro grande problema foi a Moça-Maravilha, que inicialmente havia surgido bem depois da Mulher Maravilha mas agora, tendo sua própria vida junto aos Novos Titãs e não tendo sido parte da reformulação feita pelo George Pérez, como explicar que uma menina chamada Moça Maravilha existia antes da Mulher Maravilha? Em quem ela havia se inspirado, se nunca houve uma Mulher Maravilha antes dela?

Essas e outras questões começaram a complicar a vida da heroína, e só seriam corrigidas muitos anos depois.

Epílogo: Curiosidades
– A reformulação da Mulher Maravilha contava originalmente com Greg Potter nos roteiros, mas ele acabou deixando a DC após escrever a primeira edição e, para a personagem não ficar a ver navios, George Pérez assumiu o título, sendo de vez em quando ajudado por outros roteiristas;
– George Pérez deu uma explicação plausível para o uniforme da Mulher Maravilha ser tão “americanizado”. Na história, durante a segunda Guerra Mundial, a mãe de Steve Trevor, oficial das forças armadas dos EUA, acabou caindo na Ilha Paraíso (remetendo à história original da Mulher Maravlha), onde acabou se envolvendo na batalha das amazonas com uma criatura demoníaca. Apesar de ter morrido, o sacrifício dela permitiu que as amazonas vencessem a criatura. Admiradas pelo sacrifício de uma desconhecida, as amazonas desenvolveram uma armadura em homenagem à ela, feita baseada nas cores e elementos da bandeira que a mulher carregava em suas roupas (no caso, a bandeira americana). Essa armadura seria posteriormente o uniforme de Diana, usado por ela em respeito à mãe de Steve Trevor e como forma de facilitar sua estada no mundo dos homens (do qual não sabiam que era dividido em países e nações diferentes);
– A Mulher Maravilha foi “substituída” pela Canário Negro na nova origem da Liga da Justiça, que também não incluía Superman e Batman (embora eles tivessem ajudado a liga em diversas ocasiões);
– As discrepâncias entre a reformulação da Mulher Maravilha e as origens da Moça-Maravilha deram muito pano pra manga e tiveram que ser reformuladas também. Na clássica história “Quem é a Moça Maravilha”, Donna Troy (a Moça Maravilha) descobre ser um dos 12 órfãos ao redor do universo salvos pelos Titãs mitológicos para serem as “Sementes dos Titãs”, onde ganhariam poderes e se tornariam seus descendentes. Dessa forma, a história da Moça Maravilha se distanciaria um pouco da origem da Mulher Maravilha, mas voltaria a ser reformulada futuramente;
– A Mulher Maravilha e Steve Trevor originais, da Era de Ouro, ao invés de serem apagados da existência como muitos personagens da Terra 2, foram aceitos pelos Deuses Gregos no Olimpo, onde passaram a viver pela eternidade.

A seguir: As Mulheres Maravilha do passado, presente e futuro.

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